“PT precisa dialogar com juventude e igrejas ante crescimento do bolsonarismo”, diz eleito em Fortaleza
A eleição do deputado estadual Evandro Leitão (PT) no domingo (27) para prefeito de Fortaleza (CE), deu ao partido do presidente Lula (PT) o controle da única capital do país e ainda impôs um derrota a um candidato fortemente identificado com o bolsonarismo, o deputado federal André Fernandes (PL).
Em entrevista ao jornal Folha, Leitão avalia que é necessário ao PT uma reflexão sobre a atuação no Brasil após os resultados, com reforço no diálogo com determinados segmentos da sociedade, como as igrejas e a juventude, diante do “crescimento nítido do bolsonarismo”.
Leitão obteve 50,38% dos votos válidos, ante 49,62% de Fernandes, apoiado por Jair Bolsonaro (PL). Uma diferença de cerca de 10 mil votos.
“Temos que saber melhor dialogar e se comunicar com essas pessoas”, disse. Leitão diz pretender fazer uma transição com a atual gestão do PDT, legenda rompida com o PT nos últimos anos, além de chama-los para compor o governo.
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A eleição de Fortaleza foi bastante acirrada. Como unir a população e pacificar essa polarização?
Entendo que é através do diálogo. Primeiro, ter uma boa relação com a Câmara de Vereadores. Vamos procurar os vereadores para que a gente possa colocar o interesse coletivo acima de qualquer outro interesse. Segundo, dialogar com a cidade, com as comunidades, com os territórios, com os bairros.
E, para dialogar, precisamos estar presente, ouvir as críticas, demandas, saber o que afeta a vida das pessoas. Não serei um prefeito apenas para os eleitores que votaram em mim, mas para todos. Estarei completamente aberto para receber essas críticas, dialogar e construir políticas públicas para quem mais precisa.
A disputa foi polarizada. Os 49% do seu adversário acendem um alerta sobre a presença do bolsonarismo no Nordeste?
Não são votos apenas de bolsonaristas. No segundo turno, todas as demais forças se juntaram ao André. Temos que refletir sobre aquilo que a gente pode melhorar. Sobretudo, numa coisa que acho que é fundamental: a nossa comunicação, o nosso diálogo com a cidade, com o estado, com o país.
Falo do campo progressista, puxado sobretudo pelo PT, porque há um crescimento nítido do bolsonarismo, isso é fato e se deve à ausência ou, se não à ausência, à forma com que dialogamos com determinados segmentos. Posso citar a juventude, as igrejas, o segmento cristão, todas as crenças.
O Nordeste é considerado um reduto da esquerda, tendo dado a vitória a Lula em 2022. Nessas eleições, das nove capitais da região, somente duas serão comandadas pela esquerda. Como travar essa expansão da direita?
Se nós pegarmos a circunstância de 2020, o PT não tinha feito nenhum prefeito em capitais, não tinha um prefeito em Fortaleza desde 2012. Foi um avanço. É muito importante fazer uma reflexão sobre o desempenho do nosso partido no Brasil, não só no Nordeste. O Nordeste é importante e eu ainda continuo com o mesmo pensamento de que aqui o campo progressista, o PT em especial, tem uma participação muito decisiva e exerce uma influência forte no eleitorado.
O ministro da Educação, Camilo Santana, foi um grande apoiador da sua candidatura. Essa vitória o fortalece nacionalmente? Pode cacifa-lo como eventual sucessor de Lula?
Ainda é muito cedo para falar sobre isso. O Camilo, sem sombra de dúvida, é a maior liderança política do Ceará e uma pessoa que tem se destacado muito no Brasil. Ele é um grande quadro, pessoa extremamente qualificada que está pronta para exercer qualquer posto que, porventura, a população assim deseje. Acredito muito que ele, no futuro breve, será um dos quadros mais importantes da política nacional.
Como se dará a transição com o prefeito José Sarto (PDT)?
De forma muito tranquila, muito natural, irei procurá-lo para que a gente possa fazer a transição e para que não haja nenhum tipo de descontinuidade nos serviços públicos.
O sr. avalia que há margem para alguma recomposição entre PT e PDT no estado? Irá chamar o partido para compor governo?
Claro. Irei chamá-los para que a gente possa conversar e tratar sobre a nossa cidade. Não é sobre particularidades do Evandro ou qualquer questão pessoal, mas para o bem da cidade.
O sr prometeu na campanha que irá acabar com a taxa do lixo. Quando isso vai acontecer?
A primeira atitude minha será enviar para a Câmara Municipal uma mensagem extinguindo a taxa. Quando me sentar na cadeira de prefeito, vou honrar com o compromisso que eu fiz.
Fortaleza apareceu entre as 50 cidades mais violentas do Brasil em 2023. Há também a atuação de facções e domínio de territórios na capital cearense. Como encara essa situação?
Apesar de a questão da segurança pública não ser competência da prefeitura, mas do estado e União, é dever da prefeitura se integrar aos órgãos de segurança. Iremos integrar a Guarda Municipal com os órgãos de segurança, com a Polícia Militar, Polícia Civil, Polícia Rodoviária Federal e Polícia Federal, para que a gente possa fazer esse enfrentamento. De forma integrada, com ações estratégicas, com inteligência. Não se combate à violência apenas com ações ostensivas, mas também com as ações preventivas.
Como que a melhor educação do país convive com índices tão altos de violência?
Isso é um desafio enorme, é algo até antagônico. Você tem um estado que é destaque na educação, mas por outro lado você tem um estado ainda muito violento. Mas isso não é só aqui, a segurança pública é uma questão nacional. Nós iremos transformar Fortaleza na capital da educação e, para isso, nós iremos ter algumas intervenções. Ampliação das escolas de tempo integral, o Pé de Meia municipal para o 9º ano, abertura das escolas nos finais de semana, acabar com as filas de vagas em creches, por exemplo.
A saúde pública em Fortaleza está em crise, com falta de insumos e de equipe médica nas unidades. Como pretende mudar esse cenário?
Será a nossa prioridade das prioridades. Vamos, inicialmente, fazer uma grande força-tarefa para que os espaços que já existam possam funcionar com mais médicos, mais profissionais de saúde, e remédios. Nós vamos atuar fortemente nos postos de saúde, assim como na rede de saúde da família já a partir de 1º de janeiro de 2025.
RAIO-X
Evandro Leitão, 57
Formado em economia e direito, Evandro Leitão é auditor concursado da secretaria estadual da Fazenda e foi secretário do Trabalho e Desenvolvimento Social do governo Cid Gomes. Construiu sua trajetória política no PDT e se filiou ao PT em dezembro. Deputado estadual, preside a Assembleia Legislativa do Ceará. Foi presidente do clube de futebol Ceará