‘Me senti em um tribunal’, diz jovem autista após perder vaga na UFMG por causa de banca de verificação

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UFMG. © Leandro Couri/EM/D.A Press

Uma jovem autista de 19 anos, cuja identidade não foi revelada, afirmou que teve a sua matrícula negada na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) após passar em março deste ano pela Banca de Verificação e Validação (BVV), que é responsável pelas vagas destinadas para as pessoas com deficiência. As informações são do O Tempo.

“Eu não sabia como ia ser, nunca tinha ido à UFMG. Então, uma amiga foi comigo. Eu tenho dificuldade com experiências novas. Quando cheguei na banca, me senti como num tribunal. Eu estava sentada em uma cadeira no meio da sala, com quatro ou cinco moças e uma câmera. Uma moça fazia as perguntas e, depois de pedir dados cadastrais, começou a fazer perguntas do questionário. Senti que ela estava questionando minha deficiência, como se ela quisesse que eu caísse em alguma mentira.”

Então, a estudante afirmou que poderia apresentar o laudo médico que confirmava o seu Transtorno do Espectro Autista (TEA). “A sorte que eu tive foi de estar com ele impresso.”

Em 2012, o TEA foi incluído na lista de deficiência, o que dá o direito da pessoa concorrer às vagas destinadas para essa população.

Para a estudante, o episódio foi traumatizante. “Fizeram a avaliação deles. Eles não podem fazer uma própria avaliação. O que está escrito nos meus dois lados é que eu possuo essa dificuldade. O parecer deles deu a entender que avaliaram que, ou eu não era autista, ou não era ‘autista o suficiente’ (para a vaga). (Na banca), não tinha uma pessoa sequer com deficiência. É uma experiência muito traumática, muito violenta.”

Mesmo tendo conseguido a sua vaga por meio do Sistema de Seleção Unificada (Sisu), que usa a nota do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), a estudante recebeu um e-mail duas semanas depois da entrevista no qual afirmava que a sua matrícula havia sido negada.

Com a ajuda de alguns colegas, ela entrou com um pedido de recurso contra a decisão.

“Não me deram informação nenhuma depois de pedir o recurso. Estou na dúvida se presto vestibular de novo. Foi horrível. Apesar de, no ENEM, ter sido aprovada como Pessoa com Deficiência e tive um tempo a mais, tudo que tinha direito, fiz a prova sozinha etc. Mesmo assim, é muito desgastante. Demorei um tempo para me recuperar (do Exame). Eu queria mostrar que é possível uma pessoa autista na UFMG. Eu tinha nota para passar em outras modalidades de cotas, como por renda, ou raça. Ter que passar isso tudo…Vai ser difícil. Eu só quero poder estudar.”

Ao ser questionada, a UFMG informou por meio de nota que não comenta casos específicos. Apesar afirmou que “a Lei 13.146 estabelece, em seu primeiro parágrafo do Artigo 2, os critérios para considerar a pessoa com deficiência e a necessidade de uma avaliação ‘biopsicossocial, realizada por equipe multiprofissional e interdisciplinar’ que compõe a Banca de Verificação e Validação (BVV).”

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