Saiba o que fazer e o que evitar diante de uma picada de cobra
Por Lucas Rocha
A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que entre 81 mil e 138 mil pessoas em todo o mundo morrem anualmente em consequência de picadas de cobras venenosas. Cerca de 400 mil ficam permanentemente incapacitadas ou desfiguradas. No Brasil, foram registrados em 2020 nos sistemas oficiais do Ministério da Saúde 31.395 acidentes com serpentes, dos quais 121 foram fatais.
Em caso de acidente envolvendo picadas de cobras, é fundamental realizar os primeiros socorros e manter a calma. A pessoa que levou a picada deve permanecer em repouso, hidratar-se e manter o local do ferimento elevado.
O Ministério da Saúde recomenda que a vítima seja levada ao hospital de referência para o tratamento de acidentes ofídicos mais próximo. O atendimento deve ser realizado no menor tempo possível, para reduzir os riscos à saúde.
O que fazer e o que evitar
Apesar do soro antiofídico ser específico para cada um dos quatro grupos de serpentes, não há necessidade e nem se recomenda tentar capturar o animal, bastando ter apenas uma foto da cobra. A partir dos sintomas apresentados, um médico treinado reconhecerá o tipo de acidente e administrará, se for necessário, o soro correto.
É importante lembrar que não se deve cortar, furar ou amarrar o local da picada com garrotes ou torniquetes. Essas medidas podem agravar a situação, tornando um acidente leve em um difícil tratamento.
Outro mito é de que ingerir álcool pode neutralizar o veneno da cobra. Algumas pessoas cortam a cabeça da cobra e a colocam dentro do copo, o que não é recomendado. O álcool não tem nenhum efeito sob o envenenamento, explica a médica Roberta Piorelli, que atua no Hospital Vital Brazil do Instituto Butantan, especializado no tratamento de acidentes com animais peçonhentos.
“Outro erro muito comum é fazer torniquete no local da picada para evitar que o veneno circule ou espalhe pelo corpo. Isso apenas piora a circulação do sangue no local da picada e aumenta o risco de necrose e amputação de membros”, alerta Roberta.
O que não fazer diante de uma picada de cobra
- Não fazer torniquetes;
- não passar nada no local da picada;
- não cortar a região da picada para “extrair” o veneno;
- não consumir bebidas alcoólicas;
- não sugar o local para tentar extrair o veneno.
A picada de cobra é muito dolorosa e, caso a serpente seja venenosa, a preocupação sobre os riscos aumenta. Além de dor e inchaço no local, podem ocorrer sangramentos em outras partes do corpo, dores musculares e alguns sintomas neurológicos, como visão dupla e pálpebras caídas, dependendo do gênero da serpente. Sem atendimento, há risco de hemorragia grave que pode levar à morte.
No Brasil, o tratamento é realizado com soro antiofídico, produzido pelo Instituto Butantan, distribuído por todo o Brasil. O soro só pode ser aplicado por profissionais capacitados.
Para a especialista do Butantan, a informação é fundamental para evitar complicações e desfechos mais graves diante de acidentes com cobras.
“O hospital atende 24 horas por dia todos os dias da semana, além de auxiliar por telefone colegas médicos de outros locais sobre como conduzir o tratamento do paciente e como identificar o animal que causou o acidente, usando fotos. Contamos com um grupo de biólogos no WhatsApp que nos auxiliam com essas identificações diariamente. Os pacientes também podem entrar em contato com o hospital para tirar dúvidas sobre acidentes com animais peçonhentos e receber orientações sobre locais de atendimento”, diz a médica.
Veja abaixo o que você deve fazer ao sofrer um acidente com cobra:
- Lavar o local da picada com água e sabão;
- ir até o hospital ou posto de saúde mais próximo;
- ficar deitado e elevar o membro que levou a picada;
- se possível, e em segurança, tire uma foto da cobra para ser identificada.
Acidentes ofídicos
O nome dado aos acidentes envolvendo serpentes chama-se ofidismo, daí vem o termo “acidentes ofídicos”. Eles geralmente ocorrem quando a pessoa não vê a serpente e involuntariamente pisa ou toca nela.
De acordo com especialistas, as cobras não fazem emboscadas para os seres humanos nem correm atrás deles para picá-los. No Brasil a fauna ofídica de interesse médico está representada pelas espécies jararaca, cascavel, surucucu pico-de-jaca e a coral verdadeira.
“No Brasil, as jararacas são responsáveis por 70% dos acidentes; as cascavéis, cerca de 9%; as surucucus 1,5%; e as corais verdadeiras com menos de 1% dos registros. Grande parte desses acidentes incidem em grupos de maior risco, como trabalhadores rurais e populações indígenas”, explica o coordenador de Vigilância de Zoonoses e Doenças de Transmissão Vetorial da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, Marcelo Wada, em comunicado.
O uso de equipamentos de proteção individual para trabalhadores do campo e florestas é fundamental para evitar esse tipo de acidente. A medida ajuda a prevenir casos de acidentes ofídicos e garante maior proteção à pessoa exposta.