‘Acredito que a justiça precisa ser feita’, diz Roy, ex-Menudo, sobre abusos que o ligam a caso Menendez

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Roy Rosselló, ex-Menudo, e os irmãos Lyle e Erik Menendez - Divulgação

Pegando carona no sucesso da série “Monstros – Irmãos Menendez: Assassinos dos Pais”, que conta a história verídica do assassinato do magnata da indústria fonográfica, José Menendez, na década de 1980, o ex-Menudo Roy Rosselló falou com exclusividade ao portal Splash UOL sobre sua relação com o caso.

Ele revelou detalhes sobre os abusos sexuais sofridos aos 13 anos, quando fazia parte da boy band Menudo. Segundo ele, entre seus algozes estavam o empresário do grupo, Edgardo Diaz, além de José Menendez, vice-presidente da gravadora RCA, responsável pelo contrato do grupo latino no final dos anos 1980.

“José Menendez sempre me olhava com malícia e desejo, e parecia que ele já sabia o que queria fazer comigo. Eu não sabia exatamente o que estava por vir, mas sentia que mais uma vez seria usado como um objeto, o que me deixou profundamente desconfortável e vulnerável.”

Abuso e assassinato

Roy Rosselló voltou a ser citado nos meios de comunicação nas últimas semanas por causa de suas acusações de abuso sexual contra José Menendez. A morte do empresário é documentada em “Monstros – Irmãos Menendez: Assassinos dos Pais”, sucesso da Netflix lançado no mês passado.

Menendez e sua esposa, Kitty, foram mortos pelos próprios filhos, Lyle e Erik, hoje com 56 e 53 anos. Os irmãos foram condenados à prisão perpétua em 1996, apesar de alegarem legítima defesa. Eles dizem terem sido vítimas de violência física, emocional e sexual, cometida pelo pai e com o conhecimento da mãe.

Durante a gravação de um outro documentário, “Menendez + Menudo: Boys Betrayed”, Roy Rosselló detalhou os crimes sexuais sofridos ainda criança, e alega ter sido estuprado por José Menendez. O músico, hoje missionário, entrou com um processo criminal em Los Angeles onde denuncia os seus abusadores. Esta petição, em paralelo, pode contribuir para um novo julgamento do caso Menendez. O documentário foi lançado em 2023, nos Estados Unidos.

“O momento em que eu decidi tornar público os abusos que sofri com Edgardo Díaz foi em 2011. Naquele ano, eu já estava extremamente sufocado, carregando esse peso por tanto tempo. Eu sabia que não podia mais manter aquele fardo em silêncio”. Díaz não foi localizado para comentar as acusações.

“Quando tudo aconteceu, eu era apenas uma criança, com 13 anos, completamente vulnerável e sem entender a magnitude da situação. Durante muitos anos eu guardei o silêncio, sem conseguir lidar com a violência emocional e física que sofri. Naquela época, eu não conseguia identificar com clareza quem eram os verdadeiros culpados, pois o medo e a confusão eram enormes.”

Aos 14 anos, o músico relata ter sido entregue como objeto ao empresário José Menendez. Roy relata que a violência sexual ocorreu na mesma semana em que o grupo porto-riquenho assinou o seu primeiro contrato com a gravadora RCA. Menendez era vice-presidente da empresa e cuidava dos artistas latinos. “No dia do estupro, Edgardo não se opôs quando José Menendez insistiu para que eu tomasse a taça de vinho, eu só tinha 14 anos. Menendez foi insistente, me pressionando até que eu bebesse tudo”.

O ex-Menudo chegou a narrar, no documentário de 2023, detalhes do dia seguinte ao estupro. “Quando falei para Edgardo que eu não parava de sangrar, ele não deu a menor atenção e normalizou a situação. Esse processo de compreensão foi muito mais longo do que eu imaginava. Envolveu uma jornada interna, tanto mental quanto espiritual, que durou décadas. Superar isso não foi fácil, mas foi necessário para que eu pudesse seguir em frente, me curar e encontrar paz interior”.

“Na minha opinião, eu fui ‘escolhido’ como vítima dos abusos porque, naquela época, eu era apenas uma criança ingênua, sem a maturidade necessária para perceber o que estava realmente acontecendo. Embora todos os meus colegas de banda tenham plena ciência dos abusos que ocorreram, as reações têm sido variadas. Alguns se pronunciaram publicamente e me apoiaram nesse processo. Outros, no entanto, preferiram não se posicionar. Escolheram guardar para si tudo o que aconteceu. Continuo firme na minha decisão de trazer a verdade à tona.”

O ex-Menudo só quebrou o silêncio recentemente e diz que o trabalho espiritual o ajudou a entender melhor que pode ajudar outras vítimas de pedofilia e crimes sexuais. “Demorei para denunciar os abusos porque envolve muito mais do que apenas tempo. É uma questão de aceitação, algo que foi extremamente difícil para mim por muitos anos. Levei décadas para chegar ao ponto de estar pronto para falar sobre isso. Foi um processo longo e doloroso, que exigiu força e fé para conseguir superar”.

Apesar de ressaltar os traumas deixados pelos abusos, Roy afirma que o perdão foi essencial para seguir em frente. “Hoje, não guardo mágoas. No entanto, acredito que a justiça precisa ser feita. A última vez que vi Edgardo foi muitos anos atrás, e desde então não houve nenhum outro encontro. Perdoar não significa esquecer o que aconteceu, mas é permitir que o coração se liberte da dor e confiar que a justiça divina prevalecerá”.

Hoje, o artista vive em Miami, nos EUA, mas diz que escolheu o Brasil como meu país do coração. “Me sinto verdadeiramente brasileiro. Adoro o clima, as cidades, as praias paradisíacas, e, claro, a gastronomia variada e deliciosa. O povo brasileiro é acolhedor, alegre, festeiro, e isso me dá mil razões para amar o Brasil. Além disso, nesta nova fase da minha carreira, estou trazendo um projeto inovador que será focado no público americano, hispano e europeu. Esse novo trabalho, incluindo música e videoclipe, será inteiramente produzido no Brasil, em parceria com meu amigo José Adolfo Medeiros, da Jam Produções, o que só reforça minha conexão com o país e minha gratidão por tudo que ele representa para mim”.

A reportagem tentou contato com Edgardo Díaz, mas ele não foi encontrado para comentar as acusações.

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