Lula montou governo de centro-direita, diz José Dirceu
Ex-ministro da Casa Civil na primeira gestão Lula (PT), José Dirceu afirmou na segunda-feira (22) que o atual presidente montou um governo de centro-direita, não de centro-esquerda.
“Quando eu falo isso, todo mundo fica indignado dentro do PT. Porque, realmente, parte do PL e do PP de certa forma estão na base do governo. Essa é a exigência do momento histórico e político que vivemos”, disse em um debate na capital paulista promovido pelo grupo Esfera.
O petista reagiu a um questionamento do advogado Luiz Gustavo Bichara, que mediou a conversa e questionou sobre a atuação de Lula como seu antecessor, Jair Bolsonaro (PL), de modo a fomentar a radicalização e falar apenas para a respectiva base política.
Para Dirceu, Lula não buscou a polarização, e o Brasil é que está radicalizado por atos como o de domingo (21) no Rio de Janeiro, quando Bolsonaro exaltou o empresário Elon Musk, dono do X (ex-Twitter).
“O presidente Lula faz um governo que não busca a polarização. Outra coisa é a disputa política e o debate, que precisam existir. E ele, como presidente, não pode se calar”, afirmou o ex-ministro.
Mais tarde, ainda na segunda-feira (22), a assessoria do petista divulgou nota afirmando que, apesar da declaração, Dirceu considera o terceiro mandato de Lula como “um governo de centro-esquerda, apoiado por partidos de direita”.
Afirmou ainda que a fala se deu sob o contexto da polarização política, entendendo que a atual administração “se pauta pelo diálogo, com o ingresso de partidos como PP e Republicanos”. A assessoria concluiu dizendo que o político já havia externado essa avaliação em entrevistas à imprensa.
Dirceu foi o último a falar em uma mesa composta também por Aldo Rebelo, secretário municipal de Relações Internacionais de São Paulo da gestão Ricardo Nunes (MDB); Juliano Medeiros, ex-presidente nacional do PSOL; e o deputado federal Felipe Carreras (PSB-PE).
Aldo também evitou rótulos ao falar do prefeito, seu aliado, e disse que, para ele, apesar do apoio de Bolsonaro, a gestão Nunes não é um governo de direita. “É um governo de forças heterogêneas, de partidos que inclusive integram a base do governo do presidente Lula.”
Após uma aproximação do bolsonarismo nos últimos meses, disse que mantém as convicções que tinha quando era militante do movimento estudantil e afirmou continuar sendo nacionalista e um defensor da liberdade e da democracia.
Aldo afirmou que existe um desejo de impor um “terceiro turno de eleição presidencial” nas eleições municipais de São Paulo. “Não, senhoras e senhores, a eleição é municipal. A eleição é entre candidatos que querem administrar a cidade de São Paulo, e não o Brasil.”
Ricardo Nunes é pré-candidato à reeleição na capital paulista. Na última pesquisa Datafolha, ele aparece empatado na liderança com Guilherme Boulos (PSOL), com 29% e 30%, respectivamente. Também são pré-candidatos Tabata Amaral (PSB), Marina Helena (Novo), Kim Kataguiri (União Brasil) e Altino (PSTU).
A exposição de Juliano Medeiros, ex-presidente nacional do PSOL, também ficou concentrada no pleito municipal. Ele afirmou que o cenário nacional deve influenciar a disputa. “Não em todas as eleições, não na minha Taquari, no interior do Rio Grande do Sul, mas em São Paulo vai”.
Medeiros disse as eleições em São Paulo expressarão as divisões políticas observadas a nível nacional e que elas não dizem respeito a ideologia, mas a projetos de país, relação com as instituições e modelos econômicos.
Medeiros e José Dirceu apoiam a candidatura de Boulos para a Prefeitura. O petista disse a jornalistas que se empenhará na campanha emprestando sua experiência política e advogando em favor dele publicamente.
O deputado Felipe Carreras defendeu haver espaço para os moderados e nomeou a correligionária Tabata Amaral como alguém que pode romper a polarização na capital paulista.