Afinal, como surgiu a nova variante Ômicron do coronavírus?
Desde que a variante Ômicron foi identificada e reconhecida pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como sendo de “preocupação”, o mundo tenta entender como o coronavírus conseguiu se modificar tantas vezes e se transformar em um versão muito diferente daquela que deu início à pandemia.
A princípio, a tese dos pesquisadores era de que a baixa vacinação no continente africano — cerca de 7,5% da população tomou pelo menos uma dose, e só 3,8% têm a imunização completa — teria criado um cenário ideal para que o coronavírus evoluísse e se transformasse. Porém, é difícil comprovar isso.
O sequenciamento genético mostra que a Ômicron não se desenvolveu a partir de nenhuma das variantes mais comuns, já que a nova cepa não tem mutações semelhantes à Alfa, Beta, Gama ou Delta.
Como nasceu a Ômicron?
Os cientistas têm três teorias para o surgimento do vírus. A primeira delas é que a variante tenha começado a se desenvolver em meados de 2020, em uma população pouco testada, e só agora acumulou mutações suficientes para se tornar mais transmissível. Os pesquisadores acreditam que a cepa precisou de bastante tempo para chegar à quantidade de mutações que apresenta hoje.
“Eu acredito que o vírus não se desenvolveu na África do Sul, onde há muito sequenciamento genético de variantes, mas em algum lugar no sul da África, durante a onda da Covid-19 que apareceu no inverno. Eram muitas infecções por bastante tempo, e para esse tipo de vírus evoluir é preciso uma grande pressão evolutiva”, afirmou o virologista Christian Drosten, da Charité University Hospital, na Alemanha, em entrevista à revista Science.
Há quem acredite, porém, que é muito difícil um vírus ficar tanto tempo escondido apenas entre um grupo de pessoas. “Não há lugar no mundo isolado o suficiente para que esse vírus ficasse circulando sem vazar por tanto tempo”, argumentou Andrew Rambaut, da Universidade de Edimburgo, na Escócia.
Imunossuprimidos
Rambaut afirma que a hipótese mais provável é que um paciente imunossuprimido tenha ficado com o vírus no corpo por vários meses — já foram relados casos, por exemplo, de uma mulher na África do Sul e outra no Brasil que permaneceram infectadas por cerca de seis meses. Durante esse tempo, a variante teria adquirido as mutações de uma vez só, enquanto se replicava no paciente.
Pessoas HIV positivo são imunossuprimidas, e a doença é de alta prevalência na África, o que poderia ajudar a criar o cenário perfeito para o surgimento de nova variante.
Essa teoria também não é unanimidade: alguns cientistas acreditam que, como acontece com o vírus influenza nessa situação, o coronavírus evoluiria apenas para sobreviver melhor dentro do corpo, não para ser transmitido. Mas outros lembram que o Sars-CoV-2 funciona de maneira diferente, e vive surpreendendo os cientistas com sua capacidade evolutiva.
A terceira opção seria que o coronavírus teria infectado um animal, se desenvolvido nele e voltado a contaminar um humano. Essa é a possibilidade menos provável, mas não pode ser descartada.
Os cientistas afirmam que ainda é muito cedo para bater o martelo e decidir exatamente de onde veio o vírus. O fato é que mais uma vez o Sars-CoV-2 surpreendeu o mundo.