Venezuela, sucessão no Congresso, dólar alto e inflação baixa: as falas de Lula na reunião com ministros

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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante entrevista a jornalista no Palácio do Planalto, em junho - Ricardo Stuckert - 26.jun.2024/Divulgação/Presidência da República

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva elencou aos 39 ministros do governo, na quinta-feira (8), alguns dos temas que trata como prioridade para os próximos meses e até o fim do mandato.

Na fala que abriu a reunião, no Palácio do Planalto, Lula tratou:

  • da elaboração de um novo plano de segurança pública;
  • dos dados da economia brasileira;
  • da sucessão das presidências da Câmara e do Senado, no início do próximo ano;
  • do cenário internacional, incluindo o agravamento da crise política na Venezuela.

Lula disse ainda que todos os ministros têm “tarefa determinada” e “seu PAC”, em referência ao Programa de Aceleração do Crescimento. E afirmou que está satisfeito com o governo.

“Eu quero dizer para vocês publicamente, eu já disse outra vez e vou repetir: eu estou muito satisfeito com o trabalho até agora. A imprensa não discute mais se vai trocar ministério. ‘Vai trocar ministério, vai trocar ministério’. Não existe esse problema. Todo mundo agora sabe que quem troca sou eu”, disse.

Lula descartou estar pensando em reforma ministerial.

“Se eu tiver que trocar alguém, eu vou trocar. E quero dizer para vocês: não estou pensando nisso. Em time que está ganhando a gente não mexe”, defendeu.

Veja abaixo o que Lula disse sobre os temas:

Segurança pública

Na fala de abertura da reunião, o presidente defendeu mais ações integradas do governo federal com as polícias estaduais e municipais.

Lula disse que se reuniu com o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, e com ministros que já foram governadores na quarta (7) para preparar um “esboço” de uma nova política de segurança pública para o país.

O tema deve ser enviado ao Congresso nas próximas semanas como uma proposta de Emenda à Constituição (PEC). Antes, o texto deve ser apresentado em uma reunião com os 27 governadores.

“[…] Para que a gente possa apresentar à sociedade brasileira, definitivamente, uma política de segurança pública que envolva União, estados e municípios. Ou seja, a gente valorizar os entes federados, definir o papel e o compromisso de cada um para que as coisas deem certo”, disse Lula.

“A gente não pode brincar de fazer segurança pública. A gente sabe a dificuldade que é, a organização que está acontecendo no crime organizado nesse país, e no mundo inteiro. Porque o crime organizado virou uma multinacional de delitos, e muitas vezes estão muito à frente das polícias dos estados”, seguiu.

“Então, o que a gente quer é compartilhar. A gente não quer ter ingerência e nem quer mandar, a gente quer compartilhar ações conjuntas, com uma definição concreta na Constituição do papel de cada um de nós”, disse.

Os dados da economia

Lula também falou que acredita que os números da economia brasileira são positivos, mesmo diante do cenário internacional adverso.

Acrescentou que se sente “preocupado” sempre que falam sobre inflação. Segundo Lula, quando trabalhava em fábrica conviveu inflação de 80% ao mês. Por isso, sabe o quanto é “devastador a inflação alta para vida do trabalhador”.

“Eu acredito que todos os nossos números são positivos, apesar da perspectiva de uma crise internacional que o dólar vem causando no mundo inteiro. A gente se mantém muito equilibrado”, disse Lula.

Na manhã de quinta-feira (8), o dólar operava em alta, consequência da maior cautela de investidores, devido aos últimos dados sobre emprego nos Estados Unidos. Bolsas de diversos países da Europa também oscilam à espera desses números.

“A gente se mantém numa situação boa. Emprego está crescendo, salário está crescendo, massa salarial está crescendo, desemprego está caindo e a inflação está totalmente equilibrado. Esse é um dado muito importante, porque toda vez que falam em inflação, eu fico muito preocupado”, acrescentou o presidente.

Sucessão no Congresso

Lula citou a sucessão dos presidentes da Câmara e do Senado, mas disse que a exposição sobre o tema caberia ao ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha – responsável pela ponte com o Congresso.

“Nós temos uma Câmara que vai trocar de presidente, um Senado que vai trocar de presidente, e tudo isso tem que ter muita cautela para que não tenha nenhuma incidência no funcionamento do governo”, disse Lula.

Até o momento, os partidos de esquerda não lançaram a “pré-candidatura” de nenhum candidato ao comando das Casas.

Na Câmara, o atual presidente Arthur Lira (PP-AL) articula a composição de uma “chapa única” – que tenha o aval do ex-presidente Jair Bolsonaro e que não seja “vetada” por Lula.

No Senado, Davi Alcolumbre (União-AP) é visto como favorito para reassumir a cadeira, que já foi dele entre 2019 e 2021. Outros nomes, no entanto, ainda devem se apresentar para a disputa.

G20 e Venezuela

Lula afirmou que o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, abordará na reunião a organização do G20, bloco que o Brasil comanda no momento, e as “celeumas” que o governo brasileiro encontra na situação da Venezuela.

“Depois o companheiro Mauro vai fazer uma fala para explicar um pouco a questão do G20, como é que está a organização do G20, nós queremos que todos os ministros estejam envolvidos, e também falar um pouco das celeumas que nós estamos encontrando para encontrar solução pacífica para eleições da Venezuela. É muito importante”, afirmou o presidente.

Lula, junto com os presidentes do México (López Obrador) e da Colômbia (Gustavo Petro), tenta mediar a crise instalada na Venezuela após a autoridade eleitoral do país, controlada pelo regime chavista, declarar que o presidente Nicolás Maduro foi reeleito.

O conselho eleitoral da Venezuela ainda não apresentou as atas das seções de votação que deveriam atestar a derrota do oposicionista Edmundo González. Lula não reconheceu a vitória de Maduro, porém não considera Gonzales o vencedor do pleito.

Eleição deve entrar na pauta

Apesar de não ter citado o tema na fala inicial, transmitida pela EBC, Lula deve pedir para que ministros e funcionários do governo federal tomem cuidado ao fazer campanha para não infringir a legislação eleitoral.

A Advocacia-Geral da União (AGU) elaborou uma cartilha do que pode e o que não pode ser feito. A legislação proíbe, por exemplo, fazer campanha em horário de expediente.

Lula e o candidato a prefeito de São Paulo, Guilherme Boulos (PSOL), foram multados por propaganda antecipada. A ação foi movida pelo Partido Novo, uma das legendas que acionou a Justiça contra a fala de Lula durante evento de 1º de Maio, no estádio do Corinthians, na Zona Leste da capital paulista.

O juiz Paulo Eduardo de Almeida Sorci, do Tribunal Regional Eleitoral de SP, determinou o pagamento de R$ 20 mil para Lula e R$ 15 mil para o deputado federal Guilherme Boulos.

O único ministro que vai tirar férias para fazer campanha é Luiz Marinho, do Trabalho, que vai se engajar na campanha de Luiz Fernando Teixeira, candidato do PT em São Bernardo do Campo e irmão do ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira (PT).

Outra preocupação de Lula é que as eleições tumultuem a coalizão que sustenta o governo, uma vez que em várias capitais há mais de um candidato da base. Lula deve reforçar o pedido para que ministros sejam cautelosos com o tema.

Alguns ministros devem evitar participar da disputa. Ministros do MDB, por exemplo, já se recusaram a gravar vídeos de apoio a alguns candidatos apoiados pelo PL, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro.

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