Quem é Kirill, o líder cristão ortodoxo fiel a Putin

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Patriarca russo Kirill participa de cerimônia de Natal Ortodoxo Russo na Catedral de Cristo Salvador, em Moscou, em 2019 — Foto: Mladen Antonov / AFP

O patriarca Kirill, líder dos cristão ortodoxos russos desde 2009, pôs sua igreja a serviço do presidente, Vladimir Putin, com quem compartilha sua ambição de uma Rússia conservadora e forte, apoiando a ofensiva de Moscou na Ucrânia.

Há muitos anos, o líder religioso, de 75 anos, não hesita em aparecer benzendo armas e mísseis, nem em justificar a repressão da oposição e dos veículos de comunicação independentes.

Kirill repreendeu nesta quarta-feira (4) o Papa Francisco por uma fala do pontífice criticando a proximidade de Kirill com Putin.

O papa disse ao jornal italiano “Corriere Della Sera” que o patriarca “não pode se tornar o coroinha de Putin”. O líder ortodoxo declarou, através de um comunicado, que Francisco usou “o tom errado” ao se referir a ele dessa maneira. A Igreja Ortodoxa chamou o episódio de “lamentável”.

O presidente russo, Vladimir Putin, beija Kirill, patriarca de Moscou e de todas as Rússias, em celebração em 2013 — Foto: Reuters/Maxim Shemetov
O presidente russo, Vladimir Putin, beija Kirill, patriarca de Moscou e de todas as Rússias, em celebração em 2013 — Foto: Reuters/Maxim Shemetov

Kirill, assim como Putin, também vê a Ucrânia e Belarus como países “irmãos” que deverão permanecer sob a bandeira de Moscou, e não como nações diferentes.

O patriarca tem aumentado suas declarações de apoio a ofensiva russa na Ucrânia. A Comissão Europeia quer aplicar sanções contra ele, assim como tem feito com Putin e várias autoridades russas.

Em 27 de fevereiro, três dias após o inicio da invasão, Kirill havia classificado de “forças do mal” os críticos das ambições russas no país vizinho. Em abril, convocou os russos a “ficarem unidos” para combater os “inimigos exteriores e internos”.

O papa Francisco, líder da igreja católica romana, conversou com Kirill em março, quando insistiu ao patriarca que “não utilize da política e sim de Jesus”.

O apoio de Kirill a Vladimir Putin não é uma surpresa.

O Papa Francisco e o Patriarca Kirill, líder da Igreja Ortodoxa russa, em um encontro histórico realizado em Cuba em 2016. Francisco decidiu cancelar nova reunião dos dois pelos posicionamentos de Kirill a favor da guerra — Foto: Reuters
O Papa Francisco e o Patriarca Kirill, líder da Igreja Ortodoxa russa, em um encontro histórico realizado em Cuba em 2016. Francisco decidiu cancelar nova reunião dos dois pelos posicionamentos de Kirill a favor da guerra — Foto: Reuters

Kirill, que em 2009 sucedeu o finado patriarca Alexis -que reconstruiu a Igreja após a queda da URSS e de seu sistema ateu– tem transformado a Ortodoxia russa em uma vmáquina político-religiosa a serviço do Kremlin.

Putin, ‘um milagre’

Em 2012, o religioso proclamou que o reinado de Putin é “um milagre de Deus” após a crise pós-soviética dos anos 1990, como informa a agência AFP.

No mesmo ano, um acontecimento exemplifica a postura conservadora deste religioso de barba grisalha.

Quatro jovens encapuzados, que faziam parte do grupo punk Pussy Riot, entraram na catedral do Cristo Salvador, a principal de Moscou, para cantar uma canção contra Putin.

Três deles foram presos e condenados a severas penas de prisão.

Moscou: Não há acordo para encontro entre o Papa e Putin (veja vídeo clicando aqui)

Kirill rejeitou os pedidos de misericórdia e denunciou a atitude como “blasfêmia”. Garantiu que na ocasião “o diabo ria”. Desde então, recorda regularmente que o fiel ortodoxo jamais deve protestar.

Para ele, as grandes manifestações após a prisão do opositor Alexei Navalny em janeiro de 2021 revelaram uma “crise no seio da jovem geração”.

Crítico da homossexualidade, ele é admirador da lei desejada por Vladimir Putin que proíbe “a propaganda da homossexualidade aos menores”, cujo texto é considerado por inúmeras ONGs como instrumento da homofobia.

Diferente de seu avô, um sacerdote vítima das repressões stalinistas, Kirill –seu nome civil é Vladimir Gundiayev– encontrou seu lugar no aparato da Igreja durante a era soviética, submetida ao regime.

Em 1965, aos 19 anos, entrou no seminário de sua cidade natal em Leningrado (hoje São Petersburgo) e se tornou monge quatro anos depois.

Ascendeu ao primeiro posto diplomático de sua igreja em 1971 e em 1989 comandou o Departamento de Relações Exteriores, algo semelhante a um Ministério de Assuntos Exteriores.

Essa trajetória tem alimentado suspeitas de relações próximas com a KGB, o serviço secreto soviético. O aparato de repressão no bloco comunista na época se apoiava na instituição eclesiástica para espionar os fiéis.

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