Opinião – Próximo presidente governará com Arthur Lira

“Se pariu um outro Eduardo Cunha”, disse Ciro Gomes após a eleição de Lira, em fevereiro deste ano. Cunha, em sua delação rejeitada por procuradores, afirmou ter distribuído R$ 270 milhões para aliados, boa parte de caixa 2. Perto do dinheiro manejado por Lira, esse valor é troco de feira.

Lira não precisa de caixa 2, nem das engessadas emendas parlamentares individuais ou coletivas. Ele tem a seu dispor a indicação das verbas do relator-geral do Orçamento, as RP-9, o chamado orçamento secreto – emendas repartidas politicamente e sem transparência.

A farra começou em 2020, em um acordo entre o Palácio do Planalto e o Congresso, que reservou 20 bilhões de reais aos parlamentares. Este ano, o relator Márcio Bittar (MDB-AC) distribuiu R$ 16,5 bilhões – após cancelar R$ 10 bi. Para 2022, ano de eleição, o valor deve ser aproximadamente o mesmo, mas o centrão saliva por mais.

Com tanto dinheiro, muitos deputados devem ser reeleitos. No retorno a Brasília, todos recordarão – ou serão recordados – do providencial auxílio de Lira, e isso se traduzirá em votos para a próxima eleição na Câmara, em fevereiro de 2023.

Mas e a oposição? Ela joga o jogo. Lira apoiou o impeachment de Dilma defendendo o desenvolvimento econômico com um voto sóbrio. Votaram juntos pelo projeto que fragilizou a Lei de Improbidade Administrativa. Em 2019, derrubaram juntos trechos do pacote anticrime de Moro, como lembra ótima reportagem da Folha de São Paulo. Se Lula voltar ao poder, o partido não descartaria apoiá-lo

Muita coisa pode acontecer até fevereiro de 2023. Se as urnas não rejeitarem o centrão, ele manterá seu poder e o poder do seu líder, Arthur Lira. E será ele que negociará os interesses do parlamento com o próximo presidente, vença quem vencer.