Política e futebol: o Brasil não vence copa em momentos de crise

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Seleção brasileira. (Foto: CBF)

Por Josival Pereira

A decepcionante participação da seleção brasileira na Copa do Qatar tem provocado muita polêmica Brasil adentro e afora. Além da decepção, há revolta, descrença na capacidade do futebol nacional e desesperança.

Com as devidas escusas para parafrasear um personagem que talvez não mereça a citação, o problema do debate sobre o futebol e a seleção é que tem se cingido às quatro linhas, como diria o presidente Jair Bolsonaro. O xis da questão talvez não esteja dentro dos limites do esporte.

Um rápido levantamento dos momentos históricos de triunfo mundial da seleção brasileira vai revelar que as conquistas guardam estreita relação com a conjuntura política, econômica e social e o sentimento do povo. É que futebol tem a ver com política, sim senhor.

As conquistas do bicampeonato mundial em 1958 e 1962 aconteceram numa quadra histórica em que o Brasil estava vivenda a grande virada de país agrícola para país industrial, com destaque para a implantação da indústria automobilística,  e a abertura de grandes rodovias, que modernizavam o país, gerando muitos empregos e entusiasmo. Foi neste período que Juscelino Kubitscheck se elegeu prometendo avançar 50 anos em 5 e Brasília foi construída.

Em 1970, quando o Brasil venceu a Copa do Mundo demonstrando muita superioridade, o país vivia, é verdade, os horrores da repressão política, com a morte, tortura e prisões de jovens e militantes da esquerda, mas, por outro lado, experimentava o milagre econômico, momento em que a economia nacional chegou a crescer 13% ao ano, fato que permitiu ao governo militar criar um movimento de ufanismo em relação ao futuro nacional (90 milhões em ação, pra frente Brasil, salve a seleção!).

O tetra campeonato mundial demorou a vir. Após muitas crises vividas no país, chegou 24 anos depois. A conquista de 1994 foi embalada pela consolidação do Plano Real, que, finalmente, exterminava o dragão da inflação e fazia o país voltar a sonhar com a prosperidade. Havia muita alegria nas ruas.

A seleção brasileira engasgou em 1998, perdeu para a França na final, depois de um sério problema de saúde com Ronaldo Fenômeno. Foi o ano da reeleição de Fernando Henrique Cardoso. Havia muitas denúncias de esquemas de corrupção, o governo havia, um ano antes, dobrado o Congresso para aprovar a reeleição e a população já ansiava por mudanças.

De alguma forma, o Brasil voltou respirar esperança na política em 2002. A conquista do penta ocorreu no começo das eleições, mas a campanha de Lulalá, com jingle pra lá de otimista, já estava nas ruas. Havia um sentimento de mudança que contaminava os segmentos mais populares do país. A conquista da copa chegou nessa onda de renovação política nacional.

Sob o signo do mensalão, o Brasil perdeu as copas de 2006 e 2010. Com a Lava Jato em campo, perdeu em 2014, com a derrota de 7 a 1 para a Alemanha, e 2018.

Lógico que as observações levantadas aqui são empíricas e não resultado de um estudo mais profundo, mas é curioso se observar como a confusão que reina na política se assemelha a atuação confusa da seleção brasileira nas disputas no Qatar.

Observe-se ainda que a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) vive momentos de denúncias de corrupção e gestões duvidosas nos últimos anos, em semelhança com o que ocorre na política nacional.

Parece, então, que, definitivamente, o futebol não se joga apenas dentro das quatro linhas e que a seleção brasileira precisa ser contagiada pela alegria do povo para ser vencedora.

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