Jean Carlos estava ao lado de uma lanchonete e havia deixado suas malas em um hotel no Centro de São Paulo quando apareceram agentes da PF e disseram que estava preso. A ele, foi dada a chance voltar ao hotel, pegar suas malas, antes de ser encaminhado para a custódia da PF em São Paulo. Por lá, ligou para um tributarista de sua confiança, que indicou José Roberto Timóteo, que é criminalista e agente da PF aposentado.
“Você está falando sério?”
A primeira orientação que recebeu de José Roberto, ainda por telefone, foi de ficar quieto até que ele chegasse à PF. O criminalista diz ter chegado à Superintendência de São Paulo uma hora depois de o delegado ter ido embora e, por isso, seu cliente acabou não falando aos investigadores. Em sua primeira conversa com Jean Carlos, diz José Roberto que deu até um puxão de orelha quando ouviu dele que nem sabia o que era o Hezbollah.
“Eu perguntei: Você está falando sério? Porque eu sou um advogado, e você tem de falar pra mim, lá na Justiça você pode mentir, eu vou te orientar, é outro papo, a gente vai fazer a defesa. Agora, para o seu advogado você não pode inventar. Não sabe o que é Hezbolah, não? Ele disse: Dr, ouvi falar, eu claro que fui à Turquia, ao Líbano, várias vezes, mas eu não sei o que é…”, diz o advogado.
O advogado conta que disse ao seu cliente se assustou ao descobrir que o caso já estava repercutindo em emissoras de TV ao redor do mundo. “Ele começou a chorar e disse: dr, mas o que é isso?”, relata.
O site Metrópoles apurou que o principal investigado da PF tem o nome de Mohhamad Akhir. De acordo com os investigadores, há fartos indícios de que ele seja “integrante, de fato”, do grupo Hezbollah. Outros alvos da Trapiche, segundo as investigações, teriam tido graus diferentes de contato ou até mesmo viajado com ele. A PF desconfia de que haja cooptação de brasileiros pelo grupo.
“Café e ouro”
Questionado pelo site Metrópoles sobre a relação com Akhir, o advogado de Jean Carlos afirma que seu cliente viaja ao exterior como “intermediário de negócios”, e que conheceu Akhir neste contexto. “O sujeito tem café aqui para vender. Ele vai para o Líbano tentar vender café, açúcar, ouro. Como você faz isso? Se relacionando com libaneses aqui no Brasil. O Jean não fala a língua árabe e reside em Santa Catarina, em Joinville. Porque o Mohhamad Akhir mora em São Paulo, se não me engano”, afirmou.
O advogado afirma que Jean Carlos viajou com Akhir para o Líbano para “prospectar negócios”. “Ele disse : eu fui lá para vender café, vender ouro. O sujeito me leva para o Líbano. Na linguagem dele: Dr, eu fui ganhar uma moeda, um dinheiro. É isso que eu faço”, afirmou.
Até o momento, as defesas de investigados ainda não obtiveram acesso à investigação para entender quais são as provas que a PF usou para pedir suas prisões e buscas em seus endereços. O pedido de prisão foi feito pela PF e pelo MPF à Justiça Federal em Belo Horizonte, em Minas Gerais.