Os fracos argumentos dos lobbies contrários à reforma tributária; leia o artigo

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© Sergio Neves/Estadão.

por Raquel Landim

Passado o carnaval, vai começar o embate no Congresso entre governo federal e os lobbies contrários à reforma tributária. Até aqui os grupos de interesse mais organizados são agriculturaconstrução civilsetor de serviços e as maiores cidades do País.

Cada um desses grupos diz que a criação do Imposto sobre Valor Agregado (IVA) representa aumento na carga tributária e que, por isso, a reforma não deve ser aprovada. Ou pelo menos que não passa pelo crivo de deputados e senadores sem uma exceção para o seu segmento.

Mas os argumentos resistem a uma análise mais aprofundada?

A alíquota do ISS (serviços) varia entre 2% e 5%, enquanto a alíquota média do ICMS (bens) fica em torno de 17% a 18%. Sem dúvida, qualquer alíquota única teria que reduzir essa distorção entre indústria e serviços.

Tributaristas ponderam, porém, que é preciso colocar nas contas o sistema de crédito e débito do IVA. Insumos adquiridos para a prestação do serviço ou produção do bem geram um crédito que é abatido na hora de pagar o imposto.

Nos serviços prestados no meio das cadeias produtivas, o sistema de crédito e débito empata o jogo. Prestadores de serviços ao consumidor, que não conseguem descontar o crédito, já estão no regime do Simples, que vai acabar fora da reforma.

Onde está a perda?

A lógica é parecida na construção civil. Empreiteiras de obras de infraestrutura, que trabalham para outras empresas, terão crédito. Enquanto incorporadoras de imóveis destinados ao consumidor devem contar com regime diferenciado.

Na agricultura, a situação é mais estranha. Parlamentares ligados ao setor têm receio de perder a isenção do ICMS na exportação. Mas os textos da reforma que circulam no Congresso garantem exportação livre de impostos. O que nos leva a outra pergunta. Quais benesses o lobby agrícola efetivamente quer?

Por fim, os grandes municípios resistem em abrir mão do ISS, imposto com maior tendência de crescimento que o ICMS. Só que estudo recente demonstrou que, ao final do longo período de transição, apenas 13 municípios perderiam arrecadação.

É natural numa reforma o receio da mudança do status quo. Cabe ao governo explicar em detalhes e os setores também precisam ter espírito público.

A unificação dos impostos sobre consumo vai elevar a competitividade da economia e gerar mais crescimento. No médio e longo prazos, todos ganham. / RAQUEL LANDIM É JORNALISTA

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