ONGs cancelam programas no Afeganistão após Talibã proibir funcionárias mulheres

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Mulheres protestam contra proibição do Talibã à entrada de alunas em todas as universidades do país, em 22 de dezembro de 2022. — Foto: Reuters

Por France Presse

Três Organizações Não-Governamentais (ONGs) que operam no Afeganistão anunciaram no domingo (25) o cancelamento de seus programas no país após o Talibã proibir mulheres nessas organizações.

No sábado (24), o Ministério de Economia afegão ordenou que as ONGs em atividade no país deixassem de empregar mulheres, com o argumento de ter recebido denúncias de quebra dos códigos de vestimenta impostos pelos talibãs. As organizações contestam (leia mais abaixo).

Três das principais ONGs que atuam no país anunciaram a suspensão das ações:

  • Save de Children
  • Conselho Norueguês para os Refugiados
  • Care
  • Comitê Internacional de Resgate (IRC)

Milhões de afegãos dependem da ajuda humanitária repassada por doadores internacionais através de uma ampla rede de organizações. A ONU calcula ainda que mais da metade dos 38 milhões de habitantes do país precisarão de ajuda humanitária durante o inverno rigoroso.

As ONGs empregam milhares de mulheres no país. Só a IRC afirmou ter 3 mil funcionárias em diferentes programas no Afeganistão.

“Enquanto não apresentam mais explicações sobre o anúncio, suspendemos nossos programas e exigimos que homens e mulheres possam continuar, em igualdade de condições, com nossa ajuda para salvar vidas no Afeganistão”, afirmaram os diretores das organizações em um comunicado conjunto.

Outras dezenas de representantes de ONGs e funcionários da Organização das Nações Unidas (ONU) se reuniram no domingo (25) em Cabul para analisar os passos que devem ser adotados por conta da proibição.

“A proibição terá um impacto em todos os aspectos do trabalho humanitário, pois as mulheres têm cargos cruciais em projetos voltados para população feminina vulnerável do país”, disse à agência de notícias AFP uma alta funcionária de uma ONG estrangeira, que não quis se identificar.

O governo não explicou se a diretriz inclui as estrangeiras que trabalham para as organizações.

No comunicado enviado às ONGs, o ministério afirma que tomou a decisão depois de receber “denúncias” de que as mulheres que trabalhavam nestas organizações não respeitavam o uso do véu islâmico.

No Afeganistão, as mulheres são obrigadas a cobrir o rosto e o corpo inteiro.

ONU

A ONU também criticou a decisão do regime fundamentalista e afirmou que, que ao excluir as mulheres “sistematicamente de todos os aspectos da vida pública e política”, as autoridades afegãs estão “fazendo o país retroceder, minando os esforços para instaurar a paz e uma estabilidade significativa”.

As ONGs argumentaram não terem sido notificadas previamente sobre as denúncias de que suas funcionárias não respeitavam as normas de vestimenta do país, e negaram que isso aconteça.

“Nunca recebemos uma advertência sobre algum problema com o código de vestimenta das mulheres”, declarou neste domingo a diretora de uma associação, que falou à AFP na condição de anonimato.

Nos últimos meses, o movimento Talibã, que retornou ao poder em agosto de 2021, apertou o cerco às mulheres.

Há menos de uma semana elas foram vetadas nas universidades do país por “desrespeito” ao código de vestimenta. E desde março estão proibidas de frequentar as escolas do Ensino Médio.

As mulheres também foram excluídas de vários empregos públicos e não podem viajar sem a presença de um parente homem. O Talibã também proibiu o acesso a parques, jardins, academias e banheiros públicos.

‘Lutar por nossos direitos’

O diretor regional da Unicef, George Laryea-Adjei, disse que “o retrocesso flagrante mais recente dos direitos das meninas e das mulheres terá consequências de grande alcance para a prestação de serviços de saúde, nutrição e educação das crianças”.

“Somos 15 na minha família e eu sou o único sustento. Se eu perder meu emprego, minha família vai passar fome”, disse Shabana, 24 anos, funcionária de uma ONG em Cabul.

Outra afegã, de 27 anos, contou à AFP sob anonimato que começaria a trabalhar neste domingo para uma ONG estrangeira. Mas o sonho acabou após a nova proibição.

“O trabalho árduo que fiz nos últimos anos no campo da educação foi destruído”, disse. “Mas somos bastante corajosas para não aceitar proibições e lutar por nossos direitos”, acrescentou.

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