Moraes vê suspeita de “determinação de Bolsonaro” em esquema para vender presentes oficiais

0

Ministro Alexandre de Moraes, do STF Foto: Fellipe Sampaio/STF

Por Gabriel Ferneda

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes afirmou, na decisão que embasou a operação da sexta-feira (11) para apurar desvios de objetos da União, que, de acordo com dados analisados pela Polícia Federal, há a “possibilidade” de que o Gabinete Adjunto de Documentação Histórica do Gabinete Pessoal da Presidência da República tenha “sido utilizado para desviar, para o acervo privado do ex-presidente da República, presentes de alto valor, mediante determinação de Jair Bolsonaro (PL)”.

Além disso, a investigação indica que o material deveria ser vendido e o dinheiro repassado em espécie para o ex-presidente.

Segundo a investigação da PF, o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro Mauro Cid, levou para os Estados Unidos presentes recebidos pelo Estado brasileiro com a intenção de vendê-los.

Ele teria transportado os objetos no mesmo avião presidencial em que Jair Bolsonaro viajou para Orlandoem 30 de dezembro do ano passado, na véspera do fim de seu mandato.

A investigação da PF indica que Bolsonaro determinou o “desvio” de itens do Gabinete Adjunto de Documentação Histórica do Gabinete Pessoal da Presidência da República para seu acervo privado.

“[As investigações] Indicam a possibilidade de o Gabinete Adjunto de Documentação Histórica do Gabinete Pessoal da Presidência da República – órgão responsável pela análise e definição do destino de presentes oferecidos por uma autoridade estrangeira ao Presidente da República – ter sido utilizado para desviar, para o acervo privado do ex-Presidente da República, presentes de alto valor, mediante determinação de Jair Bolsonaro.”

Segundo a operação da PF, a suspeita é de que a conta do pai do ex-ajudante Mauro Cid, Mauro César Lourena Cid, teria sido usada para recebimento de valores relativos a vendas de presentes de alto valor recebidos por agentes públicos brasileiros de autoridades árabes.

A investigação “identificou que esse modus operandi foi utilizado para retirar do país pelo menos quatro conjuntos de bens recebidos pelo ex-Presidente da República em viagens internacionais, na condição de chefe de Estado”, aponta o relatório.

“As mensagens evidenciam que, além da existência de um esquema de peculato para desviar ao acervo privado do ex-Presidente da República, Jair Bolsonaro, os presentes de alto valor recebidos de autoridades estrangeiras, para posterior venda e enriquecimento ilícito do ex-Presidente, Marcelo Camara e Mauro Cid tinham plena ciência das restrições legais da venda dos bens no exterior”, acrescenta.

Cid cita quantia “em cash” para Bolsonaro em áudio

Em áudio obtido durante investigação da Polícia Federal (PF), o ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL), Mauro Cid, diz que seu pai, Mauro Lourena Cid, estaria em posse de US$ 25 mil que supostamente pertenciam ao ex-presidente e que deveriam ser entregues em espécie para evitar movimentações em contas bancárias.

No áudio, enviado para Marcelo Camara, então assessor de Bolsonaro, Cid diz: “Tem 25 mil dólares com meu pai. Eu estava vendo o que era melhor fazer com esse dinheiro, levar em ‘cash’ aí. Meu pai estava querendo inclusive ir aí falar com o presidente […] E aí ele poderia levar. Entregaria em mãos. Mas também pode depositar na conta […]. Eu acho que quanto menos movimentação em conta, melhor né?”

Em resposta, Camara reforçou o receio de utilizar o sistema bancário e disse: “Melhor trazer em cachê”.

Wassef foi aos EUA para recuperar relógio vendido

Também alvo da operação desta sexta, o ex-advogado de Bolsonaro Frederick Wassef recuperou um relógio Rolex que havia sido vendido nos EUA em junho do ano passado por Mauro Cid, segundo a investigação da PF.

Wassef entregou o item de volta para Cid, em São Paulo, em abril de 2023. Por sua vez, o ex-ajudante de ordens entregou o relógio para Osmar Crivelatti, assessor do ex-presidente Jair Bolsonaro.

O que diz a defesa de Bolsonaro

O advogado Fábio Wajngarten, que atua na defesa de Jair Bolsonaro, disse que ele e seus colegas do time jurídico do ex-presidente não sabiam da operação de recompra de um relógio Rolex nos Estados Unidos.

De acordo com Wajngarten, que foi secretário de comunicação do governo Bolsonaro, ele estava dando uma orientação jurídica a Cid sobre como proceder, mas desconhecia o paradeiro das joias.

“A defesa não sabia. Eu estava ali para orientá-los a se antecipar a uma decisão que o TCU tomaria, pegar as joias e entregar. Só isso. Eu não sabia onde elas estavam”, afirmou.

Questionado o motivo de não ter perguntado o paradeiro das joias, Wajngarten afirmou que não cabia a ele essa pergunta naquele momento.

A reportagem aguarda posicionamentos dos demais envolvidos.

(Com informações de Elijonas Maia e Gustavo Uribe, da CNN, em Brasília)

About Author

Deixe um comentário...