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Jair Bolsonaro. Foto: Rafaela Felicciano/Metrópoles

Engana-se quem acha que os evangélicos, ou qualquer outro grupo religioso, age politicamente e eleitoralmente de forma uníssona, em bloco. As pesquisas Sensus mostram que todas as lideranças institucionais, incluindo a Presidência da República, governadores, prefeitos, líderes empresariais, sindicais e religiosos transferem, inequivocamente, cerca de 15% do total de votos do eleitorado. No caso das lideranças religiosas, o total diretamente transferido é de 3%. Todos os grupos sociais podem ter suas tendências, por afinidade, mas a decisão do voto não se dá através de transferência por acordo de lideranças. O voto do religioso é também individual e pragmático.

A decisão do voto passa, principalmente, pela economia, no caso atual do Brasil, seguida de outros fatores, como democracia, corrupção, Covid e programas sociais, nesta ordem. São variáveis que devem ser identificadas a cada eleição, segundo o grau de importância a seu tempo.

Nas pesquisas eleitorais, o percentual de evangélicos subiu de cerca de 5% na década de 1990 para cerca de 30% na atualidade. Destes, 25% são evangélicos pentecostais, como Reino de Deus, Quadrangular e outras; e 5% são protestantes tradicionais, como Batista, Presbiteriano e outras. No Congresso, a bancada evangélica chega hoje a cerca de 20% dos congressistas. Segundo lideranças evangélicas, o objetivo é de alcançar cerca de 30% nestas próximas eleições.

O cristianismo apresenta diferenças que são significativas nas atitudes dos cidadãos e das sociedades. No catolicismo, a instituição da confissão é um ritual repetitivo e outorgado pelos padres, no controle social. Os pecados podem ser redimidos segundo suas diversas circunstâncias, na geração de comportamento cíclico de acomodação do cidadão na sociedade. No protestantismo, com a extinção da confissão, o crente deve ter um comportamento médio adequado durante a vida para merecer os céus, o pastor como ente leigo na orientação dos que professam. Este comportamento leva à ação racional dos indivíduos adequada a fins, que propicia o desenvolvimento das sociedades, tão bem retratado por Weber em “A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo”. No evangelismo brasileiro, os direitos aos céus já podem ser aqui assegurados, na forma de contribuições e ações comportamentais, que realoca os cidadãos na sociedade de forma funcional e produtiva. Pelo seu aspecto funcional e produtivo, o voto do evangélico tende a ser pragmático, na busca de soluções individuais para a sua vida dentro da coletividade.

As lideranças evangélicas tentam se comportar como se fossem um partido, mas formam, em verdade, grupos episódicos de interesse, sem base social que redunde automaticamente na transferência do voto. Segue-se o interesse dos cidadãos e suas decisões pragmáticas de voto, segundo suas ideologias, problemas, e objetivos individuais a serem alcançados dentro da coletividade.

Ricardo Guedes é Ph.D. pela Universidade de Chicago e CEO da Sensus

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