Tiros contra Trump: Atirador já se registrou como eleitor republicano e doou para democratas; polícia investiga motivação

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Trump levanta o punho enquanto é retirado do palco durante comícioem Butler, Pensilvânia — Foto: AFP

A investigação sobre a tentativa de homicídio do ex-presidente dos EUA Donald Trump passa por uma figura central de quem ainda se sabe pouco: Thomas Matthew Crooks, de 20 anos. O jovem, morto por atiradores do Serviço Secreto, abriu fogo contra o candidato republicano e atingiu pessoas no público, matando ao menos um apoiador de Trump, em um ato que ainda não tem uma motivação clara.

Crooks morava em Bethel Park, na Pensilvânia, um subúrbio da cidade de Pittsburgh, a cerca de uma hora de carro ao sul de Butler, onde ocorreu o comício de Trump. Ele não portava documentos no momento do crime, e os investigadores recorreram a amostras de DNA, fotografias e outras informações para identificá-lo. Após a confirmação, as forças de segurança fecharam as estradas até a casa da família do suspeito.

Com o jovem, as autoridades encontraram um fuzil semiautomático AR-15 — uma arma extremamente popular entre atiradores americanos, e que recentemente foi usada na maior parte das grandes chacinas envolvendo armas de fogo (de acordo com um levantamento do ano passado feito pelo Washington Post, 10 dos 17 maiores massacres realizados entre 2012 e 2023 no país tinham um atirador utilizando um fuzil estilo AR).

Investigadores que comentaram as descobertas em anonimato para veículos da imprensa americana afirmaram que a arma teria sido comprada pelo pai de Crooks, seis meses antes do ataque. O fuzil tem venda liberada na Pensilvânia e na maioria dos estados americanos, com menos de dez unidades federativas onde a arma é proibida.

Mapa do local do comício de onde os tiros foram disparados contra Donald Trump — Foto: Editoria de Arte
Mapa do local do comício de onde os tiros foram disparados contra Donald Trump — Foto: Editoria de Arte

Em uma ação altamente classificada como uma falha de segurança monumental do Serviço Secreto, responsável pela segurança dos candidatos à Presidência, Crooks conseguiu chegar com sua arma a uma distância pouco superior a 140 metros de Trump. Ele subiu em um telhado e teve tempo para se preparar para os disparos, sem ser abordado por nenhuma força policial — agentes da polícia local e do FBI também estavam na área.

Apoiadores de Trump que compareceram ao evento disseram ter visto um homem armado em um dos telhados, e afirmando terem avisado às forças policiais sobre isso. As alegações, até o momento, não foram totalmente esclarecidas. Ao todo, Crooks teria feito ao menos oito disparos, matando uma pessoa na plateia, ferindo outras duas com gravidade e perfurando a orelha direita de Trump.

Policiais designados para a investigação, comandada pelo FBI, encontraram 2 dispositivos explosivos no veículo dirigido por Crooks, que estava estacionado perto da área do comício. A polícia enviou técnicos especializados em dispositivos explosivos para o local após receber várias denúncias sobre pacotes suspeitos nas proximidades de onde o atirador estava, segundo o WSJ. Um terceiro explosivo foi encontrado na casa do atirador.

Embora a arma e os explosivos demonstrem as intenções do atirador de provocar mortes durante o comício, os investigadores tentam esclarecer o que teria levado o jovem de 20 anos a se radicalizar a ponto de tentar matar o candidato à Presidência.

O FBI informou que não encontrou nenhum manifesto na casa ou junto ao corpo do suposto atirador. Crooks também nunca esteve na mira do FBI e nem tinha antecedentes criminais. Um funcionário das forças de segurança ouvido pelo New York Times confirmou que Crooks não tinha um histórico on-line incomum para um jovem de 20 anos. Ele gostava de jogar xadrez e videogame e estava aprendendo a programar, de acordo com uma análise de suas atividades online.

As atividades políticas de Crooks também não apresentam um caminho claro. Um cartão eleitoral encontrado com o nome do jovem indicava que ele já havia se registrado como eleitor do Partido Republicado, de Trump. Por outro lado, registros federais de financiamento de campanha mostram que ele doou 15 dólares ao Progressive Turnout Project, uma organização que visa mobilizar eleitores democratas, em janeiro de 2021. O Pentágono disse que Crooks não serviu nas Forças Armadas.

O jornal local The Tribune-Review disse que Crooks se formou em 2022 na Bethel Park High School, onde recebeu um prêmio de US$ 500 (R$ 2.714, no câmbio atual) naquele ano, por bom desempenho, da National Math and Science Initiative. Sarah D’Angelo, uma jovem que estudou com Crooks na Bethel Park High School, disse que ele não costumava demonstrar nenhuma opinião política radical enquanto estudante.

— Ele nunca falou abertamente sobre suas opiniões políticas ou o quanto odiava Trump ou algo assim — disse ela.

Thomas Matthew Crooks teria usado um fuzil AR-15 e atirado do alto telhado de um prédio na área  do comício eleitoral com Donald Trump — Foto: Editoria de Arte
Thomas Matthew Crooks teria usado um fuzil AR-15 e atirado do alto telhado de um prédio na área do comício eleitoral com Donald Trump — Foto: Editoria de Arte

Apesar da falta de indícios da motivação, um alto funcionário dos EUA ouvido pelo New York Times disse que não havia indicações iniciais de que jovem tivesse quaisquer ligações com organizações terroristas nacionais ou estrangeiras, ou estivesse agindo em nome de uma potência estrangeira. A hipótese principal, até o momento, é de que ele fosse um “lobo solitário”.

O FBI está buscando aprovação judicial para invadir o celular do jovem e descobrir mais sobre seus planos e motivos, de acordo com um policial federal. O funcionário disse que dezenas de agentes do FBI, analistas e técnicos de evidências de diversas divisões foram chamados para trabalhar no caso.

— Estamos trabalhando incansavelmente para determinar o motivo [do atentado] — disse Kevin Rojek, agente especial do FBI, antecipando que o trabalho poderia não ser rapidamente concluído. — Mas serão dias, semanas, meses de investigação. (Com AFP, Bloomberg e NYT)

 

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