Foto: Vinícius Schmidt/Metrópoles

João Vítor Cavalcanti está há quatro meses no seu emprego e quer ser exemplo para outras pessoas com TEA — Foto: TV Cabo Branco/Reprodução

É um trabalho árduo e contínuo. Que, antes de tudo, conta com o apoio da própria família, que encampa o protagonismo na luta contra o preconceito e contra a exclusão. Pois é essa a realidade das pessoas afetadas pelo transtorno do espectro autista (TEA), uma condição que atualmente afeta algo em torno de dois milhões de brasileiros, sendo que aproximadamente 36 mil deles estão na Paraíba.

A boa notícia, principalmente para este sábado (2), data em que a Organização das Nações Unidas (ONU) institui como sendo o Dia Mundial de Conscientização Sobre o Autismo, é que cada vez mais parcelas da sociedade civil organizada vêm se mobilizando para dar mais oportunidades a essas pessoas, fazendo com que elas sejam incluídas no mercado de trabalho e se sintam cada vez mais integradas.

É o caso, por exemplo, do jovem João Vítor Cavalcanti. Ele passou no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) para cursar Direito na Universidade Federal da Paraíba (UFPB), mas em paralelo a isso já conseguiu um emprego numa clínica médica de João Pessoa para atuar no setor administrativo. Ele disse que soube da vaga meio por acaso, por intermédio de seu irmão que já trabalhava na empresa, e resolveu tentar a sorte. Passou por entrevistas, pelo processo de seleção e foi aprovado.

João Vítor admite que teve medo no início. Principalmente de eventuais casos de preconceito pelo fato dele ter autismo. Mas que, ao mesmo tempo, sentia-se como um exemplo que poderia enviar uma mensagem importante:

“Eu percebo que dou muitas forças para que outras pessoas com autismo entendam que a gente vive a vida como todo mundo”, ensina.

Já são quatro meses no novo trabalho e ele se sente feliz com a oportunidade. “Eu gosto bastante do trabalho. Já me adaptei”, comenta.

Sobre o futuro, o jovem admite que ainda ronda algumas dúvidas. Mas vê como possibilidade tentar fazer um concurso público para ser policial, mas isso apenas depois de finalizado o curso de Direito.

A propósito, a experiência de João Vìtor na clínica foi tão bem-sucedida que, tal como ele previra, seu exemplo de fato abriu portas para novas pessoas e novas possibilidades. Pouco tempo depois dele ser admitido, foi a vez de Gilmar Nobre, outro jovem com autismo, ser contratado pela mesma empresa.

Os dois são amigos de longas datas. E a parceria agora acontece também no ambiente de trabalho: “O engraçado é que quando vim tentar o emprego, eu nem sabia que João já trabalhava aqui. É ótimo trabalhar com ele. A gente se ajuda, tira dúvidas uns dos outros. Somos estudantes, então estamos sempre aprendendo”, comenta Nobre.

Funcionários modelos

João Vítor Cavalcanti não se atrasa. Nunca. Nem sai antes da hora de ir embora. Adota uma disciplina rígida e, para evitar contratempos no caminho, chega sempre meia hora antes em seu local de trabalho. Ainda que só comece a trabalhar às 8h, está invariavelmente, todos os dias, no seu posto de trabalho às 7h30.

De acordo com Renata Nagy, que é a dona da clínica, essa é uma característica de quem convive com o autismo. A clínica dela atende pacientes com autismo e ela fala com propriedade ao discutir a questão. Segundo ela, essa exigência por bons resultados é muito característico de pessoas com esse perfil.

“Um indivíduo com TEA vai ter mais comprometimento do que outros” no ambiente de trabalho, atesta Nagy.

Renata Nagy diz que os funcionários com TEA são mais comprometidos — Foto: TV Cabo Branco/Reprodução

De forma que, se havia medo por parte de João Vítor de sofrer preconceitos, o tempo mostrou que a empresa comemora a sua presença no local. “Ele acaba beneficiando a empresa. Porque o medo de se atrasar faz ele chegar mais cedo”.

Renata explica que apenas poucas adaptações são necessárias. Por exemplo, ela destaca que João costuma ficar mais nervoso quando tem muito barulho no ambiente ou quando ele comete algum erro, porque pessoas com TEA têm mesmo dificuldade em lidar com o erro. Mas, ela explica, tudo é facilmente solucionado. “A gente quer que eles se sintam bem no ambiente de trabalho”, define.

Para tanto, algumas estratégias são pensadas. Nesses casos de maior estresse, o jovem pode parar um pouco, dar uma caminhada rápida, desenhar um pouco, ler. Nada que afete o seu bom desempenho profissional, Nagy garante.

“Ele trabalha como qualquer indivíduo. Porque pessoas com TEA possuem todas as capacidades de qualquer outro indivíduo. É só dar oportunidade”, finaliza ela.

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