O que a base e a oposição ao governo Lula disseram sobre operação da PF contra Carlos Jordy
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Carlos Jordy. Foto: Maryanna Oliveira/Câmara dos Deputados
por Gabriel de Sousa
BRASÍLIA – Parlamentares de oposição ao governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) classificaram a busca e apreensão contra o deputado federal Carlos Jordy (PL-RJ) como “perseguição política” e cobraram posicionamento dos presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), sobre a ação. Integrantes da base de Lula, por sua vez, avaliaram que a 24ª fase da Operação Lesa Pátria, deflagrada na quinta-feira, 18 de janeiro, mostrou que autoridades que incitaram ou planejaram atos antidemocráticos não devem “sair impunes”.
Após autorização do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, a Polícia Federal (PF) realizou buscas e apreensões no gabinete de Jordy na Câmara e na residência dele em Niterói, na região metropolitana do Rio. Os policiais apreenderam telefones celulares, computador e o passaporte do parlamentar. Também foi levada uma pistola Taurus, dois carregadores e munições.
Jordy é o líder da oposição na Câmara dos Deputados e é o primeiro parlamentar federal a ser alvo de busca e apreensão na Operação Lesa Pátria. Ele faz parte da “tropa de choque” bolsonarista no Congresso e é um dos mais aguerridos aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). As suspeitas de participação do parlamentar nos atos antidemocráticos surgiram após os investigadores descobrirem um diálogo dele com um extremista no dia 1º de novembro de 2022, 24 horas depois de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vencer Bolsonaro nas eleições presidenciais.
Depois da divulgação dos resultados, bolsonaristas começaram a realizar bloqueios em rodovias no País. Na conversa recuperada pela PF, Carlos Victor de Carvalho, mais conhecido como “CVC”, chama Jordy de “meu líder” e pede um direcionamento quanto a “parar tudo”. CVC é apontado pelos investigadores como uma “liderança de extrema direita, responsável por administrar mais de 15 grupos de WhatsApp com temáticas extremistas, havendo robustos elementos de que ele organizou eventos antidemocráticos em Campos dos Goytacazes”, no Rio.
Oposição chama operação de ‘perseguição política’ e cobra posicionamento de Lira e Pacheco
Senadores de PL, PP, Republicanos e Novo afirmaram, em nota publicada nas redes sociais, que a decisão de Moraes foi “questionável”. Os signatários disseram que o ministro não possui imparcialidade na condução das investigações sobre o 8 de Janeiro.
“Ante o exposto, a postura republicana esperada seria o próprio ministro tomar a iniciativa de se declarar suspeito para julgar os atos de 08 de janeiro, com a grandeza de quem, de fato, busca a pacificação do País e está disposto a virar essa lamentável página da história brasileira, cumprindo a lei e agindo na defesa da Constituição. Afinal de contas, conviver com a diferença é a essência da democracia”, diz a nota da oposição.
Como Lider do @plnacional_ e junto con Lideres do senado @rogeriosmarinho , @TerezaCrisMS , @meciasdejesus , @EduGiraoOficial , representando Oposição, @Progressistas11 , @republicanos10 , @partidonovo30 , nos manifestamos em nota publica contra os abusos, pela volta da… pic.twitter.com/FCW9NehQ0Y
— Carlos Portinho (@carlosfportinho) January 19, 2024
Logo após a deflagração da operação, parlamentares aliados a Bolsonaro cobraram posicionamentos de Lira e Pacheco sobre a entrada da PF no gabinete de Jordy. Sem retorno, bolsonaristas passaram a afirmar que houve uma “omissão” por parte dos presidentes das Casas.
O deputado Marcel van Hattem (Novo-RS), que é vice-líder da oposição na Câmara, afirmou que o Congresso Nacional foi “novamente achincalhado pelo STF” por não haver posicionamentos por parte de Lira e Pacheco: “Até o momento nada declararam. Quem cala, consente”.
