Palestrante faz queixa à polícia após ser acusada na web de comemorar morte de brasileira em Israel; evento na UEPB foi cancelado
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Reitoria da UEPB, em Campina Grande — Foto: Divulgação/UEPB
Por Diogo Almeida e Gabriela Loiolla
Uma pesquisadora da Universidade de São Paulo (USP) registrou um boletim de ocorrência na Polícia Civil alegando ter sido vítima de ameaça e de fake news após usuários do X (ex-Twitter) divulgarem que ela teria comemorado a morte da brasileira Bruna Valeanu, que estava na rave Universo Paralello, em Israel, quando o local foi atacado pelo Hamas.
![Fernanda diz que usuários do X (ex-Twitter) criaram um print falso, usando a imagem e o nome de usuário dela, em que ela estaria comemorando a morte da brasileira em Israel — Foto: Reprodução](https://i0.wp.com/s2-g1.glbimg.com/nN5uCTU_7IyCaHMArkV-ilt3K24=/0x0:1080x1018/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2023/C/k/FlH6ngRH2V8NklBvTBCA/print.jpeg?resize=619%2C584&ssl=1)
Fernanda de Melo, de 23 anos, é formada em relações internacionais pela Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) e pós-graduanda em gestão de políticas públicas pela USP, e, por causa de sua pesquisa acadêmica, postava com frequência sobre o conflito entre Israel e Palestina.
No dia da confirmação da morte de Bruna Valeanu, ela alega que utilizaram a foto e o nome de usuário dela para postar a mensagem “foi tarde”, como se ela estivesse comemorando a morte da brasileira.
![Fernanda de Melo registrou um BO na Polícia Civil de São Paulo alegando ter sido vítima de ameaça e fake news em postagem onde estaria comemorando morte de brasileira em Israel — Foto: Reprodução](https://i0.wp.com/s2-g1.glbimg.com/79rJ-gSUXa5S9YuytGrRwEkWF4M=/0x0:2340x3327/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2023/q/A/zOaU33QeicSm7079qwrA/bo.jpg?resize=640%2C910&ssl=1)
Esta reportagem conversou com Fernanda, que autorizou a divulgação das informações do B.O, registrado em São Paulo, no dia 11 de outubro.
No documento, a jovem descreve que os perfis “divulgaram informações falsas (fake news)”, relacionadas a ela, e que “essas publicações enganosas tinham o claro propósito de difamar e desacreditar” a imagem dela.
Fernanda alega ainda que a divulgação da suposta montagem incitou outros usuários a prossegui-la, e que “ameaçam divulgar dados pessoais e de familiares”.
Segundo a jovem, “essa escalada de hostilidade está gerando transtornos psicológicos terríveis e imensuráveis” contra ela, afetando a saúde mental e a qualidade de vida “de maneira profunda”.
Na página da revista em que a pesquisadora é editora, um usuário comentou que ela “merecia ser sequestrada e estuprada”.
![Pesquisadora que fez BO por difamação após fake news recebeu ameaças nas redes sociais após suposto tweet onde teria comemorado morte de brasileira em Israel — Foto: Reprodução/Redes sociais](https://i0.wp.com/s2-g1.glbimg.com/FIKPjeDJLzJmHUCkenQN1sjP8Ts=/0x0:1600x900/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2023/W/n/YnmriBRuSbxP7VbAAG1A/ameacas.jpg?resize=640%2C360&ssl=1)
Em outra postagem, usuários relatam que os dados dela e dos familiares já estavam sendo publicados no aplicativo Telegram, e outra pessoa responde pedindo o grupo onde estavam os dados.
Um terceiro post mostra também que uma usuária apagou a publicação após internautas começarem a ameaçar Fernanda. “O confronto tem que ser no campo das ideias”, postou a usuária.
Na quinta-feira (19), esta reportagem conversou com Fernanda de Melo, que relatou sobre a situação.
“Uma imagem surgiu de uma suposta fala minha em contas de perfis de extrema-direita. A primeira conta apagou a imagem dentro de algumas horas pois, segundo ele, estavam me ameaçando. Mas a situação já havia sido criada. Há uma semana, eu venho enfrentando ameaças de agressão, perseguição, exposição de dados meus e de familiares e morte”, disse.
“Entraram em contato com as universidades nas quais possuo vínculo, projetos internacionais, tudo para me prejudicar por algo que a internet sequer vai atrás para entender se é verdade ou não. Vi vários comentários sugerindo que desativei minhas redes sociais por medo, mas eu estou no início dos 20 anos e precisei ler os horrores que desejariam fazer comigo”, completou Fernanda.
Ainda de acordo com a pesquisadora, a repercussão da divulgação da fake news tem causado também prejuízos acadêmicos.
A revista Carpas, da qual ela faz parte como editora, publicou uma nota sobre o caso e explicou que vai apurar a situação.
“Não toleramos qualquer manifestação de preconceito, discriminação ou que vá contra os direitos humanos. Repudiamos veementemente qualquer forma de violência, inclusive ataques e ameaças aos envolvidos. Reforçamos que a Revista CARPAS é uma iniciativa voluntária, sem qualquer fim lucrativo, que objetiva construir uma plataforma para compartilhar uma visão de mundo emancipadora, solidária e de justiça social. Também não concordamos com movimentações de cancelamento, rechaço e linchamento, portanto estamos averiguando a situação e tomaremos as melhores medidas seguindo os princípios da Revista, em compromisso com os valores democráticos. Neste momento, queremos expressar nossa solidariedade ao povo Palestino e povo de Israel, civis e familiares, que tem sofrido com o conflito histórico em sua região. É essencial que busquemos compreender as complexidades dessa situação para a promoção da cultura de paz e de respeito aos povos”, diz o texto.
Evento na UEPB
No último sábado (14), Fernanda iria participar de uma palestra na Universidade da Paraíba, com o tema “Entendendo o Conflito entre Israel e Palestina”. Após a circulação das imagens na internet, a coordenação do evento procurou a jovem, que decidiu, por questões de segurança, cancelar a participação no evento.
“Eu inclusive pedi para que o evento nem fosse cancelado, só que me substituíssem, pois achava importante falar sobre o tema”, disse Fernanda.
A assessoria de imprensa da UEPB informou que a coordenação do evento, em comum acordo com a pesquisadora, resolveu cancelar a participação dela. Diante da repercussão do tema, a coordenação também resolveu cancelar todo o evento, conforme nota publicada nas redes sociais na quarta-feira (18).
“Reiteramos que a UEPB não corrobora com condutas de racismo, intolerância e tem implementado ações que permitem o desenvolvimento de competências que vão além da formação técnica e profissional, mas possibilitam um olhar empático diante das outras pessoas. Isso tem pautado as práticas, eventos e ações promovidas pelos pesquisadores da Instituição”, afirmou a coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais da UEPB, em nota postada no site da instituição.