Lula fala em diálogo em 1º lugar em mundo de conflitos, e Xi defende ‘verdadeiro multilateralismo’

0
O presidente Lula ao lado do líder chinês, Xi Jinping, no Palácio da Alvorada, em Brasília
O presidente Lula ao lado do líder chinês, Xi Jinping, no Palácio da Alvorada, em Brasília – Pedro Ladeira/Folhapress

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse na quarta-feira (20) em Brasília, durante visita do líder da China, Xi Jinping, que os dois países colocam o diálogo em primeiro lugar num mundo de conflitos.

O dirigente chinês, por sua vez, defendeu o que chamou de “verdadeiro multilateralismo” e disse que Brasil e China vão estar juntos na busca de desenvolvimento, em vez de confrontação e hegemonia.

As declarações foram feitas durante pronunciamento à imprensa no Palácio da Alvorada, após assinatura de uma série de acordos entre os dois países.

“Em um mundo de conflitos armados e tensões geopolíticas, China e Brasil colocam a paz, a diplomacia e o diálogo em primeiro lugar”, disse Lula.

Em seguida, Xi afirmou: “A China está disposta a trabalhar com o Brasil para substanciar constantemente a comunidade de futuro compartilhado China-Brasil e defender firmemente o verdadeiro multilateralismo. Juntos vamos emitir a voz alta da nova era de buscar desenvolvimento, cooperação e justiça, em vez de pobreza, confrontação e hegemonia, e vamos construir um mundo melhor”.

Em sua fala, Xi também disse que o mundo está “longe de ser tranquilo” e destacou as relações comerciais entre os dois países. Lula, por sua vez, disse que a parceria firmada com Pequim “excederá expectativas e reverberará o caminho para uma nova etapa do relacionamento bilateral”.

Apesar das pressões chinesas nos últimos meses, o governo brasileiro não declarou adesão formal à Iniciativa Cinturão e Rota (BRI, na sigla em inglês) —ou Nova Rota da Seda, como também é chamado o guarda-chuva de projetos de investimentos chineses.

Apesar disso, os dois líderes assinaram uma série de acordos, ressaltando, como as duas partes vinham dizendo em declarações sobre o assunto, “sinergias das estratégias de desenvolvimento” dos dois países —incluindo a BRI pelo lado chinês, e o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) brasileiro.

Foram assinados 37 documentos, que tratam da abertura de mercado para produtos agrícolas, intercâmbio educacional, cooperação tecnológica, comércio e investimentos, infraestrutura, indústria energia, mineração, finanças, comunicações, desenvolvimento sustentável, turismo, esportes, saúde e cultura.

O ingresso brasileiro formal na Nova Rota da Seda seria uma sinalização negativa aos Estados Unidos, rival geopolítico da China e que terá na Casa Branca a partir de janeiro Donald Trump, favorável a sanções e tarifas para isolar Pequim do mercado global.

O anúncio da entrada do Brasil no projeto chinês de investimentos é há anos uma demanda da China que permeou a discussão de acordos entre os países e dividiu o governo brasileiro.

Integrantes do governo que acompanharam as negociações disseram que, no saldo geral, não seria positivo para o Brasil aderir à iniciativa, que hoje tem poucos países de peso. Além disso, nas mais recentes rodadas de conversa entre os dois países, os chineses teriam demonstrado que não seria mais tão vital a adesão à proposta, mas sim as parcerias em investimentos de diferentes frentes.

Há uma avaliação na diplomacia brasileira de que o Brasil não precisa necessariamente aderir ao projeto para acessar investimentos chineses, dada sua posição como maior país latino-americano e grande exportador principalmente de alimentos para a China —que segue pressionando para que Brasília declare entrada no projeto.

Lula e Xi também falaram na quarta-feira (20) a respeito de conflitos mundiais, mas o brasileiro não mencionou a situação no Oriente Médio. O chinês afirmou que vinha enfatizando que não existe “solução simples para assuntos complexos” ao abordar o conflito na Ucrânia. Ele afirmou que China e Brasil tinham entendimentos comuns sobre uma solução política para o conflito.

O líder chinês mencionou ainda a guerra na Faixa de Gaza, dizendo que se preocupa com a situação na região e que a comunidade internacional precisa se empenhar mais para solucionar o conflito. “Para resolver a crise atual é preciso focar na Palestina, que é a causa raiz”, disse Xi, em referência à solução de dois Estados para a região.

A questão é cara ao presidente Lula, que tem defendido um cessar-fogo no território palestino e entrou em rota de colisão com Israel desde o início do conflito, inclusive sendo declarado “persona non grata” no país.

No início da noite, Xi chegou ao Palácio do Itamaraty, onde estava marcado um jantar em sua homenagem com convidados do governo, empresários e representantes da sociedade civil. Ele foi recebido pelos líderes do três Poderes na chegada ao Itamaraty, de noite, onde recebe um jantar em sua homenagem, denotando o peso da visita do dirigente.

Em seu discurso no brinde, Lula elogiou o chefe de estado, disse que ele é uma inspiração para humanidade falar mais sobre paz e cooperação, e disse que ele é conhecido por seu “grande senso de justiça social”.

“Nossos países estão alinhados na defesa do Direito Internacional, do multilateralismo, da solução pacífica das controvérsias. O que China e Brasil fazem juntos reverbera no mundo”, afirmou ainda.

O jantar contou com a presença de integrantes do primeiro e do segundo escalão do governo, e de presidente de empresas públicas, como Magda Chambriard (Petrobras), e privadas.

O líder chinês foi recebido por Lula no Itamaraty, que em seguida o guiou para ser cumprimentado pelo vice-presidente Geraldo Alckmin, os presidentes das duas Casas do Congresso, Arthur Lira (Câmara) e Rodrigo Pacheco (Senado), e o presidente do Supremo Tribunal Federal, Luís Roberto Barroso.

A recepção a governantes ocorrida pela manhã no Alvorada é incomum —segundo integrantes do governo, o evento ocorreu no local a pedido dos chineses. O palácio é de mais difícil acesso, distante de outros prédios. A visita de Xi Jinping, que chegou da cúpula do G20 no Rio de Janeiro na véspera, envolveu questões de segurança como reservar o hotel inteiro para sua delegação.

About Author

Compartilhar

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *