Lula conversou com Maduro na semana passada sobre escalada militar dos EUA

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Nicolás Maduro e Lula. Foto: Reprodução

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) conversou por telefone, na semana passada, com o ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, sobre a escalada militar dos Estados Unidos contra o país vizinho.

Trata-se da primeira conversa entre os dois desde a eleição na Venezuela no meio do ano passado, quando Maduro foi declarado vencedor apesar de denúncias de fraude por parte da oposição. O recente telefonema entre os dois líderes foi revelado pelo jornal O Globo.

De acordo com pessoas com conhecimento da conversa, o objetivo de Lula foi restabelecer pontes com o chavismo diante de um dos momentos mais delicados na América do Sul. Para um auxiliar do presidente, a reconstrução de laços de confiança é importante caso o Brasil seja acionado a desempenhar algum papel de mediação na crise entre o regime de Maduro e o presidente dos EUA, Donald Trump.

Além do posicionamento no Caribe de diversos navios de guerra, entre eles um porta-aviões de propulsão nuclear, os EUA aplicam pressão contra a Venezuela de Maduro por meio do bombardeio de barcos próximos às suas águas territoriais. Até o momento, foram mortas mais de 80 pessoas que estavam em embarcações no Caribe e no oceano Pacífico sob a justificativa de que transportavam drogas —Washington não apresentou evidências concretas disso.

Também na semana passada, Lula falou por telefone com Trump. Na ligação, os dois trataram de cooperação para o enfrentamento ao crime organizado, mas o brasileiro reiterou pontos que defende para evitar um conflito na América do Sul.

Lula tem argumentado a Trump que uma operação militar dos EUA para retirar Maduro do poder poderia ter consequências negativas para a região, como uma explosão no número de refugiados e o fortalecimento de grupos criminosos.

Em evento em Belo Horizonte (MG) na tarde da quinta-feira (11), Lula citou a conversa que teve com Trump e disse que tentou convencer o presidente americano de que uma ação militar na Venezuela não é o melhor caminho.

“Eu acredito mais no poder da palavra do que no poder da arma. Vamos tentar utilizar a palavra como instrumento de convencimento para fazer a coisa certa”, afirmou o presidente. “O unilateralismo, que é o que o presidente Trump deseja, é [quando] o mais forte determina o que os outros têm que fazer. É sempre a lei do mais forte.”

Na escalada mais recente da crise, o governo Trump capturou um petroleiro em águas próximas à Venezuela na quarta-feira (10). A secretária de Imprensa da Casa Branca, Karoline Leavitt, disse que o barco irá para um porto americano e que a carga que ele carrega será confiscada.

Nesta quinta, o Departamento do Tesouro americano impôs sanções contra outros seis petroleiros que exportam petróleo da Venezuela. Os navios estão registrados com bandeiras das Ilhas Marshall e do Reino Unido. A medida levanta a possibilidade de que mais cargueiros possam ser capturados pelos EUA, potencialmente asfixiando a economia venezuelana.

O país, que possui as maiores reservas de petróleo do mundo, tem uma economia dependente de exportações dessa commodity, e a captura do petroleiro na quarta foi a primeira interferência direta de Washington nesta que é a principal fonte de arrecadação de Caracas. As exportações de petróleo da Venezuela têm a China como principal destino.

A secretária de Justiça dos EUA, Pam Bondi, disse na quarta que a captura foi conduzida pelo FBI (a polícia federal americana), e pelos Departamento de Segurança Interna e de Defesa com o objetivo de tomar um navio “usado para transportar petróleo sancionado da Venezuela e do Irã” que seria usado para “financiar organizações terroristas”.

A indústria petrolífera venezuelana está sob sanções econômicas dos EUA há anos, embora a americana Chevron tenha permissão para operar no país ao lado da PDVSA, a empresa estatal de petróleo de Caracas.

Em resposta à captura do petroleiro, Maduro disse que a Venezuela “exige o fim da intervenção brutal e ilegal dos Estados Unidos” no país. O chanceler da Venezuela, Yván Gil, falou em “ato de pirataria internacional”. “Não é a primeira vez que [Trump] admite (…) que seu objetivo é ficar com o petróleo venezuelano”, afirmou o chefe da diplomacia venezuelana.

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