Veja-se esse programa de segurança pública lançado à pressas na segunda-feira. É que ficou chato continuar ignorando a questão, depois que não deu para segurar a notícia, veiculada até pela imprensa amiga (praticamente toda), de que na Bahia petista, onde uma facção de traficantes toca o terror e enfrenta a PM mais letal do país, o bangue-bangue vem ultrapassando os largos e indecentes limites de um país que convive com quase 50 mil assassinatos por ano. Para não falar daquele inferno permanente do Rio de Janeiro, que continua lindo para os criminosos organizados, os desorganizados e os que pensam em organizar-se.
Era preciso tirar logo um bandeide do estojo de primeiros-e-últimos-socorros para conter a sangria — a do governo que tem na área da segurança pública a sua pior avaliação — e dar a impressão de que se está atacando realmente o problema. Afinal de contas, como permitir também que os jornalistas voltassem a exercer a sua preferência de indignar-se com a polícia de estados governados pela direita?
O ministro tuiteiro Flávio Dino apareceu, então, com o programa Enfoc: Enfrentamento às Organizações Criminosas. Para implementar um trololó muito genérico, como “eficiência da justiça criminal” e “integração institucional e informacional”, ele anunciou que serão gastos 900 milhões de reais.
Parece muita bufunfa, mas só ao vulgo ignaro, certamente não ao CV ou ao PCC. Para efeito de comparação, só a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo tem um orçamento de 27,3 bilhões de reais para 2023. E todo mundo sabe como governo federal executa despesas com celeridade e eficiência.
Flávio Dino também anunciou que mandará 570 homens para o Rio de Janeiro, entre policiais federais e agentes da Força Nacional, e 109 policiais para a Bahia, além de um dinheirinho para ambos os estados. Não é exatamente a irrupção salvadora da Sétima Cavalaria no faroeste baiano e fluminense ou uma mágica de varinha de condão, como até reconheceu o nosso ministro de conto de fadas. “Às vezes, pensam que nós temos uma varinha de condão que se chama intervenção federal. Intervenção federal é coisa séria, regrada pela Constituição, artigo 34. Eu não posso acordar amanhã e dizer que vamos fazer uma intervenção federal, é preciso motivar”, justificou-se.
Diante da magnitude das tropas, os cinegrafistas das emissoras de TV vão ter de fechar bem as imagens. Foquem aí a câmera no Enfoc, rapazes, e cuidado com a bala perdida que sempre se dá por achada, enquanto a gente cria um ministério apenas para a segurança pública, cheio de empregos para os amigos, e alguém negocia uma trégua com os traficantes. Porque assim não dá.