“Raiva e vergonha”: veterinária atacada por “Maníaco do Parque” desabafa
Redação 3 de julho de 2023 0Por Alfredo Henrique
São Paulo – Raiva e vergonha. Assim uma veterinária de 36 anos resume seu estado emocional após ter sido atacada por um jovem de 18 anos dentro do Parque Toronto, em Pirituba, zona norte da capital paulista. Suspeito de pelo menos dez ataques, o rapaz foi preso na última quarta-feira (28/6) pela Polícia Civil.
Algumas abordagens do “Maníaco do Parque Toronto” foram flagradas pelas câmeras de monitoramento do local. Nos registros, é possível ver o suspeito seguindo e agredindo mulheres que praticavam atividades físicas no espaço.
O maníaco perseguia as vítimas, dava tapas, chineladas, apertões e beijos, sempre na região das nádegas, ou tentava beijá-las à força, causando lesões corporais.
Moradora de Osasco, na Grande São Paulo, a veterinária de 36 anos é uma das vítimas do maníaco. Em entrevista ao Metrópoles na sexta-feira passada (30/6), ela contou que costumar ir entre duas e três vezes por semana ao Parque Toronto, onde treina corrida junto com o pai, morador da região.
Na última quarta-feira (28/6), o pai da veterinária cancelou o compromisso com a filha de última hora. Mesmo assim, ela decidiu manter o treino. O parque, segundo ela, estava cheio por volta das 19h50. O movimento, contudo, não inibiu o criminoso.
“Planejei dar duas voltas na pista, o que equivale a cerca de cinco quilômetros. Deixei meu carro estacionado nas redondezas. Quando voltava em direção ao carro, ele [maníaco] passou, me bateu [na região das nádegas], me chamou de ‘gostosa’ e saiu correndo”, disse a vítima. Nesse instante, em choque, ela conta que foi tomada pela sensação de raiva e vergonha.
“Logo depois, peguei meu carro para ver se o encontrava. Passei avisando o pessoal que estava correndo, principalmente as meninas.”
Apesar dos esforços da veterinária, o suspeito conseguiu fugir. No dia seguinte, a vítima foi à 9ª Delegacia de Defesa da Mulher (DDM), onde registrou um boletim de ocorrência.
A Polícia Civil orientou a veterinária a passar por perícia no Instituto Médico Legal, uma vez que a agressão sofrida deixou marcas em seus glúteos. O ferimento, segundo a veterinária, ficou visível e dolorido por vários dias.
Após o ataque, a vítima voltou duas vezes ao parque para treinar, mas durante o dia. Em uma das ocasiões, teve uma crise de ansiedade. A veterinária, que já fazia terapia, disse que o ataque se tornou uma das pautas de seu tratamento.
Outras vítimas
A veterinária tomou conhecimento de um ataque semelhante ao ler o comentário de outra mulher na internet. Ambas conversaram e montaram um grupo de WhatsApp. No total, foram reunidas sete vítimas do maníaco. Seis delas, por orientação da veterinária, registraram boletins de ocorrência.
A polícia estabeleceu um recorte de horário de ação do maníaco, entre 18h e 21h. Uma investigação da DDM levou à identificação e prisão do autor dos ataques. O jovem de 18 anos confessou o crime e foi reconhecido pelas vítimas.
O suspeito disse à polícia que vinha agindo desde janeiro. Ele não teve o nome divulgado para não expor a família nem comprometer o andamento das investigações. O pai dele ficou chocado ao saber sobre os ataques do filho.
“É importante que qualquer tipo de assédio que as meninas sofram, mesmo uma agressão verbal, seja denunciado à polícia. O pessoal da 9ª DDM foi realmente de uma importância gigantesca para a gente [vítimas]. Se não fosse o empenho da DDM, o rapaz não teria sido preso. Minha ideia, quando fui à delegacia, era justamente que investigassem e fossem atrás dele”, disse a veterinária.
Ao menos dez casos
A delegada Patrícia Vaiano Mauad, titular da 9ª DDM, afirmou, na última quinta-feira (29/6), que já foram identificadas e ouvidas seis vítimas do maníaco. Outras quatro já foram identificadas, mas se negam a formalizar depoimentos.
Isso pode ocorrer, segundo a polícia, por medo. A delegada acrescentou que o suspeito demonstrou aparente quietude e suposta inocência quando chegou à 9º DDM.
À medida que foi interrogado, contudo, passou a “mostrou quem era” e confessou os ataques. “O suspeito sabia o dia que atacou cada menina e a forma como elas foram abordadas. Ele tem isso gravado na memória. Fiquei bem impressionada”, afirmou a delegada.
O preso confessou os crimes e disse à polícia que existem mais vítimas, sem detalhar quantas.
Veja o vídeo produzido pela Polícia Civil:
Motivação
Ainda em seu depoimento, o maníaco afirmou à polícia que atacava as mulheres porque não conseguia “se controlar” ao vê-las. Isso seria resultado, segundo ele, do “consumo compulsivo de conteúdo pornográfico”.
“A satisfação e adrenalina que ele sentia na fuga o deixavam saciado e o motivavam a voltar. Ele estava indo praticamente todos os dias [ao parque]”, afirmou a delegada.
Pelo fato de agredir as vítimas, a polícia conseguiu convencer a Justiça a decretar a prisão temporária de 30 dias do rapaz. Até o momento, ele foi indiciado por seis crimes.
A polícia pede para que pessoas que sofreram ataques no parque procurem a 9ª DDM. “Quanto mais vítimas o reconhecerem, mais robustez terá o inquérito. Isso é importante para tirá-lo da rua”, disse a delegada.