Lula fala por telefone com Biden e defende divulgação de atas na Venezuela; Biden fala em ‘momento crítico para a democracia’

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Lula e Joe Biden. Foto: Ricardo Stuckert/PR

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva conversou por telefone por cerca de meia hora com o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, na terça-feira (30). O assunto foi o impasse eleitoral na Venezuela.

De acordo com o Palácio do Planalto, Lula reiterou a Biden que o governo brasileiro quer a divulgação das atas eleitorais por parte das autoridades venezuelanas. Segundo a Casa Branca, Biden também reforçou a necessidade apresentação das atas.

No comunicado da Casa Branca, Biden mencionou para Lula que a crise na Venezuela representa um momento crítico para a democracia no hemisfério.

A nota divulgada pelo governo brasileiro não fala em momento crítico.

As atas são boletins que registram os votos em cada urna e não foram devidamente apresentadas pelas autoridades venezuelanas. O governo daquele país alega problema no sistema. A oposição reivindica vitória na eleição, mas o atual presidente Nicolás Maduro e órgãos oficiais — na prática controlados por ele — dizem que Maduro foi reeleito.

A conversa foi marcada a pedido do governo norte-americano. Biden queria ouvir de Lula a posição do governo brasileiro sobre a crise política venezuelana.

“Sobre Venezuela, Lula observou que tem mantido acompanhamento permanente do processo eleitoral por meio de seu Assessor Especial, Celso Amorim, enviado a Caracas. Informou que Amorim esteve com Nicolás Maduro e Edmundo González Urrutia e reiterou a posição do Brasil de seguir trabalhando pela normalização do processo político no país vizinho, que terá efeitos positivo para toda a região. Lula reiterou que é fundamental a publicação das atas eleitorais do pleito ocorrido no último domingo. Biden concordou com a importância das divulgações das atas”, informou a Presidência do Brasil em nota.

Segundo fontes da Casa Branca, foi uma conversa amigável, e Biden manifestou preocupação de o resultado eleitoral oficial na Venezuela não refletir a vontade da maioria do povo.

“O presidente Biden agradeceu ao presidente Lula por sua liderança em relação à Venezuela. Os dois líderes concordaram na necessidade de liberação imediata de dados de votação completos, transparentes e detalhados no nível das seções eleitorais pelas autoridades eleitorais venezuelanas. Os dois líderes compartilharam a perspectiva de que o resultado da eleição venezuelana representa um momento crítico para a democracia no hemisfério e se comprometeram a manter uma coordenação estreita sobre o assunto”, afirmou o comunicado norte-americano.

Em entrevista na manhã de terça (30) à TV Centro América, afiliada da TV Globo em Mato Grosso, Lula disse que não vê nada “anormal”, “grave” ou “assustador” no processo eleitoral venezuelano.

Impasse na eleição

A eleição presidencial na Venezuela foi realizada no domingo (28).

O Conselho Nacional Eleitoral (CNE) da Venezuela, o órgão eleitoral daquele país, que é ligado ao governo, apontou a vitória do atual presidente Nicolás Maduro por 51,2% dos votos. O oposicionista Edmundo Gonzalez teria ficado em segundo lugar.

Mas a oposição alega que a eleição foi fraudada e que Edmundo, na verdade, foi o vencedor. Maduro está no poder desde 2013. Desde então, ele ganhou duas eleições, ambas acusadas, pela oposição e organismos internacionais, de não terem respeitado regras de transparência e princípios democráticos.

A falta de divulgação das atas tem sido um dos principais pontos de desconfiança em relação ao resultado das eleições. As atas são boletins que registram os votos em cada urna e que não foram devidamente apresentadas pelas autoridades venezuelanas.

O Brasil já pediu para a Venezuela apresentar as atas e aguarda, mas, até agora, nada foi feito.

Esse impasse afeta o Brasil, não só porque a Venezuela faz fronteira com o país ao norte, mas também porque Lula, no início do mandato, tentou reintegrar Maduro à política do continente e buscou influenciar o presidente venezuelano no sentindo de realizar eleições democráticas na Venezuela.

Nas últimas semanas, Maduro radicalizou o discurso, e o próprio Lula se disse “assustado”. Agora, o governo brasileiro tem que decidir que ação tomará.

Por enquanto, de forma cautelosa, o Brasil está cobrando pela divulgação das atas. Mas outros vizinhos e parceiros já contestaram o resultado eleitoral na Venezuela, como o Uruguai, o Chile e a Argentina.

Brasil e EUA cobram atas das eleições, mas governo Venezuelano pode não divulgá-las

A conversa entre o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), na terça-feira (30), ocorreu a pedido de Biden e durou meia hora.

No telefonema, ambos adotaram a mesma posição: cobrar do governo da Venezuela a divulgação imediata dos dados eleitorais completos, transparentes e detalhados para garantir um resultado sem fraude na eleição venezuelana.

Apesar da cobrança, a avaliação entre assessores dos dois lados é de ceticismo, na linha de que as atas das eleições não devem ser divulgadas pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE) da Venezuela.

Segundo informações de observadores que acompanharam a eleição nos Estados Unidos, se as atas das eleições forem divulgadas o resultado não será o anunciado pelo Conselho Nacional da Venezuela, de que Maduro teria vencido por 51,2% contra 44,2% de Edmundo Gonzalez Urrutia.

Esse, por sinal, não foi o resultado final da apuração, que até hoje não foi divulgado, apesar de Maduro já ter sido proclamado vencedor.

O autocrata Nicolás Maduro já ensaia uma estratégia para não divulgar esses documentos. Ele e seus aliados estão dizendo que a oposição destruiu sistemas da votação e que a líder da oposição, Maria Corina Machado, ficou com atas das eleições e as fraudou.

Com isso, pode argumentar que não há como divulgar as atas porque elas teriam sido destruídas pela oposição para evitar a confirmação da vitória de Maduro.

Entre assessores de Lula e do TSE, a avaliação é que, se Maduro realmente tivesse a segurança de ter vencido a eleição, as atas já teriam sido divulgadas e o resultado final também. Por isso o ceticismo dentro do governo brasileiro sobre a possibilidade de os dados das eleições virem a público.

Para a equipe de Lula, o momento agora é “compasso de espera”. Sem as atas, não dá pra seguir adiante e fazer um posicionamento sobre a eleição venezuelana. “Mas eles não estão dando sinais de que vão mostrar atas”, revelou um assessor do governo brasileiro.

A preocupação maior é que, enquanto não há uma solução para isso, os protestos se intensificam nas ruas de Caracas. E a resposta do regime de Maduro tem sido violenta, com o aumento de mortes. Até agora, já são pelo menos 11.

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