PF indica que Silvinei Vasques teria determinado “policiamento direcionado” da PRF em 2º turno das eleições

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Silvinei Vasques. Foto: Divulgação

Por Fernanda Pinotti

O ex-diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal (PRF) Silvinei Vasques teria determinado “policiamento direcionado” durante uma reunião de gestão pouco antes do dia do segundo turno das eleições de 2022, segundo investigação da Polícia Federal (PF).

Vasques foi preso na quarta-feira (9) em Florianópolis em operação da PF no âmbito da Operação Constituição Cidadã. Ele já foi levado a Brasília.

As provas foram encontradas após a apreensão pela PF do telefone celular de Adiel Pereira Alcântara, então coordenador de análise de inteligência da PRF.

Em uma conversa entre Adiel e um de seus subordinados da PRF, Paulo César Botti Alves Júnior, o então coordenador disse que Silvinei teria falado “muita merda” durante uma reunião de gestão no dia 19 de outubro de 2022 e determinado “policiamento direcionado”.

A imagem abaixo está anexada ao ofício feito pela Polícia Federal sobre a investigação:

Levantamento feito pelo Ministério da Justiça

No documento, a Polícia Federal explica que as investigações sobre possível interferência nas eleições tiveram início após uma denúncia de Clebson Vieira, então analista de inteligência do Ministério da Justiça e da Segurança Pública, na gestão Anderson Torres.

Clebson disse que, após o primeiro turno das eleições em 2022, a diretora de inteligência do Ministério na época, Marília Alencar, solicitou a ele que fizesse várias análises estatísticas, dentre elas um levantamento dos municípios nos quais houvesse votação superior a 75% em um dos candidatos à Presidência – Lula (PT) e Jair Bolsonaro (PL). Ele “estranhou” a demanda, e por isso procurou a PF.

Segundo Clebson, ele teria percebido que a PRF agiu no dia do segundo turno, em 30 de outubro de 2022, com base nos dados de seu levantamento, com blitze “em municípios ou próximas a municípios nos quais o então candidato Lula tivesse votação acima de 75%”.

A PF destaca que também ouviu Marília Alencar, que confirmou o pedido, mas alegou que os dados seriam confrontados com os partidos políticos dos respectivos prefeitos dos municípios, para procurar indicativos de compra de votos.

Imagem armazenada no celular de Marília Alencar, com o resultado do levantamento de municípios com mais de 75% dos votos para Lula (PT) no primeiro turno das eleições de 2022. / Reprodução

Alencar ainda afirmou que apresentou a planilha ao então ministro da Justiça, Anderson Torres, durante uma reunião.

Em seu depoimento à PF, Anderson Torres afirmou que não levou a planilha em questão ao conhecimento da PRF, e que acredita que não houve difusão sequer pelos canais de inteligência.

Segundo Torres, Silvinei Vasquez teria lhe dito que “a ação foi praticamente a mesma do primeiro turno, não tendo havido qualquer direcionamento”.

Diferentes procedimentos entre 1º e 2º turno

No ofício da Polícia Federal, é destacado um ofício emitido pelo atual diretor-geral da PRF, Fernando Oliveira, no qual consta que: “houve inicialmente a emissão de um único Plano de Trabalho, datado em 27 de setembro de 2022, que englobaria as operações do 1º e 2º turnos, caso houvesse”.

Entretanto, o ofício destaca que, em 26 de outubro, quatro dias antes do segundo turno, “houve novo Plano de Trabalho, nomeado ‘2º Turno’, em que houve deliberação pelo Diretor-Geral e pelo Diretor de Operações desta PRF, gerando novo Plano de Trabalho previsão de fiscalização de transporte de passageiros, que não foi abarcada no planejamento inicial, havendo, portanto, diferença de procedimentos entre o 1º Turno e o 2º Turno das Eleições”.

Em depoimento, o ex-diretor da PRF Silvinei Vasquez teria ressaltado que o número de abordagens durante o segundo turno foi maior “porque o Ministério da Justiça fez uma operação”. E que a operação não era da PRF, e sim do Ministério da Justiça.

PF relata “reverência” de policiais a Silvinei

No documento da Polícia Federal, se destaca a necessidade de ouvir os servidores da PRF presentes na reunião de gestão do dia 19 de outubro do ano passado, para que eles possam “esclarecer a forma como lhes foi transferida a determinação do ‘policiamento direcionado’”.

“Visando evitar uma combinação de versões, o ideal é que todos sejam ouvidos de forma concomitante, sendo que a manutenção do investigado em liberdade pode vir a
comprometer a eficácia das diligências, já que, ainda que aposentado, é muito provável que haja uma reverência de tais Policiais Rodoviários Federais àquele Diretor-Geral que os indicou para as respectivas funções”, diz o documento da PF.

A Polícia Federal aponta que “tal reverência fica nítida” ao verificar que policiais rodoviários federais que já prestaram depoimento à PF preferiram faltar com a verdade, mesmo sabendo que a análise do conteúdo de seus celulares os desmentiriam, e suportar eventuais ações adversas a relatar determinações ilegais de Silvinei Vasques.

Suposta interferência no dia das eleições

Durante a realização do segundo turno das eleições, em 30 de outubro, a PRF realizou mais de 500 operações no transporte de eleitores em diversas estradas do país. As ações foram suspensas após pedido da Justiça Eleitoral.

No mesmo dia, o então presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Alexandre de Moraes, disse que as operações não impediram eleitores de chegarem aos seus locais de votação. Apesar disso, pessoas relataram dificuldade em chegar aos locais de votação.

Segundo a PF, o objetivo da operação da quarta-feira (9), que prendeu Vasques, é esclarecer o suposto uso da máquina pública para interferir no processo eleitoral.

De acordo com as investigações, integrantes da Polícia Rodoviária Federal teriam “direcionado recursos humanos e materiais com o intuito de dificultar o trânsito de eleitores no dia 30 de outubro de 2022”.

“Os crimes apurados teriam sido planejados desde o início de outubro daquele ano, sendo que, no dia do segundo turno, foi realizado patrulhamento ostensivo e direcionado à região Nordeste do país”, acrescenta a Polícia Federal.

Segundo a PF, os fatos investigados na operação “configuram, em tese, os crimes de prevaricação e violência política, previstos no Código Penal Brasileiro, e os crimes de impedir ou embaraçar o exercício do sufrágio e ocultar, sonegar, açambarcar ou recusar no dia da eleição o fornecimento, normalmente a todos, de utilidades, alimentação e meios de transporte, ou conceder exclusividade dos mesmos a determinado partido ou candidato, do Código Eleitoral Brasileiro”.

Depoente na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do 8 de janeiro no último dia 20 de junho, Silvinei se defendeu das acusações de interferência na disputa presidencial e negou qualquer irregularidade nas blitze realizadas pela PRF. Ele ainda admitiu ser alvo de processo por improbidade administrativa no Rio de Janeiro.

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