O relatório assinado pelos pesquisadores Gracelin Baskaran e Ben Cahill destaca que a entrada da Argentina no Brics vai fortalecer o fornecimento de lítio do bloco.
Os autores citam a previsão do banco americano JPMorgan de que a participação da Argentina no suprimento global de lítio deve aumentar de 6% em 2021 para 16% em 2030. Assim, o país deve ultrapassar o Chile e se tornar o segundo maior produtor de lítio do mundo até 2027.
“Atualmente, a Argentina tem 13 projetos de lítio em andamento, acima de qualquer outro país. A inclusão da Argentina posiciona os Brics com três dos cinco maiores produtores de lítio do mundo, junto com a China e o Brasil”, diz o estudo.
Os autores também destacam que os Brics devem aumentar os investimentos para fortalecer o abastecimento de minerais críticos entre os membros do bloco.
Os autores ressaltam que a Arábia Saudita, outro dos novos participantes, já está fazendo investimentos vultosos em lítio e outros minerais críticos para os sauditas no Brasil.
Eles citam o acordo de US$ 2,6 bilhões para comprar uma participação de 10% na divisão de metais básicos da Vale, para acessar minerais como níquel e cobre. “A parceria com a maior mineradora do Brasil é fundamental para que os sauditas atinjam o seu objetivo de construir 500 mil veículos elétricos anualmente até 2030”, exemplificam.
Parcerias no setor de energia para driblar sanções
O relatório do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais lembra que o novo Brics conta tanto com grandes produtores de petróleo e gás, como com dois dos maiores importadores do mundo, China e Índia, ambos países que se recusaram a impor sanções à Rússia por causa da guerra na Ucrânia.
“É provável que os Brics expandidos adotem uma abordagem semelhante à Parceria para a Segurança Mineral, que é uma iniciativa liderada pelos Estados Unidos para reforçar a segurança energética crítica para si e para 13 dos seus aliados”, afirmam Gracelin Baskaran e Ben Cahill.
Os autores acrescentam que os Brics têm interesse em fortalecer parcerias no setor energético justamente para que os países membros não sejam prejudicados por sanções como as impostas pelo G7 sobre a Rússia. E, portanto, farão esforços para criar mecanismos de comércio fora do alcance do setor financeiro do G7.
Mas Gracelin e Cahill ponderam que a tarefa não é simples. Eles dizem, por exemplo, que o comércio de energia é baseado em dólares por muitas razões: é uma moeda líquida, facilmente conversível e os maiores exportadores de petróleo globais negociam em dólar.
Com o aumento das sanções energéticas, os autores lembram que cresceu o número de acordos energéticos bilaterais liquidados em outras moedas, como em renminbi chinês ou em rúpias indianas, mas ainda assim os pagamentos de petróleo ou gás em outras divisas estão longe da plena internacionalização.
“Para os mercados energéticos, o alargamento dos Brics é, por enquanto, em grande parte simbólico – mas é outro sinal de que os países estão explorando formas de contornar o sistema financeiro dos EUA e o alcance do dólar”, afirmam.