“Presidente do BC não é deus do Brasil”, diz líder do governo Lula

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José Guimarães. Foto: Zeca Ribeiro / Câmara dos Deputados

Por Guilherme Amado

O deputado José Guimarães (PT-CE), líder do governo Lula na Câmara, afirmou que o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, “quer ser o deus do mercado, mas não é o deus do Brasil”. Em entrevista na quinta-feira (23/3), Guimarães declarou que o Comitê de Política Monetária (Copom) prestou um “desserviço” ao manter a Selic em 13,75%.

“Existe um programa que foi eleito pelas urnas. A autoridade monetária não é maior do que o veredicto das urnas. Todo mundo sabia quais eram as propostas do Bolsonaro e quais eram as do Lula. Ele [Campos Neto] tem que levar isso em conta. Ele não é deus. Ele quer ser o deus do mercado, mas não é o deus do Brasil.”, afirmou Guimarães.

As críticas do líder do governo ocorrem horas após Lula dizer que a taxa de juros é “absurda” e que Campos Neto não foi eleito pelo povo.

Guimarães disse que nunca ouviu Lula falar sobre o afastamento do presidente do BC, mas afirmou que o Congresso precisa discutir a questão dos juros. “Isso não significa que vamos desestabilizar ninguém.”

Confira a entrevista com José Guimarães no vídeo abaixo:

Qual foi a sua opinião sobre a manutenção da taxa de juros em 13,75% pelo Copom?

Vi a declaração do ministro do Haddad mostrando contrariedade. Como líder do governo, eu digo que foi muito ruim. O que me espanta é que o Haddad tem feito todos os esforços. A reforma tributária caminha a passos largos, e o caminho está pavimentado. Mais do que isso, o Haddad já preparou o novo arcabouço fiscal, ele só não está oficializado ainda. Estamos antecipando, sinalizando, mas o Banco Central decide manter a taxa. Não existe país capaz de se sustentar com a taxa de juros tão elevada. Não pode existir um negócio desses. Não temos perspectiva de inflação. O que justifica isso? Parece que é uma disputa para mostrar que tem autonomia. A autoridade monetária tem que levar em conta duas coisas, respeitando a autonomia dada ao Banco Central. Em primeiro lugar, ele [Campos Neto] não está acima do país. Ele tem que considerar o resultado das urnas, tem um programa que foi eleito pelas urnas. A autoridade monetária não é maior do que o veredito das urnas. É um programa que foi eleito, todo mundo sabia quais eram as propostas do Bolsonaro e quais eram as do Lula. Ele [Campos Neto] tem que levar isso em conta. Ele não é Deus. Ele quer ser o Deus do mercado, mas não é o Deus do Brasil. E, em segundo lugar, ele precisa considerar o esforço que a área econômica do governo está fazendo. Não é justo com o Haddad. Essa decisão é um desserviço ao país.

Você percebe uma disposição real do Lula para afastar o presidente do BC e pedir ao Senado que chancele?

Nunca ouvi nem toquei nesse assunto. Nunca conversei sobre isso. O que é público e notório é que o governo está fazendo tudo o que é possível para garantir a estabilidade econômica e o crescimento. Estamos segurando as pontas e fazendo investimentos sociais. A proposta do arcabouço fiscal é para trazer o equilíbrio. O Brasil precisa disso. O Brasil não pode conviver com tantos miseráveis passando fome. [A manutenção da taxa de juros] não é o melhor caminho, não é uma necessidade. Quando você tem uma disparada inflacionária, você justifica a tomada de medidas duras. Mas isso não está acontecendo. Qual é a razão para essa radicalidade toda? [O Campos Neto] quer ser maior do que o governo? Isso não pode.

Você recebeu alguma orientação do governo para convocar o presidente do BC para vir à Câmara prestar esclarecimentos?

Não, não recebi. Nós temos que fazer um debate aqui dentro. Não é um debate sobre convocação ou não. O Congresso precisa discutir essa questão dos juros. O mercado discute, as instituições do mercado discutem, a Av. Paulista e Faria Lima discutem… Por que o Congresso não pode discutir? Qual é o mal nisso? Isso não significa que vamos desestabilizar ninguém. Isso significa que vamos pôr em ordem uma questão central para retomar o crescimento e a geração de oportunidades para o Brasil. Ninguém aguenta mais isso.

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