Lula não menciona morte de brasileiro refém do Hamas e mantém críticas a Israel
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltou a criticar no sábado (25) Israel por sua atuação na Faixa de Gaza, afirmando que não pode se calar “diante de aberrações”. Ele também pediu solidariedade às mulheres e crianças palestinas.
Apesar de abordar o conflito entre Israel e o Hamas, durante discurso no estado de São Paulo, Lula não mencionou a confirmação ocorrida na véspera da morte do brasileiro Michel Nisenbaum, 59, que era um dos reféns do grupo terrorista.
O mandatário havia se manifestado nas redes sociais, pouco após a confirmação da morte.
Lula participou no sábado (25) da inauguração de obras na rodovia Dutra, em Guarulhos, na Região Metropolitana de São Paulo. O evento reuniu diversos ministros de seu governo e parlamentares, incluindo Alencar Santana (PT-SP), que é pré-candidato a prefeito do município.
Ao encerrar a sua fala, pouco após pedir uma salva de palmas para o povo do Rio Grande do Sul, estado atingido por uma calamidade climática, o presidente pediu solidariedade às mulheres e crianças que morrem vítimas dos ataques israelenses na Faixa de Gaza. “Quero pedir para vocês uma solidariedade às mulheres e crianças que estão morrendo na Palestina por conta da irresponsabilidade do governo de Israel, que continua matando mulheres e crianças”, afirmou o presidente, retomando uma série de críticas que vinha fazendo ao Estado israelense.
“E a gente não pode se calar diante das aberrações, a gente não pode deixar de ser solidário porque amanhã a gente vai precisar de solidariedade”, acrescentou.
Na sexta-feira (24), o Exército de Israel anunciou ter recuperado os corpos de mais três reféns que estavam em Gaza desde os atentados do Hamas, em 7 de outubro de 2023. Segundo o comunicado, um deles é o de Michel Nisenbaum, único brasileiro-israelense sequestrado pela facção terrorista.
A notícia colocou fim a meses de apreensão e incerteza por parte da família de Nisenbaum, que ainda tinha esperanças de resgatá-lo vivo. Natural de Niterói (RJ), com dupla nacionalidade, ele era pai de duas filhas e vivia em Israel havia mais de 40 anos.
O presidente divulgou uma mensagem em sua rede social para lamentar a morte do brasileiro. “Soube, com imensa tristeza, da morte de Michel Nisembaum, brasileiro mantido refém pelo Hamas. Conheci sua irmã e filha, e sei do amor imenso que sua família tinha por ele. Minha solidariedade aos familiares e amigos de Michel”, escreveu o presidente.
“O Brasil continuará lutando, e seguiremos engajados nos esforços para que todos os reféns sejam libertados, para que tenhamos um cessar-fogo e a paz para os povos de Israel e da Palestina”, completou.
No fim do ano passado, Lula recebeu no Palácio do Planalto Mary Shohat e Hen Mahluf, a irmã e a filha de Michel Nisembaum.
Lula vinha sendo criticado pela comunidade judaica, pelas críticas às ações de Israel e uma alegada condescendência com o Hamas. O Brasil desde o início considerou a invasão ao território israelense e as mortes como um ato terrorista, mas não classifica o grupo da mesma forma. A justificativa é que o Brasil segue as classificações da ONU (Organização das Nações Unidas).
Em nota também na sexta-feira, a Conib (Confederação Israelita do Brasil) lamentou a morte de Michel Nisenbaum. A organização disse disse ter enviado condolências à família, “mais uma vítima inocente do ataque bárbaro do grupo terrorista Hamas contra Israel”.
Já a Fisesp (Federação Israelita do Estado de São Paulo) falou em “despedida dolorosa” e fez uma crítica à condução de Lula. “A memória de Michel Nisenbaum segue viva e não deixaremos de honrá-la. Na época do ataque, o presidente Lula disse que nenhum brasileiro ficaria para trás: Michel ficou.”
Brasil e Israel vivem uma crise diplomática, que tomou grandes proporções quando Lula comparou as ações israelenses na Faixa de Gaza com as de Hitler, contra o povo judeu.
“Sabe, o que está acontecendo na Faixa de Gaza com o povo palestino, não existe em nenhum outro momento histórico. Aliás, existiu quando Hitler resolveu matar os judeus”, afirmou Lula na Etiópia.
O governo israelense então convocou o embaixador brasileiro Frederico Meyer para uma visita a um importante memorial sobre o holocausto, numa ação que foi considerada como uma “humilhação” pelo lado brasileiro.
Na sexta (24), o assessor especial da Presidência para assuntos internacionais, Celso Amorim, afirmou que o embaixador do Brasil não voltará ao cargo.