Vai terminando o dia em que o Parlamento foi novamente ACHINCALHADO pelo STF, em particular novamente por Alexandre de Moraes, e os presidentes do Congresso, @rodrigopacheco , e da Câmara,@ArthurLira_ , até o momento NADA declararam. Quem cala, consente.
— Marcel van Hattem (@marcelvanhattem) January 19, 2024
O senador Esperidião Amin (PP-SC) disse que Jordy foi alvo de uma “ação investigatória da inquisição”. Segundo o parlamentar, a falta de reação por parte dos chefes do Legislativo reduz o Congresso Nacional a uma condição de “pigmeu moral”.
Ninguém se iluda: cada vez que um parlamentar vira notícia de ação investigatória da INQUISIÇÃO e a respectiva casa legislativa reage “NÃO REAGINDO”, cumpre-se mais um capítulo do roteiro de domínio da Inquisição e “acomodação” do Congresso à sua condição de “PIGMEU MORAL”!
— Esperidião Amin (@esperidiaoamin_) January 18, 2024
O líder do PL no Senado, Carlos Portinho (RJ), afirmou que a operação é um “gesto de perseguição e violência política” empreendido pelo STF contra o Congresso. “Vivemos tempos sombrios, páginas da nossa historia que acreditávamos fosse coisa do passado.”
Ação do Poder supremo contra o lider da Oposição @carlosjordy é evidente gesto de perseguição e violência politica contra um parlamentar e o próprio Congresso. É a comprovação da atuação de um Poder sobre outro.
Jordy como parlamentar exerceu seu direito de fala criticando o… https://t.co/jbd6oENuP5— Carlos Portinho (@carlosfportinho) January 18, 2024
O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) citou um artigo da Constituição Federal que diz que os deputados e senadores são “invioláveis por suas opiniões, palavras e votos”. “Óbvia perseguição política combinada com sorriso de vingança no canto da boca. Quem não sabe conviver com as diferenças não está preparado para viver em democracia”, afirmou.
A CF/88 protege parlamentares por suas opiniões para evitar, exatamente, o que está acontecendo com @carlosjordy : óbvia perseguição política combinada com sorriso de vingança no canto da boca.
Quem não sabe conviver com as diferenças não está preparado para viver em democracia.— Flavio Bolsonaro (@FlavioBolsonaro) January 18, 2024
Outro filho do ex-presidente a se manifestar sobre a operação foi o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ). Assim como Flávio, o vereador sugeriu que o mandado expedido por Moraes descumpriu as normas legais. “Mais uma vez ignora-se solenemente a Constituição e deflagra-se mais um capítulo do rumo assombroso para onde caminha o Brasil”, disse.
Ouvi o exposto pelo deputado federal Carlos Jordy (PL-RJ). Seguindo sua linha de exposição mais uma vez ignora-se solenemente a Constituição e deflagra-se mais um capítulo do rumo assombroso para onde caminha o Brasil. Minha solidariedade à você, sua esposa e filhinha.
— Carlos Bolsonaro (@CarlosBolsonaro) January 18, 2024
A senadora Damares Alves (Republicanos-DF) considerou que Jordy se tornou alvo da 24ª fase da Operação Lesa Pátria por sua postura como líder da oposição na Câmara. “Enquanto isso, acompanhamos sentenças em processos sobre crimes de corrupção sendo anuladas e modificadas pela mesma Corte que determinou a busca e apreensão num gabinete parlamentar. Dias sombrios para a democracia brasileira”, disse.
Preocupante a realização de uma operação da Polícia Federal contra um parlamentar líder de oposição por manifestações de opinião, lembrando que trata-se de um representante eleito pelo povo.
Enquanto isso, acompanhamos sentenças em processos sobre crimes de corrupção sendo…
— Damares Alves (@DamaresAlves) January 18, 2024
Os integrantes da oposição também usaram o mandado de busca e apreensão como uma forma de impulsionar a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que vai investigar “abusos de autoridade” pelo STF e pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A CPI foi protocolada no fim de novembro após a coleta de 171 assinaturas de parlamentares. A data de início da atuação do colegiado ainda é incerta.
A deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) disse que a ação contra Jordy foi um “ataque” à democracia e ao Estado Democrático de Direito. A parlamentar pediu que a CPI seja instalada e as propostas de emenda à Constituição (PECs), que pretendem alterar o funcionamento da Suprema Corte, sejam apreciadas.
“Urge a instalação da CPI do abuso de autoridade do STF e do TSE, assim como as votações das PECs que versam sobre alterações no funcionamento dos tribunais superiores, todos apoiados e assinados por mim e pelos demais deputados de oposição”, disse Zambelli.
A Justiça no Brasil tem lado, não usa vendas e o fiel da sua balança está em flagrante desequilíbrio.
O Senado, por meio de seu Presidente @rodrigopacheco se omite e causa dano irreparável ao País, quando deixa de apreciar e pautar pedidos de impeachment que versam sobre o…
— Carla Zambelli (@Zambelli2210) January 18, 2024
Governistas dizem que operação da PF mostrou que autoridades suspeitas não ficarão ‘impunes’
Diferentemente da oposição, que manteve o mandado de busca e apreensão contra Jordy como o tema principal nas redes, poucos políticos da base do governo Lula se posicionaram sobre a operação. Ao longo da quinta-feira, o assunto mais comentado pelos governistas foi a visita do presidente à refinaria Abreu e Lima, que virou “símbolo” de corrupção investigada pela Lava Jato.
Para governistas, a operação que teve Carlos Jordy como um dos alvos mostrou que autoridades suspeitas de terem participado dos atos golpistas devem ser investigadas, assim como as pessoas que já foram presas pela depredação dos prédios públicos.
O ministro da Secretaria de Comunicação da Presidência (Secom), Paulo Pimenta, afirmou que “não haverá impunidade para quem cometeu crimes contra democracia” independentemente da sua função.
“Não importa se deputado(a), ex presidente, filho de presidente, civil ou militar, empresário ou pensionista do Exército, todos (as) estão sujeitos às consequências da lei e da Constituição Federal quando cometem crimes contra o Estado Democrático e o livre funcionamento das instituições.”
O que precisa ficar definitivamente esclarecido é que não haverá impunidade para quem cometeu crimes contra democracia. Quem participou, financiou, organizou e incentivou ou planejou as ações criminosas que tentaram reverter o resultado soberano das eleições terão suas condutas…
— Paulo Pimenta (@Pimenta13Br) January 18, 2024
O deputado Márcio Jerry (PCdoB-MA), aliado do ministro da Justiça e futuro ministro do STF, Flávio Dino, afirmou que “ser líder da oposição ou líder de governo” não atribui um “salvo conduto” para o cometimento de crimes.
Ser líder da oposição ou líder de governo ou líder do que seja não dá a ninguém salvo conduto para cometer crimes ou incitá-los.
Simples assim…— Márcio Jerry (@marciojerry) January 18, 2024
A deputada federal Talíria Petrone (PSOL-RJ) que, assim como Jordy, é cotada para disputar a Prefeitura de Niterói em outubro, usou as redes sociais para alfinetar o possível adversário. “Quem ataca as liberdades democráticas tem que ser investigado, responsabilizado e punido”, disse.
A operação de hoje da Polícia Federal sobre os atos golpistas de 8 de janeiro teve como alvo um parlamentar de Niterói. Quem ataca as liberdades democráticas tem que ser investigado, responsabilizado e punido. Niterói e o Brasil não têm espaço para quem odeia a democracia.
— Talíria Petrone (@taliriapetrone) January 18, 2024
Já o senador Humberto Costa (PT-PE) comentou que as novas fases da operação precisam alcançar os líderes econômicos e políticos dos ataques antidemocráticos. “As investigações estão andando”, disse.
Em entrevista ao jornal Estadão no início do ano, Moraes afirmou o trabalho segue até que todos os envolvidos sejam responsabilizados, incluindo agentes públicos e autoridades.