O que significa o ‘cessar-fogo sustentável’, defendido por Reino Unido e Alemanha em Gaza?

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Benjamin Netanyahu. foto: reprodução

Por Sandra Cohen

Uma expressão chamou a atenção na expressiva pressão interna e externa que o governo de Benjamin Netanyahu vem recebendo sobre o custo humanitário de sua guerra contra o Hamas em Gaza: o cessar-fogo sustentável, descrito num artigo assinado pelos ministros das Relações Exteriores do Reino Unido e da Alemanha, dois dos maiores aliados de Israel na Europa.

Diferentemente das vozes correntes em protestos de rua e em debates da ONU, David Cameron e Annalena Baerbock não pediram o cessar-fogo imediato, mas alertaram sobre a necessidade de preparar o caminho que leve à paz sustentável no Oriente Médio e dure “dias, anos, gerações”.

Tanto o Reino Unido quanto a Alemanha se abstiveram na votação da Assembleia Geral da ONU em 12 de dezembro, quando 153 países votaram a favor de um cessar-fogo.

“Um cessar-fogo insustentável, que rapidamente se transformaria em mais violência, apenas tornaria mais difícil construir a confiança necessária para a paz. Quanto mais cedo chegar, melhor. A necessidade é urgente”, escreveram os dois ministros.

O apelo coincidiu com a confirmação pelo Exército, no fim de semana passado, de que três reféns do Hamas em Gaza foram confundidos com terroristas e mortos por soldados israelenses, embora agitassem bandeiras brancas improvisadas e pedissem por socorro em hebraico.

As mortes amplificaram a raiva e novos protestos por parte das famílias dos 130 reféns que ainda estão em poder do Hamas, renovando as pressões sobre Netanyahu para que retome as negociações para a sua libertação.

O governo sente o peso do isolamento à medida que seus principais aliados no exterior tentam se descolar dos danos causados pelo número crescente de civis atingidos pela ofensiva israelense. As críticas à forma como premiê vem conduzindo a guerra reverberam na Casa Branca e tensionam as relações entre Joe Biden e Netanyahu.

Num evento para arrecadar fundos para a campanha eleitoral, o presidente americano expôs a impaciência com os bombardeios indiscriminados de Israel e a ameaça concreta de isolamento do país. No artigo publicado no fim de semana pelo “Sunday Times”, os ministros das Relações Exteriores de Reino Unido e Alemanha insistiram nesse lema.

“O governo israelense deveria fazer mais para discriminar terroristas de civis, garantindo que a sua campanha tenha como alvo os líderes e agentes do Hamas”, ponderaram Cameron e Baerbock.

Ambos recomendaram o reforço de ajuda humanitária aos palestinos e a repressão aos colonos extremistas na Cisjordânia.

Ou seja, persistiram na tese de que o cessar-fogo entre Israel e Hamas não se sustenta apenas com o fim dos combates: é preciso preservar a perspectiva de coexistência pacífica entre judeus e palestinos.

Esta fórmula, contudo, não consta nos planos de Netanyahu. O primeiro-ministro prega a aniquilação do Hamas e a libertação dos reféns — equação que em 73 dias de guerra vem se revelando insolúvel em Gaza.

Israelenses Yotam Haim, Samar Talalka e Alon Shamriz (da esquerda para a direita) sequestrados pelo Hamas e mortos por engano por tropas israelenses em 15 de dezembro de 2023. — Foto: Foto: Divulgação/Exército de Israel
Israelenses Yotam Haim, Samar Talalka e Alon Shamriz (da esquerda para a direita) sequestrados pelo Hamas e mortos por engano por tropas israelenses em 15 de dezembro de 2023. — Foto: Foto: Divulgação/Exército de Israel

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