Presidente de partido brasileiro encontra líder do Hamas e diz que grupo terrorista nega ataques a civis
por Fábio Zanini
O presidente nacional do PCO (Partido da Causa Operária), Rui Costa Pimenta, encontrou-se no último dia 17 de fevereiro com o líder do braço político do Hamas, Ismail Haniyeh, em Doha, no Catar.
A reunião foi o ápice de uma viagem de dez dias do dirigente da legenda brasileira de esquerda radical para o país do Golfo Pérsico. O Catar abriga grande parte do comando político do grupo terrorista palestino, responsável pelos ataques de 7 de outubro do ano passado que deixaram um saldo de 1.200 mortos e 200 reféns em Israel.
“Nossa preocupação fundamental é que o Hamas é um movimento muito caluniado. Defendemos a resistência palestina há muito tempo, não é de agora”, afirmou.
Pimenta pretende dar detalhes da viagem em um evento neste domingo (25) às 14h na sede do PCO, no bairro paulistano da Saúde.
“Conversamos com um monte de gente. Nos receberam muito bem, foram muito amigáveis, agradeceram o apoio que tem vindo do Brasil”, declarou. Ele afirma que a viagem foi custeada com recursos do próprio partido e viabilizada por membros da diáspora palestina em São Paulo.
Pimenta diz que a conversa foi longa e que, antes de começar, Haniyeh estava negociando um acordo de cessar-fogo com Israel para a troca de reféns, ainda não concretizado.
O encontro ocorreu em um escritório usado pela organização. “Lá o Hamas trabalha às claras, em diversos prédios. Na entrada do que local que eu visitei havia um carro da polícia do Catar dando segurança”, diz.
O dispositivo de proteção do dirigente do Hamas, entidade cujos dirigentes têm a cabeça a prêmio por Israel, é modesto, segundo o brasileiro. “Ele tinha ali os seus guarda-costas, mas não era nada demais. Entrar na sede da Al Jazeera [rede de TV] foi mais complicado”.
Os brasileiros também visitaram um hospital para onde foram levados palestinos feridos na faixa de Gaza.
Sobre os ataques do grupo, Pimenta diz que o Hamas nega que tenha alvejado civis inocentes –apesar do farto material de relatos e imagens comprovando que atrocidades ocorreram.
“Eles negam terminantemente os assassinatos de crianças, os estupros. Se aconteceram, não foi da parte deles, e as imagens não são verdadeiras. Disseram que foi uma operação militar. Eles [os membros do grupo] saíram com instruções rigorosas para que os civis não fossem atacados”, afirma.
Já os reféns são mantidos, segundo o dirigente brasileiro, para uma troca com os palestinos em prisões israelenses.
O PCO tem sofrido diversos processos por atacar Israel e o direito do Estado judeu de existir. A legenda tem comandado manifestações em defesa do Hamas, como uma realizada na quinta-feira passada (22) no Rio, aproveitando a presença de chanceleres do G20.
O presidente do partido afirma que sabe que pode sofrer novos processos por ter encontrado Haniyeh.
“É um direito nosso conversarmos com quem quer que seja. O Hamas só é considerado uma organização terrorista pelos EUA. Mas existe terrorismo maior do que Israel matar 30 mil pessoas indefesas?”, questiona.