Lula teve que administrar crises e postergar lançamento de projetos em 100 dias de governo

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Lula em entrevista à CNN Internacional. Foto: Reprodução

Por Leonardo Ribbeiro e João Rosa

Ao completar 100 dias de governo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) precisou administrar desgastes envolvendo ministros e ao menos seis grandes crises.

A primeira delas no fatídico 8 de janeiro, quando as sedes dos Três Poderes foram invadidas e foi necessária resposta imediata dos órgãos federais. Mais do que isso, a ocasião exigiu diálogo com o Legislativo e Judiciário, além de interlocução com outras nações para mostrar que o país estava sob controle.

Por mais que nesse caso o governo recém-empossado tenha ganhado o status de “vítima”, as repercussões do fato ofuscaram o caráter festivo das primeiras ações de gestão.

À época, a avaliação de ministros próximos ao presidente era de que o lançamento de qualquer projeto novo naquele momento não sensibilizaria a população. Isso exigiu cautela.

A posse de duas ministras, por exemplo, teve que ser adiada por conta da crise: Anielle Franco, da Igualdade Racial, e Sônia Guajajara, dos Povos Indígenas.

Durante 12 dias, o presidente se restringiu a cumprir agendas internas com ministros ou encontros vinculados a apuração do que havia ocorrido. Esse ciclo só foi quebrado com uma outra crise em que Lula precisou atuar diretamente.

Uma força-tarefa foi mobilizada para resgate de indígenas na terra Yanomami, em Roraima, e a retirada de garimpeiros da região. Problema que ainda não foi solucionado.

Em seguida, o presidente viajou para Argentina, Uruguai e Estados Unidos. No retorno relançou uma das principais bandeiras de campanha, o programa Minha Casa Minha Vida.

Menos de uma semana depois, outro imprevisto. O governo federal precisou atuar na tragédia causada pelas chuvas no litoral de São Paulo, que deixou 65 mortos. Lula passava o recesso de Carnaval na Base Naval de Aratu, na Bahia, e teve que suspender a folga para visitar as áreas afetadas.

Paralelo a isso, o Brasil teve as exportações da carne suspensas por conta de registro de caso de “mal da vaca louca”.

Nos episódios mais recentes, Lula bateu de frente com o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, por conta da atual taxa de juros (13,75%).

O presidente também fez declarações questionando operação da Polícia da Federal que prendeu bandidos que planejavam matar o senador Sergio Moro (União-PR).

O doutor em Ciência Política Leonardo Barreto avalia que esse embate entre Lula e Campos Neto foi a principal crise enfrentada pelo governo.

Segundo ele, esse episódio aumentou a desconfiança dos setores econômicos e atrasou a criação de um ambiente favorável para a redução dos juros. “Ao ter se dirigido daquela mineira ao Banco Central, Lula criou uma dúvida sobre a condução da política econômica, que era desnecessário.”

Política

Durante os primeiros 100 dias, Lula também precisou administrar crises no primeiro escalão. Outra dificuldade tem sido o impasse entre o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL) e o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG) sobre a tramitação de medidas provisórias (MPs) no Congresso Nacional. O que tem atrasado a aprovação de propostas do governo.

No caso do desgaste envolvendo ministros, a primeira situação que causou desconforto ao presidente ocorreu após o anúncio de Daniela Carneiro (União-RJ) como ministra do Turismo. Adversários tentaram associá-la a milícia do Rio de Janeiro.

Nas eleições de 2022, a então candidata a deputada federal teria recebido apoio da ex-vereadora Giane Prudêncio, mulher de Juracy Alves Prudêncio, que foi condenado e preso por chefiar uma milícia na Baixada Fluminense. A ministra foi mantida no cargo.

Logo depois, outro ministro virou alvo de denúncias. Juscelino Filho (União-MA), chefe da pasta das Comunicações, virou notícia por suposto uso indevido do avião da Força Aérea Brasileira (FAB) e o recebimento de diárias para participar de leilões de cavalos.

Após se explicar com o presidente, o ministro também permaneceu na função.

Em meio aos dois casos, Lula teve ainda que intervir e “desautorizar” ministros que estavam anunciando medidas sem o aval do Palácio do Planalto. Numa reunião com todos os auxiliares, o presidente deu indiretas nesse sentido.

É o caso de Carlos Lupi, da Previdência, que liderou mudanças no piso dos juros cobrados por bancos nos empréstimos consignados; e Marcio França, dos Portos e Aeroportos, que divulgou um projeto que previa passagens aéreas a R$ 200.

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