Palestrante faz queixa à polícia após ser acusada na web de comemorar morte de brasileira em Israel; evento na UEPB foi cancelado

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Reitoria da UEPB, em Campina Grande — Foto: Divulgação/UEPB

Por Diogo Almeida e Gabriela Loiolla

Uma pesquisadora da Universidade de São Paulo (USP) registrou um boletim de ocorrência na Polícia Civil alegando ter sido vítima de ameaça e de fake news após usuários do X (ex-Twitter) divulgarem que ela teria comemorado a morte da brasileira Bruna Valeanu, que estava na rave Universo Paralello, em Israel, quando o local foi atacado pelo Hamas.

Fernanda diz que usuários do X (ex-Twitter) criaram um print falso, usando a imagem e o nome de usuário dela, em que ela estaria comemorando a morte da brasileira em Israel — Foto: Reprodução
Fernanda diz que usuários do X (ex-Twitter) criaram um print falso, usando a imagem e o nome de usuário dela, em que ela estaria comemorando a morte da brasileira em Israel — Foto: Reprodução

Fernanda de Melo, de 23 anos, é formada em relações internacionais pela Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) e pós-graduanda em gestão de políticas públicas pela USP, e, por causa de sua pesquisa acadêmica, postava com frequência sobre o conflito entre Israel e Palestina.

No dia da confirmação da morte de Bruna Valeanu, ela alega que utilizaram a foto e o nome de usuário dela para postar a mensagem “foi tarde”, como se ela estivesse comemorando a morte da brasileira.

Fernanda de Melo registrou um BO na Polícia Civil de São Paulo alegando ter sido vítima de ameaça e fake news em postagem onde estaria comemorando morte de brasileira em Israel — Foto: Reprodução
Fernanda de Melo registrou um BO na Polícia Civil de São Paulo alegando ter sido vítima de ameaça e fake news em postagem onde estaria comemorando morte de brasileira em Israel — Foto: Reprodução

Esta reportagem conversou com Fernanda, que autorizou a divulgação das informações do B.O, registrado em São Paulo, no dia 11 de outubro.

No documento, a jovem descreve que os perfis “divulgaram informações falsas (fake news)”, relacionadas a ela, e que “essas publicações enganosas tinham o claro propósito de difamar e desacreditar” a imagem dela.

Fernanda alega ainda que a divulgação da suposta montagem incitou outros usuários a prossegui-la, e que “ameaçam divulgar dados pessoais e de familiares”.

Segundo a jovem, “essa escalada de hostilidade está gerando transtornos psicológicos terríveis e imensuráveis” contra ela, afetando a saúde mental e a qualidade de vida “de maneira profunda”.

Na página da revista em que a pesquisadora é editora, um usuário comentou que ela “merecia ser sequestrada e estuprada”.

Pesquisadora que fez BO por difamação após fake news recebeu ameaças nas redes sociais após suposto tweet onde teria comemorado morte de brasileira em Israel — Foto: Reprodução/Redes sociais
Pesquisadora que fez BO por difamação após fake news recebeu ameaças nas redes sociais após suposto tweet onde teria comemorado morte de brasileira em Israel — Foto: Reprodução/Redes sociais

Em outra postagem, usuários relatam que os dados dela e dos familiares já estavam sendo publicados no aplicativo Telegram, e outra pessoa responde pedindo o grupo onde estavam os dados.

Um terceiro post mostra também que uma usuária apagou a publicação após internautas começarem a ameaçar Fernanda. “O confronto tem que ser no campo das ideias”, postou a usuária.

Na quinta-feira (19), esta reportagem conversou com Fernanda de Melo, que relatou sobre a situação.

“Uma imagem surgiu de uma suposta fala minha em contas de perfis de extrema-direita. A primeira conta apagou a imagem dentro de algumas horas pois, segundo ele, estavam me ameaçando. Mas a situação já havia sido criada. Há uma semana, eu venho enfrentando ameaças de agressão, perseguição, exposição de dados meus e de familiares e morte”, disse.

“Entraram em contato com as universidades nas quais possuo vínculo, projetos internacionais, tudo para me prejudicar por algo que a internet sequer vai atrás para entender se é verdade ou não. Vi vários comentários sugerindo que desativei minhas redes sociais por medo, mas eu estou no início dos 20 anos e precisei ler os horrores que desejariam fazer comigo”, completou Fernanda.

Ainda de acordo com a pesquisadora, a repercussão da divulgação da fake news tem causado também prejuízos acadêmicos.

A revista Carpas, da qual ela faz parte como editora, publicou uma nota sobre o caso e explicou que vai apurar a situação.

“Não toleramos qualquer manifestação de preconceito, discriminação ou que vá contra os direitos humanos. Repudiamos veementemente qualquer forma de violência, inclusive ataques e ameaças aos envolvidos. Reforçamos que a Revista CARPAS é uma iniciativa voluntária, sem qualquer fim lucrativo, que objetiva construir uma plataforma para compartilhar uma visão de mundo emancipadora, solidária e de justiça social. Também não concordamos com movimentações de cancelamento, rechaço e linchamento, portanto estamos averiguando a situação e tomaremos as melhores medidas seguindo os princípios da Revista, em compromisso com os valores democráticos. Neste momento, queremos expressar nossa solidariedade ao povo Palestino e povo de Israel, civis e familiares, que tem sofrido com o conflito histórico em sua região. É essencial que busquemos compreender as complexidades dessa situação para a promoção da cultura de paz e de respeito aos povos”, diz o texto.

Evento na UEPB

No último sábado (14), Fernanda iria participar de uma palestra na Universidade da Paraíba, com o tema “Entendendo o Conflito entre Israel e Palestina”. Após a circulação das imagens na internet, a coordenação do evento procurou a jovem, que decidiu, por questões de segurança, cancelar a participação no evento.

“Eu inclusive pedi para que o evento nem fosse cancelado, só que me substituíssem, pois achava importante falar sobre o tema”, disse Fernanda.

A assessoria de imprensa da UEPB informou que a coordenação do evento, em comum acordo com a pesquisadora, resolveu cancelar a participação dela. Diante da repercussão do tema, a coordenação também resolveu cancelar todo o evento, conforme nota publicada nas redes sociais na quarta-feira (18).

“Reiteramos que a UEPB não corrobora com condutas de racismo, intolerância e tem implementado ações que permitem o desenvolvimento de competências que vão além da formação técnica e profissional, mas possibilitam um olhar empático diante das outras pessoas. Isso tem pautado as práticas, eventos e ações promovidas pelos pesquisadores da Instituição”, afirmou a coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais da UEPB, em nota postada no site da instituição.

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