PMs que abordaram jovem achado morto após ser colocado em viatura estão envolvidos em outros casos de mortes em Goiás
Os policiais militares que abordaram o jovem Henrique Alves Nogueira, que foi achado morto após ser colocado em uma viatura, estão envolvidos em outros casos de homicídios em Goiás. O levantamento foi feito pelo site g1, no sistema de busca pública do Tribunal de Justiça de Goiás (TJ-GO) (veja abaixo).
O portal não localizou a defesa dos policiais militares envolvidos na ocorrência até a última atualização desta reportagem. De acordo com o delegado responsável pelo caso, André Veloso, os agentes continuam presos e não apresentaram defesa nos autos até a manhã da quinta-feira (18).
Em nota, a Polícia Militar de Goiás informou que os procedimentos foram instaurados pela própria corporação. Disse também que não compactua com nenhum tipo de desvio de conduta e que o caso está sendo apurado com o devido rigor.
Segundo a Polícia Civil, os policiais são: sargento Cleber Leandro Cardoso, cabo Guidion Ananias Galdino, soldado Kilber Pedro Morais e Mayk Da Silva Moura. Eles foram presos na noite de terça-feira (16).
Conforme o sistema Processo Judicial Digital (Projudi) – busca pública de processos do Tribunal de Justiça de Goiás (TJ-GO)- são, ao menos, oito processos por homicídio em que os nomes dos policiais estão envolvidos. Sem contar com o caso do jovem Henrique.
- Guidion Ananias Galdino – aparece em 5 processos por homicídio, um por lesão leve e outro por ameaça;
- Kilber Pedro Morais – aparece em um processo por homicídio, dois por lesão leve e um por fato atípico;
- Cleber Leandro Cardoso- aparece em dois processos por homicídio e um por lesão leve;
- Mayk Da Silva Moura– aparece em dois processos por homicídio.
O sistema aponta que, três, dos quatro policiais, estão envolvidos na morte de uma mesma pessoa, identificada com as iniciais KGBA, são eles: Guidion, Kilber e Mayk. Já em um outro processo pela morte de outra pessoa, identificada com as iniciais RAR, estão envolvidos: Guidion e Mayk.
A maioria dos processos tem como polo ativo o Ministério Público de Goiás (MP-GO) e a Justiça Pública. O portal solicitou ao MP, por e-mail, na quarta-feira (18), um levantamento sobre quantos casos envolvendo mortes os policiais já foram envolvidos.
Em resposta à reportagem, o MP informou que os dados serão levantados e possivelmente serão utilizados em manifestação futura no processo judicial sobre a morte do jovem Henrique Alves.
Desaparecimento e morte
Na última quinta-feira (11), a câmera de segurança de um comércio filmou quando Henrique Alves caminhava pela rua com as mãos no bolso do casaco. Uma viatura do Tático da Polícia Militar (PM) para ao lado dele, os PMs descem com revólveres nas mãos e o jovem logo se vira contra um muro para ser revistado (veja acima).
A abordagem dura poucos segundos. As imagens mostram que o jovem e os policiais conversam por cerca de cinco minutos. Em seguida, os militares levam Henrique para o porta-malas da viatura. Ele até tenta resistir, mas acaba entrando. O carro da PM, então, segue trajeto desconhecido.
De acordo com o advogado Alan Araújo Dias, que representa a família, o jovem foi abordado no Bairro Jardim Europa por volta de 8h da manhã, a última vez em que foi visto com vida.
Depois disso, a família tentou contato com ele durante todo o dia, mas não conseguiu. Registraram boletim de ocorrência por desaparecimento. À noite, cerca de 12 horas depois da abordagem, receberam a notícia da morte. O corpo foi achado no Bairro Real Conquista, que fica a 14 km do local da abordagem.
O que aconteceu no trajeto
A Polícia Civil investiga o que teria acontecido com Henrique entre o momento da abordagem e a hora que ele foi encontrado. Segundo o delegado André, o jovem foi colocado na viatura por volta de 8h da manhã e a delegacia de Homicídios foi acionada às 22h do mesmo dia, pela mesma viatura, para uma ocorrência de um suposto confronto.
“A versão deles [policiais] é que eles estavam andando ocasionalmente, se depararam com uma moto, pediram para parar, o motociclista fugiu e o carona confrontou a equipe, mas tivemos acesso a imagens que comprovam que, ao invés desse confronto, ele foi abordado e colocado no interior da viatura”, disse o delegado.
Apesar de os militares alegarem que o jovem estava com drogas numa mochila, a Polícia Civil explica que, segundo as imagens que mostram a abordagem, Henrique Alves não portava nenhum dos objetos apontados.
“Na abordagem deu para ver que ele não estava com mochila nenhuma, não estava armado e não estava portando essas drogas. Ele estava sozinho, eles fazem a revista pessoal dele e o colocam no camburão”, explicou o delegado.