Sêmen do filho falecido, barriga de aluguel e etarismo: entenda a polêmica da atriz espanhola que virou mãe e avó da mesma criança

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A atriz e apresentadora espanhola Ana Obregón, que virou mãe legal de uma bebê com o semên de seu filho por barriga de aluguel. — Foto: Andres Kudacki/ AP

Uma foto da atriz e apresentadora espanhola Ana Obregón, de 68 anos, saindo de um hospital com uma bebê no colo fez a Espanha mergulhar em um debate que chegou até ao governo do país. Obregón, que é bastante conhecida na Espanha, virou mãe de uma criança gerada por ‘barriga de aluguel’ com o sêmen de seu filho, que morreu há três anos.

Entenda o caso a seguir:

  • Na semana passada, a revista espanhola de celebridades “Hola” estampou na capa uma foto de Obregón deixando um hospital de Miami, nos Estados Unidos. Em uma cadeira de rodas, a atriz carregava no colo um bebê.
  • A publicação afirmava que ela havia se tornado mãe de uma criança gerada por outra mulher, uma ‘barriga de aluguel’, prática legalizada nos Estados Unidos;
  • Obregón, até então, tinha um único filho, que morreu em 2020, aos 27 anos;
  • Diante da surpresa, a foto rapidamente se espalhou pelo país;
  • Horas depois, a ministra espanhola de Igualdade, Irene Montero, criticou a atriz por ter contratado uma barriga de aluguel: “Nunca se esqueçam das mulheres que estão por trás. Há um viés discriminatório por pobreza claro. Não se esqueçam de que esta é uma prática ilegal na Espanha e uma forma de violência contra as mulheres”;
  • Também houve críticas pela idade avançada de Obregón, o que gerou, por sua vez, denúncias de etarismo;
  • Uma semana depois o caso ganhou mais um componente: em uma entrevista, Obregón revelou que era avó, e não mãe, da bebê, e que a criança foi concebida com o sêmen de seu filho já falecido.

Barriga de aluguel

O primeiro grande debate aberto a partir do caso foi sobre o uso de ‘barriga de aluguel’ – ou seja, pagar para que uma mulher faça a gestação de um embrião e entregue o bebê a quem pagou pelo serviço após seu nascimento. Na Espanha, assim como no Brasil, essa prática é ilegal, por isso muitos casais recorrem a países que permitem a barriga de aluguel, como os Estados Unidos.

A ministra espanhola da Igualdade foi uma das pessoas que criticaram Obregón. As criticas também são respaldadas por coletivos feministas, que se referem à prática como uma exploração do corpo de mulheres com menos condições financeiras e sociais.

A própria Ana Obregón rebateu o argumento. “Essa técnica de reprodução assistida vem sendo feita a muitos anos e é legal em muitos países do mundo. Mas na Espanha ainda estamos no século passado”, declarou à revista “Hola”.

Obregón, no entanto, não informou detalhes sobre o processo de contratação da barriga de aluguel e nem em que condição ele ocorreu.

Sêmen

Outra polêmico da história é o fato de a atriz ter usado o sêmen de seu filho, já morto, para a fecundação.

Também em entrevista à “Hola” – a única que a atriz deu desde o início da polêmica -, Obregón alegou que este era um desejo de seu filho. Relatou que ele, diante de um quadro de câncer terminal, expressou a vontade de ter um filho e teve uma amostra de sêmen recolhida e congelada.

Apesar de o pai biológico já haver falecido, a operação foi permitida por haver uma autorização prévia do detentor do sêmen para que ele fosse usado mesmo após a sua morte.

Mesmo com a autorização, a inseminação não seria permitida na Espanha, cuja legislação estipula uma limitação de 12 meses desde a data do falecimento para o procedimento, o que não ocorreu neste caso.

Mas o filho de Obregón, Alessandro Lequio, que era tratado em um hospital em Miami, faleceu nos Estados Unidos, que não estipula o marco temporal para que o juiz possa autorizar a utilização do sêmen.

Mãe e avó

O processo legal diante do caso fez com que Obregón se tornasse mãe e avó ao mesmo tempo. Ela é avó biológica por ser mãe do pai da criança. Por outro lado, ela adotou a menina para ter legalmente a sua guarda – a criança nasceu nos Estados Unidos, mas viverá na Espanha com a apresentadora.

Por isso, Ana Obregón foi registrada como mãe legal da menina, tanto na Espanha quanto nos Estados Unidos.

Etarismo

O caso também trouxe à tona denúncias de etarismo. Isso porque meios de comunicação, comentaristas e usuários de redes sociais chamaram a atenção para a idade de Obregon, que tem 68 anos, questionando se ela seria capaz de criar a menina.

Neste caso, coletivos feministas e inclusive a ministra de Igualdade saíram em defesa da apresentadora, com o argumento de que raramente um homem é questionado ou julgado quando é pai, de forma biológica ou por adoção, com mais de 60 anos.

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