Primeiros migrantes climáticos chegam à Austrália vindos de Tuvalu, país que está submergindo no Pacífico
Homem próximo ao avanço da maré alta no atol Funafuti, que abriga 60% da população de Tuvalu - Torsten Blackwood - 19.fev.04/AFP
Os primeiros migrantes climáticos a deixarem Tuvalu, uma remota nação insular do Pacífico, chegaram à Austrália, esperando preservar os vínculos com sua ilha natal que está submergindo, disseram autoridades de relações exteriores na quinta-feira (11).
Mais de um terço da população de 11 mil habitantes de Tuvalu solicitou um visto climático para migrar para a Austrália, sob um acordo firmado entre os dois países há dois anos.
A entrada é limitada a 280 vistos anualmente para evitar uma fuga de cérebros na pequena nação insular.
Entre os cidadãos selecionados na primeira leva de migrantes climáticos estão a primeira mulher a operar uma empilhadeira em Tuvalu, um dentista e um pastor focado em preservar suas vidas espirituais a milhares de quilômetros de casa, disseram autoridades do governo australiano.
Tuvalu, um dos países com maior risco devido às mudanças climáticas por causa da elevação do nível do mar, é formado por um grupo de atóis de baixa altitude espalhados pelo Pacífico entre a Austrália e o Havaí.
Manipua Puafolau, de Funafuti, a principal ilha de Tuvalu, chegou à Austrália há duas semanas. Pastor em treinamento na igreja mais proeminente de sua terra natal, ele planeja viver na pequena cidade de Naracoorte, no estado da Austrália do Sul, onde várias centenas de ilhéus do Pacífico trabalham em empregos sazonais na agricultura e no processamento de carne.
“Para as pessoas que estão se mudando para a Austrália, não se trata apenas de seu bem-estar físico e econômico, mas também de orientação espiritual”, afirmou em um vídeo divulgado pelo departamento de relações exteriores da Austrália.
O primeiro-ministro de Tuvalu, Feleti Teo, visitou a comunidade tuvaluana em Melton, Melbourne, no mês passado para enfatizar a importância de manter fortes laços e vínculos culturais através das fronteiras à medida que os cidadãos migram, disseram autoridades da nação insular.

Em Funafuti, a terra é apenas um pouco mais larga que a estrada em muitos trechos. As famílias vivem sob telhados de palha, e as crianças jogam futebol na pista do aeroporto devido às restrições de espaço.
Até 2050, cientistas da Nasa (agência espacial dos EUA) projetam que as marés diárias submergirão metade do atol de Funafuti, lar de 60% dos residentes de Tuvalu, onde os moradores se agarram a uma faixa de terra estreita, que chega a 20 metros.
A previsão assume uma elevação de um metro no nível do mar, enquanto no pior cenário, o dobro disso, 90% do principal atol do país ficaria submerso.
‘Mobilidade com dignidade’
A ministra das Relações Exteriores da Austrália, Penny Wong, disse que os migrantes climáticos contribuirão para a sociedade australiana.
O visto ofereceu “mobilidade com dignidade, proporcionando aos tuvaluanos a oportunidade de viver, estudar e trabalhar na Austrália à medida que os impactos climáticos pioram”, disse Wong em um comunicado à agência de notícias Reuters.
Serviços de apoio estão sendo estabelecidos pela Austrália para ajudar as famílias tuvaluanas a se firmarem nas cidades costeiras de Melbourne e Adelaide, além do estado do norte de Queensland.
Kitai Haulapi, a primeira mulher a operar uma empilhadeira em Tuvalu, recentemente se casou e vai se mudar para Melbourne, com população de 5 milhões. Em um vídeo divulgado pelo departamento de relações exteriores da Austrália, ela diz que espera encontrar um emprego no país e continuar contribuindo para Tuvalu enviando dinheiro de volta para sua família.
A dentista Masina Matolu, que tem três filhos em idade escolar e um marido marinheiro, vai se mudar com sua família para a cidade australiana de Darwin, no norte. Ela planeja trabalhar com comunidades indígenas.
“Eu sempre posso trazer o que quer que eu aprenda de novo na Austrália de volta para minha cultura natal, para ajudar”, disse ela em um comunicado em vídeo.