Indígenas consideram a fixação do marco uma ameaça para a homologação dessas áreas.
Na quarta passada (16), a relatora, senadora Soraya Thronicke (Podemos-MS), apresentou parecer favorável ao marco temporal na CRA com o texto como aprovado na Câmara dos Deputados.
Além de defender o marco temporal, o texto também trata de outros pontos. Por exemplo, diz que pode haver atividades econômicas em terras indígenas, desde que pela própria comunidade, admitida a cooperação e contratação de terceiros não indígenas. Ainda, que o usufruto dos índios não se sobrepõe ao interesse da política de defesa e soberania nacional.
A intenção dela é não modificar o projeto a ponto de ele ter de voltar à análise dos deputados federais. Se Thronicke ainda acatar emendas, devem ser supressivas ou de redação, para que o projeto vá à sanção presidencial depois da apreciação do Senado.
A reportagem apurou que a senadora quer conversar com a ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, no início da semana que vem para ouvir os últimos pleitos do governo federal. Governistas buscam ainda chegar a um texto que agrade mais ao Executivo Federal. O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), já demostrou ser contra o marco temporal.
A relatora estudou incluir no texto a indenização a produtores rurais e a fixação de valores. Devido às divergências e a certa pressa para aprovar o projeto, acabou deixando esses pontos de fora.
Ala de senadores defende que a votação seja concluída no Congresso antes de uma decisão por parte do Supremo Tribunal Federal (STF).
O Supremo discute o chamado marco temporal para a demarcação de terras indígenas, mas o julgamento está em espera após pedido de vista. A previsão é que o tribunal volte a discutir o assunto em setembro.
Para parte de senadores, o Congresso precisa legislar sobre o assunto ao definir as regras com a aprovação do projeto de lei, e não deixar isso a cargo do Judiciário. O projeto foi apresentado no Congresso em 2007 — há 16 anos.
Na última quarta, quando o relatório foi lido na CRA, houve concessão de pedido de vista – mais tempo para análise do texto.
O acordo é que para que, na próxima quarta, haja uma audiência pública sobre o assunto com convidados como representantes da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) e do Ministério da Justiça e Segurança Pública. Em seguida, a votação do projeto de lei.
A ideia é que a audiência pública seja das 13h às 15h, para que a ordem do dia — período de votações no plenário do Senado –, às 16h, não suspenda os trabalhos da comissão.
O presidente da CRA, senador Alan Rick (União-AC), afirmou à reportagem que vai cumprir o acordo com a audiência pública e a votação logo em seguida na próxima quarta-feira. Ele disse que a demarcação de terras indígenas já foi amplamente debatida e que é preciso dar uma “resposta” à sociedade.
Senadores ouvidos pela reportagem afirmaram que, se o governo insistir no adiamento, será uma quebra de acordo.
Em princípio, depois da CRA, o projeto passará pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) antes de chegar ao plenário do Senado. Senadores ruralistas, no entanto, buscam aprovar um pedido de urgência para que seja analisado diretamente no plenário da Casa. A reportagem apurou que a Frente Parlamentar da Agropecuária se articula neste sentido, inclusive.