Vacinas contra o câncer: tratamento inovador está em teste e promete cura definitiva para alguns tipos da doença

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Uma nova forma de tratamento contra o câncer está provocando uma corrida científica. São vacinas que prometem combater a doença utilizando a mesma tecnologia das vacinas contra a COVID-19Os estudos promissores trazem esperança para milhões de pacientes. Veja em vídeo clicando aqui.

Steve é apenas um homem comum, no trânsito de Londres, mas que carrega, no próprio corpo, as respostas de uma possível revolução no tratamento contra o câncer. O Fantástico, da TV Globo, acompanhou o músico e professor, com o violão nas costas, em mais uma bateria de exames na UCLH – o hospital da University College London.

“Quando eu fui convidado para participar desse estudo, eu não imaginava a importância dele. Nem que eu seria o primeiro paciente, e não é que é bom ser o primeiro em alguma coisa?”, brinca Steve.

Tudo começou com um pequeno carocinho, em cima da cabeça.

“Eu tinha isso por anos e como muita gente, eu simplesmente ignorava. Até perceber que estava crescendo bastante”, relata.

Ele descobriu que tinha um melanoma – um tipo de câncer de pele muito perigoso – o que mais mata no mundo. Assim como todo câncer, o melanoma é resultado da mutação anormal de uma célula. essa pequena alteração acontece no DNA, que é o grande painel de instruções do nosso corpo. essa célula cancerosa dribla o sistema de defesa, e não morre. e vai se replicando sem controle, muito rapidamente.

Com o diagnóstico de melanoma, Steve recebeu um convite: participar como voluntário das pesquisas da vacina que promete uma cura mais definitiva para alguns tipos de câncer.

“Quando me disseram que se tratava de uma vacina que usava o meu DNA como base, eu percebi que era algo realmente inovador”.

A vacina

Ainda não existe nada parecido no mercado. É uma vacina personalizada, produzida para cada paciente. Os testes estão sendo feitos em vários países, inclusive no Brasil.

A oncologista Heather Shaw é a coordenadora desse estudo no Reino Unido. Ela explica que a vacina funciona assim: os pesquisadores pegam uma parte do tumor retirado do paciente e também colhem uma amostra de sangue, para comparar o DNA defeituoso com o normal.

Um programa de computador determina quais estruturas da célula cancerosa podem ser mais visíveis pelo sistema de defesa do paciente. Essas estruturas são chamadas de neoantígenos – em outras palavras, são os defeitinhos que denunciam que aquela célula é parte de um câncer, e precisa ser combatida.

“O objetivo da vacina é ensinar o organismo a identificar esses alvos e como ela é personalizada, a gente seleciona até 30 alvos diferentes do tumor do paciente. Cada um desses alvos tem um código genético e a cópia desse material é colocada na vacina. é assim que funciona a técnica do RNA mensageiro – que foi muito usada na pandemia”, destaca Shaw.

O organismo é um sistema complexo, gigante, com trilhões de células. Essa técnica do RNA mensageiro não vai dar simplesmente uma pista, mas uma indicação exata do alvo a ser perseguido.

Diferente de outras vacinas, essa não vai ser usada na prevenção, mas no combate de uma doença que já foi diagnosticada. E por que chama vacina? Porque ela também vai fortalecer o nosso sistema imune, vai ensinar o corpo a identificar e destruir um inimigo — que desta vez não é um vírus ou uma bactéria, mas um câncer.

Repercussão

Steve recebeu a primeira dose em abril deste ano e conta que ficou surpreso com toda a repercussão. Saiu na TV, nos jornais. Ele brinca que ficou famoso por um dia e até encontrou o Rei Charles, que também enfrenta um câncer.

“Ele é muito simpático. Parecia até uma pessoa comum batendo um papo, mas logo eu me toquei: opa, é o rei”, diz Steve.

Corrida mundial

E não é só o rei que está de olho na pesquisa. Existe no mundo uma corrida em torno dessa tecnologia que já está sendo testada no combate a outros tipos de câncer.

O Reino Unido quer ser referência nessa área, e lançou também um programa que vai acelerar os testes usando a base do NHS – o sistema público de saúde – que reúne milhões de pacientes.

Uma pesquisa já está em andamento, em um hospital, na cidade de Birmingham e uma das médicas à frente do estudo é a oncologista Victoria Kunene. Ela conta que a equipe tenta desenvolver ali uma vacina contra câncer de intestino.

“É um estudo global, tem vários países participando, já recrutamos até agora mais de 2 mil pacientes”, diz Kunene.

Ela explica que há muitas décadas a ciência tenta uma vacina como essa. Mas que nunca estivemos tão perto disso.

“Houve um salto tecnológico, e essa possibilidade de uma vacina personalizada é brilhante”, ressalta a médica.

Preocupação com o custo

A eficácia e a quantidade de doses vão depender do resultado dos testes e do sistema imunológico de cada paciente. Uma grande preocupação é com o custo.

“Não dá para dizer quanto vai custar, mas não vai ser barato porque várias etapas de produção — como o sequenciamento genético, por exemplo, ainda são um pouco caras”, afirma.

Fases das vacinas e vantagens

A vacina da doutora Victoria, para o câncer de intestino, ainda está na fase 2 de pesquisas. Já a do melanoma, da University College London, está mais avançada, na fase 3 – a última antes de chegar ao mercado.

Uma grande vantagem dessa nova técnica são os efeitos colaterais – que devem ser bem mais leves que os da atual quimioterapia. Steve já tomou cinco doses. Ele sonha com a conclusão da pesquisa, que está prevista para 2030.

Nas redes sociais ele compartilha a experiência e transformou o melanoma em melodia. Ele vai até lançar um álbum para levantar fundos para o estudo. O nome do disco ele já escolheu:

“Famoso por um dia”, diz ele rindo.

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