Réu é solto após filhas pedirem ao juiz o pai em casa no Natal; veja cartas

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Foto: Getty Images

Por Marcos Melo

Um caso curioso aconteceu em Posse, cidade a 515 quilômetros de Goiás (GO), e tocou o coração de um magistrado. Um comerciante, de 34 anos, estava preso acusado de tentativa de homicídio. Ele acabou ganhando a liberdade após o juiz ler as cartas de suas filhas, uma de 13 e outra de 4 anos de idade, em que pediam como presente de Natal a presença do pai em casa, de acordo com a Folha de S.Paulo.

O caso ganhou repercussão em 6 de dezembro, quando o magistrado decidiu publicar uma das cartas em uma rede social.

Carta enviada ao juiz pedindo a liberdade do pai. Foto: Reprodução/Leonardo Magalhães Valente
Segundo pedido ao juiz pela soltura do pai. Foto: Reprodução/Leonardo Magalhães Valente

– Esse foi o melhor habeas corpus que já recebi!! Eu sempre digo que não precisa escrever muito!! Prometo que irei olhar com toda atenção e critério com que vejo todos os outros – disse o juiz em excepcional manifestação.

Denis Bonfim, juiz da comarca de Posse, relatou que foi tomado por grande emoção ao receber aquelas cartas em seu gabinete, intermediadas pelo advogado de defesa do réu, Leonardo Magalhães Valente.

O pai das meninas é proprietário de uma distribuidora de bebidas e foi acusado de atirar num homem que estaria devendo R$ 600. O juiz entendeu que não haviam evidências que comprovassem sua autoria ou participação no crime. Ainda cabe recurso.

Com essa decisão, o comerciante não poderá ser levado a júri popular. O Ministério Público afirmou que emitirá seu posicionamento após o recesso.

Uma das cartas traz um comovente argumento da filha do acusado, que cita que o pai é bom e pediu que ele fosse liberado para voltar a casa antes do Natal.

– Quando ela escreveu “Deus te proteja”, isso me tocou especialmente, porque naquele momento ela estava desamparada e desprotegida precisando do seu provedor. Imaginei comigo: não posso protegê-la, mas talvez, eu possa devolver a ela alguém capaz de fazer isso – disse o juiz.

Primeira carta em agradecimento ao magistrado. Foto: Reprodução/Leonardo Magalhães Valente

O advogado do acusado, dr. Leonardo Magalhães Valente, tentou descrever a emoção de vivenciar sua “experiência mais emocionante na carreira”.

– Foi o trabalho mais bonito que eu já peguei. Estou há sete anos atuando nessa área [criminal] e foi um trabalho muito bonito. As filhas dele ensaiaram músicas para cantar para ele, quando ele chegou – destacou o criminalista.

Valente revelou, também, que atuou com mais sentimento no caso, porque sabia que seu cliente era inocente.

– Eu tenho muito cliente na área criminal e eu vi que ele era inocente, e pedi ao juiz para ele olhar com carinho, com atenção. Fizemos um abaixo-assinado na cidade com os moradores, com as autoridades, professores, porque o réu é um menino muito sofrido, já passou até fome na vida. A sociedade gosta muito dele e foi muito comovente mesmo a chegada dele em casa. Eu estava lá na hora e foi muito comovente vê-lo com as filhas dele – testemunhou o advogado.

Última correspondência agradecendo pela liberdade do pai. Foto: Reprodução/Leonardo Magalhães Valente

Os nomes das crianças não foram divulgados a fim de preservar a integridade delas, em consonância ao Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Por razão semelhante, optamos por não revelar o nome do réu.

O homem teve sua prisão temporária decretada em 21 de julho, mais de duas semanas depois do crime. Atendendo ao pedido da Polícia Civil, a Justiça prorrogou a prisão temporária e, em 18 de setembro, converteu a mesma em preventiva.

Foram quatro cartas, no total, enviadas ao juiz. Duas pedindo pela liberdade do pai e duas em agradecimento pelo pedido atendido.

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