Arqueólogos encontram raro tesouro medieval de 1300 anos na Inglaterra

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Pingentes de ouro e pedras preciosas do início da Idade Média, Londres, dezembro de 2022 — Foto: AP Photo/Kin Cheung

Por Jill Lawless, Associated Press

Especialistas do Museu de Arqueologia de Londres, na Inglaterra, descobriram um colar de ouro, pedras preciosas e diversos outros artefatos de pelo menos 1.300 anos na área em que está sendo construído um conjunto habitacional na cidade de Northampton, região central do país. Os historiadores disseram na terça-feira (6) que os achados estavam no túmulo de uma mulher poderosa que pode ter sido uma das primeiras líderes religiosas cristãs na Grã-Bretanha.

Embora apenas o esmalte dos dentes da mulher ainda existam, este é o enterro medieval mais significativo de uma mulher já encontrado no Reino Unido — e os cientistas esperam que o tesouro lance luz sobre a vida na Inglaterra do século 7, uma época em que o cristianismo lutava contra o paganismo pela lealdade das pessoas.

Os itens são “uma declaração definitiva de riqueza, bem como da fé cristã”, disse Lyn Blackmore, especialista sênior em achados do Museu de Arqueologia de Londres, que fez a descoberta. “Ela era extremamente devota, mas ela era uma princesa? Ela era uma freira? Ela era mais do que uma freira, uma abadessa? Não sabemos.”

Os artefatos foram nomeados de Tesouro Harpole por conta da aldeia onde foram encontrados, que fica a cerca de 96 quilômetros a noroeste de Londres. A descoberta foi feita em abril por arqueólogos que atuam com o promotor imobiliário que trabalha no local para a construção de novas casas.

Em um dos últimos dias da escavação de 10 semanas, o supervisor do local Levente-Bence Balázs notou algo brilhando na terra. Acabou sendo um pingente retangular de ouro com um motivo de cruz, incrustado com garnets.

Cruz encontrada no túmulo medieval — Foto: AP Photo/Kin Cheung
Cruz encontrada no túmulo medieval — Foto: AP Photo/Kin Cheung

Esta era a peça central de um colar que também continha pingentes feitos de moedas romanas de ouro e ovais de pedras semipreciosas. “Esses artefatos não veem a luz do dia há mais de 1.300 anos”, disse Balázs. “Ser a primeira pessoa a vê-lo – é simplesmente indescritível.”

Os pesquisadores dizem que o enterro ocorreu entre 630 e 670 d.C., o mesmo período de vários outros túmulos de mulheres de alto escalão que foram encontrados na Grã-Bretanha. Os enterros anteriores de alto status eram em sua maioria de homens, e especialistas dizem que a mudança pode refletir as mulheres ganhando poder e status na nova fé cristã da Inglaterra.

O Reino da Mércia, onde o Tesouro Harpole foi encontrado, se converteu ao cristianismo no século 7, e a mulher enterrada lá era uma crente, talvez uma líder religiosa. Uma grande e ornamentada cruz de prata foi colocada em seu corpo na sepultura. O objeto é adornado com pequenas, surpreendentemente bem preservadas imagens de cabeças humanas com olhos azuis de vidro, que podem representar os apóstolos de Cristo. Também foram encontrados potes de barro da França ou da Bélgica, contendo resíduos de um líquido desconhecido.

Em poucas décadas, à medida que o cristianismo se generalizou na Inglaterra, a prática de enterrar as pessoas com seus bens de luxo desapareceu. “Enterrar pessoas com muitos e muitos enfeites é uma noção pagã, mas isso obviamente está muito ligado à iconografia cristã, então é um período de mudanças bastante rápidas”, disse Simon Mortimer, da consultoria arqueológica RPS, que trabalhou no projeto.

Cabeça de prata medieval com olhos de vidro azul — Foto: AP Photo/Kin Cheung
Cabeça de prata medieval com olhos de vidro azul — Foto: AP Photo/Kin Cheung

As descobertas de Harpole ajudarão a preencher as lacunas de conhecimento sobre a era entre a saída dos ocupantes romanos da Grã-Bretanha no século 5 e a chegada dos invasores vikings quase 400 anos depois. Especialistas dizem que é uma das descobertas saxônicas mais significativas desde o enterro de um navio do século 7 encontrado na década de 1930 em Sutton Hoo, cerca de 160 quilômetros a leste.

Depois que os arqueólogos terminarem seu trabalho, o plano é que os itens sejam exibidos em um museu local.

Incorporadores imobiliários na Grã-Bretanha rotineiramente precisam consultar arqueólogos como parte de seu processo de planejamento, e Mortimer disse que a prática rendeu algumas descobertas importantes.

“Agora estamos olhando para lugares que normalmente nunca teríamos visto”, disse ele, e como resultado “estamos encontrando coisas genuinamente inesperadas”.

“A escala da riqueza vai mudar nossa visão do início do período medieval naquela área”, acrescentou. “O curso da história foi ligeiramente alterado por esta descoberta.”

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