Pague Menos planeja abrir 120 lojas e incorporar 400 da Extrafarma em 2022
Por Talita Nascimento
Depois de abrir 80 lojas em 2021, a Pague Menos anunciou nesta quinta-feira, 24, planos para realizar uma expansão ainda maior em 2022. Serão 120 novos pontos, boa parte em cidades menores, de 50 mil a 100 mil habitantes. Desde a sua oferta pública de ações, em 2020, a rede tem planejado um crescimento intenso. Em 2022, ainda devem passar a fazer parte da companhia as quase 400 lojas da Extrafarma. A rede foi comprada pela companhia nordestina em maio do ano passado, mas a transação ainda aguarda aval do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). A expectativa é de que, até agosto, o órgão termine de avaliar o caso.
Longe de ser a única rede de drogarias a avançar pelo país, a Pague Menos traçou seu plano apoiada em suas fortalezas. Seu modelo de negócios roda bem em cidades pequenas no Norte e Nordeste, onde a marca é mais conhecida.
Além disso, com foco nas classes B-, C e D, a empresa afirma batalhar para manter seus preços, em média, 5% abaixo dos principais concorrentes locais. A gestão diz que consegue competir e ter rentabilidade nessas localidades. Para redes com público-alvo de classes mais altas, muitas vezes, os municípios em questão não apresentam tanta demanda.
“Nas cidades de 50 mil a 100 mil habitantes, a maior parte do mercado está com farmácias independentes e associações”, diz Luiz Renato Novais, diretor financeiro da companhia. Ele acredita que há muito espaço para consolidação de mercado nessa localidades, mas também ao redor do País.
“As 26 maiores redes de farmácia do Brasil têm, juntas, menos da metade do mercado nacional, a outra metade é de farmácias independentes e associações. Nos Estados Unidos, as cinco maiores redes têm 81% do mercado. Aqui, as cinco maiores têm 30%. Com nossas 1.200 lojas, hoje, temos 5,4% no mercado brasileiro”, afirma.
A concorrente RaiaDrogasil, por sua vez, tem plano de expansão ainda mais intenso, foram 240 novas lojas em 2021. Para este ano, o plano é abrir mais 260 unidades no País. O que Novais avalia é que essa e outras grandes redes ainda terão espaço para ganhar mercado, já que o setor cresce proporcionalmente ao envelhecimento da população.
Em 2021, com o impulso da pandemia, o crescimento foi de 16% no faturamento do segmento, segundo dados da Associação Brasileira de Farmácias (Abrafarma). Novais diz ver oportunidades de crescimento orgânico ou por meio de fusões e aquisições, mas essa segunda opção – ao menos no curto e médio prazo – está fora do planejamento da Pague Menos, que tem de digerir a grande compra feita em maio do ano passado.
Para Eugênio Foganholo, sócio da consultoria especializada em varejo Mixxer, o plano da Pague Menos, de crescer onde já tem bases estabelecidas, é mais efetivo do que a tentativa da rede anos atrás. “Há alguns anos a rede fez uma expansão bastante agressiva, sendo a primeira a estar em todos os estados brasileiros. Com alta pulverização de lojas, a marca não possuía relevância em cidades médias e grandes, pois tinha poucos pontos de vendas. E farmácia é, acima de tudo, conveniência”, explica.
Além disso, ele pontua que em cidades maiores, muitas vezes, a concorrência já está bem estabelecida e mais conhecida pelo público, o que dificulta a chegada de novos entrantes. “Onde a Pague Menos sempre teve melhor desempenho foi em cidades menores: comparativamente com as farmácias locais seu sortimento e nível de serviço é muito melhor”, afirma Foganholo. Ele pontua, porém, um desafio para a rede: o crescimento das redes de associações – farmácias independentes que se juntam em associações, às vezes até sob uma mesma bandeira, para ter negociações melhores.
“A vantagem competitiva que a Pague Menos possui nesses locais há alguns anos, que era muito grande, atualmente é menor, mas certamente ainda vantajosa a ela”, diz.
Inflação a favor
A empresa terminou bem o ano de 2021. O banco Safra avaliou que a companhia acelerou seu ritmo de abertura de pontos de venda no quarto trimestre de 2021, ao mesmo tempo em que melhorou a produtividade de suas lojas (receita/loja), o que levou a um aumento de 8% no faturamento em relação às estimativas do banco. Em relatório, o analista Vitor Pini destaca que o indicador está alinhado com a tese de investimento para a empresa de expansão da receita e crescimento do lucro por ação (EPS) devido a maior produtividade na base de lojas atual e novas lojas.
Para 2022, o cenário de inflação é visto pela empresa como “neutro”. “O ano começou muito bom. Em janeiro, por conta da demanda da onda da variante Ômicron, do coronavírus, tivemos uma demanda muito grande de testes de covid e de produtos de influenza e gripe. De fevereiro para cá, o pico arrefeceu bastante e a demanda normalizou. A inflação pesa na economia, mas no setor impacto é menor. Como temos preço regulado, acreditamos que o reajuste determinado pelo governo será suficiente para repassar inflação”, afirma Novais.
Ele diz que em tempos de menos renda disponível, é possível ver o consumidor migrando para produtos e medicamentos mais baratos. Nos dois casos, a troca é benéfica para o modelo de negócios da companhia. Em produtos de higiene e beleza, aumentam as vendas da marca própria, que traz margens melhores para a companhia do que as líderes de mercado.
Em medicamentos, a lógica é a mesma: o público migra ainda mais para os genéricos. Novais explica que o preço da categoria é em média metade do medicamento de referência. No exemplo dado pelo diretor financeiro, se um remédio custa R$ 100 para a drogaria e a margem é, em média, de 18% a 20%, o preço ao consumidor termina em torno de R$ 120. Já um genérico que custa R$ 50 e, ao qual é aplicada margem de 50%, termina valendo na gôndola R$ 75. Ou seja, o preço continua mais baixo para o cliente e a farmácia tem mais rentabilidade.