Acusado de assédio sexual, orientador é afastado de escola no DF

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Foto: Reprodução/ Street View

Por Jéssica Ribeiro

O orientador do Centro de Ensino Médio 9 (CEM9), em Ceilândia, Distrito Federal, acusado de cometer uma série de assédios dentro da instituição de ensino, foi afastado da escola, no dia 21/11, segundo a vice-diretora, Maria José. À reportagem, a gestora informou que a decisão foi tomada logo após alunas terem procurado a direção do colégio para denunciar o servidor. Pelo menos 20 meninas disseram ter sido vítimas do educador.

“O episódio de assédio envolvendo o orientador educacional chegou à direção na semana passada. Alunas e pais foram ouvidos e orientados a procurar os órgãos competentes. O servidor foi imediatamente afastado”, enfatizou a vice-diretora.

À reportagem, Maria José disse que foi ela quem conversou com as alunas durante a denúncia. Segundo a educadora, a escola não impediu as estudantes de falarem sobre o ocorrido. “Elas me disseram que alguns colegas estavam olhando feio para elas e, por isso, aconselhei a não falar perto dessas pessoas. Foi uma preocupação quanto ao que poderia acontecer nesse caso”, detalhou a mulher.

A gestora acrescentou que a direção se encontra à disposição de todos para “qualquer esclarecimento”. “Reforçamos que a escola está acompanhando o caso com a devida atenção. A preocupação maior e final é com as alunas, no intuito de as poupar de quaisquer outros problemas”, finalizou.

Entenda o caso

A Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), por meio da II Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (Deam II), investiga denuncias de assédios supostamente praticados pelo orientador do CEM 9. Segundo estudantes, o homem cometia abusos sexuais contra alunas dentro da instituição de ensino e por meio das redes sociais.

Uma aluna, que pediu para não ser identificada, contou à reportagem que o servidor “aproveitava” o momento em que as estudantes procuravam a secretaria para cometer os abusos disfarçados de “brincadeiras”. Segundo ela, o comportamento do orientador começava com frases sutis e, com o tempo, evoluía para comentários absolutamente constrangedores.

“Precisei procurar a coordenação para resolver um problema e ele estava lá. Conversamos e, na hora que virei para voltar para a minha sala, ele disse ‘nossa, você tá com um corpão. Está gostosa, com todo respeito’. Eu me senti muito desconfortável. Eu estava uniformizada, e na escola. Não esperava ouvir isso. O pior é que não parou por aí. Os comentários inconvenientes continuaram em minhas fotos e em mensagens nas redes sociais”, declarou a jovem.

Uma outra estudante ouvida contou que o professor fazia comentários “maliciosos” sobre o corpo dela, inclusive para outras pessoas. “Certo dia, uma amiga minha foi até a sala do orientador pegar uma calculadora e eu fiquei esperando a alguns metros da porta. Nessa hora, ele virou para essa minha colega é disse ‘nossa, como aquela sua amiga tem uma bunda grande e bonita’. Assustada, obviamente minha amiga me falou’”, detalhou a jovem.

“Eu fiquei irritada e passei a olhar para ele com muita indignação. Um tempo depois, ainda no mesmo dia, ele me chamou em sua sala, perguntou se minha amiga tinha falado algo e então soltou: ‘Falei porque, olha, eu nunca tinha visto algo assim antes’, se referindo às minhas nádegas. Me senti desrespeitada, coagida e com medo”, finalizou.

Outras denúncias

Uma terceira aluna, cansada do que estava acontecendo, juntou um grupo de estudantes que se sentiam vítimas do servidor e procurou a direção da escola. “Eu fiquei com medo de acontecer alguma coisa mais séria, por isso incentivei a denúncia. No dia em que procuramos a direção, ficamos uns 40 minutos relatando tudo o que tinha acontecido e o que testemunhamos”, disse a adolescente.

“Depois que detalhamos tudo, a nossa diretora perguntou porque demoramos para falar sobre o assunto. Respondemos, então, que tínhamos medo de não acreditarem na gente. Por fim, contamos o que aconteceu com outras meninas, a diretora as chamou e todas passaram a narrar o que o orientador havia feito. Foi aí que viram o tamanho do problema. Ao menos 20 meninas disseram ter passado pelo mesmo”, detalhou a jovem.

Apesar do que inicialmente declarou às estudantes, a escola, posteriormente, disse que o assunto não deveria mais ser comentado, pois, segundo eles, “fofocas deveriam ser evitadas”. A posição da instituição causou ainda mais tristeza e ansiedades nas alunas.

“É muito triste ver que nós mulheres não podemos confiar em ninguém para falar sobre assuntos como este. A escola deveria ser um lugar de exemplo. O pior é saber que a direção se preocupa mais em tentar deixar o colégio com o nome limpo do que ajudar as alunas”, desabafou uma estudante.

Uma quarta aluna, então, procurou a II Delegacia Especial da Mulher (Ceilândia), e registou boletim de ocorrência. “Apenas queremos justiça”, disse a estudante.

Ao portal, a mãe de um aluno, que também terá a identidade preservada, disse estar indignada e preocupada com o que aconteceu com as menores dentro da instituição de ensino. “É um absurdo. O caso precisa ser investigado, sim. Isso não pode passar em branco. Esse homem é um tirano. Certa vez precisei ir à escola após ele bater no peito do meu filho e quase rasgando a blusa de frio que ele usava para ver o uniforme”, disse a mulher.

“Isso é muito sério. Em breve minha filha será encaminhada ao CEM 9 e eu fico com medo de algo do tipo acontecer com ela também. É grave demais o que está acontecendo nesse colégio. Um absurdo que não pode ser normalizado”, declarou a mulher.

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