Proposta da UE é “inaceitável”, diz Lula ao assumir presidência do Mercosul

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Lula. Foto: PT/Ricardo Stuckert

Por Ana Carolina Nunes

O Brasil assumiu na terça-feira (4) o comando do Mercosul, bloco que reúne Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai. Os países-membros se revezam na presidência a cada seis meses.

Tendo como principal agenda o acordo com o bloco europeu, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse estar “comprometido com o acordo”, mas que “deve ser equilibrado e assegurar o espaço necessário para adoção de políticas públicas em prol da integração produtiva e da reindustrialização”.

O presidente brasileiro afirmou ser “inaceitável” a contra-proposta da União Europeia feita em março deste ano. “Parceiros estratégicos não negociam com base em desconfiança e ameaça de sanções.”

Lula foi enfático ao afirmar ser “imperativo que o Mercosul apresente uma resposta rápida e contundente”, e “inadmissível abrir mão do poder de compra do estado — um dos poucos instrumentos de política industrial que nos resta. Não temos interesse em acordos que nos condenem ao eterno papel de exportadores de matérias-primas, minérios e petróleo”.

Ao lado do presidente argentino, Alberto Fernández, Lula elogiou o período em que o líder vizinho esteve à frente do bloco e disse que “esse é o Mercosul que queremos e que voltou ao centro da estratégia brasileira de inserção no mundo”.

E destacou a necessidade de “uma integração regional profunda, baseada no trabalho qualificado e na produção de ciência, tecnologia e inovação”.

“Quero lhe agradecer pelo empenho de sua equipe à frente do Mercosul durante o semestre que se encerra. A presidência argentina buscou aprofundar convergências e reduzir assimetrias entre os Estados partes. O Brasil assume hoje a presidência pro-tempore com a determinação de levar adiante esses esforços”, afirmou.

Lula reforçou sua campanha pela adoção de uma moeda comum no bloco, que contribuiria para “reduzir custos e facilitar a convergência”. “A adoção de uma moeda comum para realizar operações de compensação entre nossos países contribuirá para reduzir custos e facilitar ainda mais a convergência. Falo de uma moeda de referência específica para o comércio regional, que não eliminará as respectivas moedas nacionais.”

Além da moeda comum, o presidente brasileiro listou ainda sua agenda para o bloco no semestre, como a “aperfeiçoar” a Tarifa Externa Comum. “E evitar que barreiras tarifárias comprometam a fluidez do comércio”, disse.

De acordo com Lula, em 2022, o intercâmbio intra-Mercosul somou US$ 46 bilhões de dólares. “Não é pouco, mas está abaixo do auge registrado em 2011, de US$ 52 bilhões. Estamos aquém do nosso potencial. Nosso comércio se caracteriza pela presença significativa de produtos de maior valor agregado. Esse é um ativo que precisa ser valorizado e ampliado.”

Em seu discurso, Lula destacou dois setores, segundo ele, “excluídos” do livre comércio e com “agenda inacabada”, o automotivo e o açucareiro. Destacou também que a região conta com “expressivas reservas de minerais estratégicos, como lítio e cobalto, que são essenciais para projetos industriais de última geração.”

Expansão do bloco

O presidente brasileiro não citou a Venezuela, mas disse haver espaço para ampliar e aprimorar os acordos comerciais com Chile, Colômbia, Equador e Peru. “Retomaremos uma agenda externa ambiciosa para ampliar o acesso a mercados por nossos produtos de exportação. Embora já tenhamos uma área de livre comércio de fato com nossos vizinhos sul-americanos”.

Falando em integração, Lula ainda antecipou que pretende revisar e avançar nos acordos de negociação com Canadá, Coreia do Sul e Singapura, além de “explorar novas frentes de negociação com parceiros como China, Indonésia, Vietnã e com países da América Central e Caribe. “A proliferação de barreiras unilaterais ao comércio perpetua desigualdades e prejudicam os países em desenvolvimento. Combater o ressurgimento do protecionismo no mundo, implica resgatar o protagonismo do Mercosul na Organização Mundial do Comércio.”

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