Quem foi Bertha Lutz, pioneira na luta pelos direitos da mulher citada por Lula em discurso na ONU
Brasileira morreu em 1976, e defendeu o direito à emancipação feminina durante toda a sua vida
![Bertha Lutz no plenário da Conferência de São Francisco, representando a delegação do Brasil](https://i0.wp.com/s2-oglobo.glbimg.com/3CD-1FUjSaa4e8zpyJOmSMAY-7U=/0x0:940x504/888x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2023/p/9/PdmfPOSmKVGX1QmtDQsA/e788981b-e70e-4441-aa33-6e16e38cf278.jpg?resize=640%2C343&ssl=1)
Mulher, bióloga e jurista, Bertha Maria Júlia Lutz foi citada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante seu discurso na abertura da Assembleia Geral da ONU, nesta terça-feira. A brasileira defendeu o direito à emancipação feminina durante toda a sua vida, e protagonizou grandes passos da luta das mulheres na história.
Filha do cientista e pioneiro da medicina tropical Adolfo Lutz e da enfermeira inglesa Amy Fowler, ela nasceu em São Paulo, no ano de 1894, e completou sua educação na Europa. Lá, entrou em contato com a explosiva campanha sufragista inglesa. Em 1918, aos 24 anos, licenciou-se em Biologia na Faculdade de Ciências de Paris (Sorbonne).
Ao regressar ao Brasil, no mesmo ano, Bertha se tornou defensora incansável dos direitos da mulher no país. Em 1919, se tornou a segunda brasileira a ingressar no serviço público como bióloga do Museu Nacional, e criou a Liga para a Emancipação Intelectual da Mulher. Graduou-se advogada anos depois, e publicou o livro “A Nacionalidade da Mulher casada”, no qual defendia os direitos jurídicos das mulheres.
Como deputada federal, lutou pela mudança da legislação trabalhista referente à mulher e ao menor, propôs igualdade salarial, licença de três meses à gestante e redução da jornada de trabalho, que, na época, era de 13 horas. Bertha foi premiada com o título de “mulher das américas”. Em 1952, foi a representante do Brasil na Comissão de Estatutos da Mulher das Nações Unidas, comissão criada por iniciativa dela.
Bertha Lutz, pioneira na luta pelos direitos da mulher
![Bertha Lutz em 1972 — Foto: José Vidal/Agência O Globo](https://i0.wp.com/s2-oglobo.glbimg.com/x6nMnfHFHxJ-yzfafAC0U-HnJjE=/0x0:2000x1539/648x248/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2023/F/P/gFCXuTRpa1TqsAlhHmhQ/33066656-rio-de-janeiro-rj-11-07-1972-bertha-lutz-biologa-e-lider-feminista-foto-jose-vidal-ag.jpg?resize=640%2C492&ssl=1)
![Bertha Lutz, em agosto de 1965, recebeu o título de professora emérita da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) — Foto: Arquivo/Agência O Globo](https://i0.wp.com/s2-oglobo.glbimg.com/oJ6I0jAaR3J6nAg2oA2sJev0WXA=/0x0:2000x1334/323x182/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2023/w/m/qSLb6bQcCsGtB2KVYxWw/32699149-rio-de-janeiro-rj-16-06-1965-bertha-lutz-biologa-e-lider-feminista-foto-arquivo-age.jpg?resize=640%2C427&ssl=1)
![Bertha Lutz em entrevista ao Globo — Foto: José Vidal/Agência O Globo](https://i0.wp.com/s2-oglobo.glbimg.com/0a0nqIGLTbrPdQ8m2Y_PP5uETrM=/0x0:2000x1333/323x182/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2023/E/t/ecYAqISEeLomSDHT9lMQ/33125230-rio-de-janeiro-rj-11-07-1972-bertha-lutz-biologa-e-lider-feminista-foto-jose-vidal-001.jpg?resize=640%2C427&ssl=1)
I Congresso Feminista do Brasil
Foi Bertha Lutz quem organizou o I Congresso Feminista do Brasil, e discutiu problemas relacionados à proteção do trabalho feminino na Organização Internacional do Trabalho e participou da Conferência Internacional da Mulher, em Berlim, em 1929. Ao regressar, fundou a União Universitária Feminina. Em 1932, criou a Liga Eleitoral Independente e, no ano seguinte, a União Profissional Feminina e a União das Funcionárias Públicas.
Candidata em 1933 a uma vaga na Constituinte de 1934 pelo Partido Autonomista do Distrito Federal, representando a Liga Eleitoral Independente, ligada ao movimento feminista, Bertha não conseguiu eleger-se, como noticiou O GLOBO em 22 de abril de 1933. No entanto, acompanhou as discussões da Constituinte a convite da deputada Carlota Pereira de Queirós.
No pleito de outubro de 1934, candidatou-se mais uma vez e, novamente, obteve apenas uma suplência. Em julho de 1936, acabou assumindo a cadeira de deputada federal na vaga deixada por Cândido Pessoa, onde permaneceu na Câmara até 1937. A decretação do Estado Novo abortou a carreira de Bertha como parlamentar e arrefeceu a capacidade de mobilização da FBPF. Bertha foi gradualmente se afastando da presidência da federação, até deixar definitivamente o cargo, em 1942.
Ao longo da segunda metade do século, foi fiel à luta das mulheres pela cidadania. Em 1944, representou o Brasil na Conferência Internacional do Trabalho, realizada na Filadélfia (EUA), como membro da Comissão de Assuntos Femininos. Em junho de 1945, foi delegada do Brasil junto à Conferência de São Francisco, onde o Brasil apresentou uma emenda ao “Pacto de Segurança”, na Conferência das Nações Unidas.
A brasileira morreu em 16 de setembro de 1976, aos 82 anos, na Casa de Sáude Solar da Tijuca, no Rio de Janeiro, com quadro de pneumonia aguda.