Venezuela: Lula reforça não reconhecer eleições e diz que Maduro terá de ‘arcar com as consequências’
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) reiterou na sexta-feira (30/8) que não reconhece a reeleição de Nicolás Maduro e voltou a cobrar transparência na divulgação das atas das seções eleitorais.
Segundo Lula, que também não endossa a vitória da oposição, o presidente venezuelano “terá de arcar com as consequências do gesto dele”.
O líder brasileiro comentou a crise no país vizinho durante entrevista para uma rádio da Paraíba. Lula afirmou não ter “relação ideológica” com chefes de Estado e destacou que não cabia à Suprema Corte do país dar o parecer sobre as atas de votação, que até o momento não foram divulgadas.
“Eu não aceito nem a vitória dele e nem a da oposição. Eu acho que tem um negócio, a oposição fala que ganhou, ele fala que ganhou, mas você não tem prova. Então, nós estamos exigindo a prova. Obviamente que ele tem o direito de não gostar porque eu falei que era importante que convocassem novas eleições”, afirmou Lula.
Na Venezuela, tanto o Conselho Nacional Eleitoral quanto a Suprema Corte são controlados pelo governo de Maduro, sucessor do ex-presidente Hugo Chávez, de quem Lula era amigo.
Lula ajustou o tom das declarações sobre a eleição venezuelana desde que foi criticado por afirmar que não havia observado nada de anormal na disputa, marcada por suspeitas de fraudes.
Uma série de países não reconheceu a reeleição de Maduro e entende que o opositor Edmundo González foi o vencedor (leia mais abaixo).
O Brasil adotou tom de insistir na divulgação das atas e tenta manter o diálogo com o governo local. Lula declarou que “ajudou muito” a Venezuela, mas que Maduro terá de arcar com as consequências das decisões que tem tomando.
“Eu quero cuidar do Brasil. O Maduro cuide de lá. Ele [Maduro] arque com as consequências do gesto dele. E eu arco com as consequências do meu gesto. Agora, eu tenho consciência política de que eu tentei ajudar muito, mas muito e muito”, disse Lula.
Reconhecimento da eleição
No dia 26 de agosto, o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) da Venezuela afirmou ter acatado a decisão do mais alto tribunal do país de declarar Nicolás Maduro como vencedor das eleições presidenciais realizadas em 28 de julho.
O TSJ havia declarado no dia 22 de agosto reconhecer a reeleição do presidente venezuelano na votação de 28 de julho após ter realizado uma suposta revisão das atas eleitorais a mando de Maduro.
A Corte também proibiu a divulgação das atas eleitorais, que indicam o resultado da votação por zona eleitoral. A publicação das atas, que comprovariam o resultado do pleito, vinha sendo cobrada pela oposição e pela comunidade internacional. Segundo o próprio TSJ, a decisão da Corte é “inapelável”.
A decisão do TSJ foi rejeitada pela oposição venezuelana e por países como EUA, União Europeia e outros da América do Sul, que pediram novamente a publicação integral das atas.
O Tribunal Supremo também considerou que o candidato da oposição, Edmundo González, está sujeito a sanções por cometer o que foi considerado desacato à Justiça ao não comparecer a audiências convocadas pelo Judiciário após a eleição.
O CNE havia proclamado a vitória de Maduro no dia seguinte à votação, em 29 de julho, e outra vez dias depois, no início de agosto. No entanto, as atas eleitorais nunca foram publicadas.