As economias da América Latina mais preparadas para enfrentar 2022

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Alguns países têm conseguido se recuperar com mais rapidez dos efeitos da pandemia. Foto: Getty Images

O último ano foi, para uma parte da América Latina, de um “efeito rebote” na economia.

Como 2020 havia sido excepcionalmente duro para a economia global por conta da pandemia de covid-19, as taxas de crescimento vividas por alguns países em 2021 (não é o caso do Brasil, que viu seu PIB recuar no terceiro trimestre e vive cenário de recessão técnica) podem ser enganadoras.

A razão é que o aumento do Produto Interno Bruto (PIB, ou soma de tudo o que é produzido na economia) se mede em relação ao ano anterior, pode parecer, à primeira vista, que países em situação de crescimento deram um salto espetacular.

O problema é que a base de comparação — 2020 — é muito baixa, portanto esse crescimento é o tal “efeito rebote”.

De olho no ano que vem, as projeções de organismos internacionais dão uma fotografia um pouco mais “realista” de como os países latinos-americanos estão avançando (ou não).

O principal termômetro da economia de um país é seu PIB, mas há outros indicadores importantes a serem considerados.

A BBC News Mundo (serviço em espanhol da BBC) traz, a seguir, dados que levam em conta crescimento econômico, inflação e classificação de risco das economias do continente:

Crescimento econômico

Olhando-se exclusivamente o crescimento econômico, os países com as perspectivas de maior alta para o próximo ano são Panamá, República Dominicana, El Salvador e Peru, segundo as previsões mais recentes da Comissão Econômica para a América Latina (Cepal).

O gráfico a seguir mostra a lista de países incluídos nos estudos da Cepal:

Projeção de crescimento do PIB em 2022. América Latina (%). .
Projeção de crescimento do PIB em 2022. América Latina (%). .

As perspectivas, no entanto, podem variar dependendo “dos avanços desiguais nos processos de vacinação (contra o coronavírus) e a capacidade dos países em reverter os problemas estruturais por trás da baixa trajetória de crescimento que exibiam antes da pandemia”, diz o organismo em seu Estudo Econômico da América Latina e Caribe, publicado em outubro.

“Bem posicionados”

Entre as economias maiores da região, há algumas como Chile e Colômbia que estão “razoavelmente bem posicionadas para se recuperar em 2022, inclusive em meio à ansiedade (provocada pela) variante ômicron”, diz à BBC News Mundo Benjamin Gedan, vice-diretor do Programa América Latina do centro de estudos Wilson Center, em Washington.

Trabalhadores da mineração de cobre no Chile; rapidez na vacinação coloca o país na dianteira
Trabalhadores da mineração de cobre no Chile; rapidez na vacinação coloca o país na dianteira

Em comparação com outros países da região, o Chile está em boa forma, diz o pesquisador, porque a maior parte de sua população está completamente vacinada e mais da metade dos chilenos já receberam uma dose de reforço.

O Banco Central do país projeta um crescimento de cerca de 2% no ano que vem, embora a economia possa crescer mais por conta do aumento da demanda por sua produção de cobre e lítio, afirma Gedan.

No entanto, persistem dúvidas sobre como o país vai avançar durante o mandato do presidente eleito, Gabriel Boric, sob uma nova Constituição que deverá ser objeto de referendo no segundo semestre do ano que vem.

A Colômbia também tem boas perspectivas para 2022, diz o pesquisador, “apesar do nervosismo por suas eleições presidenciais” e do rescaldo dos protestos populares de 2021.

Panamá lidera projeções de crescimento para 2022
Panamá lidera projeções de crescimento para 2022

Entre os países menores, o Panamá lidera a lista de projeção de crescimento para o próximo ano, segundo a Cepal.

“Parece que (o Panamá) está se recuperando muito bem”, aponta Gedan.

A economia panamenha tende a se beneficiar do reaquecimento do comércio mundial, em um momento em que o governo local tem um ambicioso programa de infraestrutura.

Um potencial obstáculo, porém, é que a ômicron pode afetar a importante indústria turística panamenha.

Onda de inflação

Uma das dores de cabeça de partes do mundo e da América Latina é a escalada de inflação durante este ano.

Mesmo em lugares onde o crescimento econômico está voltando, o custo de vida tem subido, fazendo com que o salário não chegue até o fim do mês para muita gente.

O Brasil tem atualmente uma das taxas de inflação mais altas do continente: 10,74% nos últimos 12 meses, segundo a mensuração mais recente do IPCA, feita pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), em meio a uma combinação de alta no dólar, no preço dos combustíveis e no custo de alimentos.

Brasil tem uma das inflações mais altas da América Latina, embora em patamar muito inferior a Cuba, Argentina e Venezuela
Brasil tem uma das inflações mais altas da América Latina, embora em patamar muito inferior a Cuba, Argentina e Venezuela

A taxa de inflação brasileira, já em dois dígitos, só é superada no continente pelas taxas exorbitantes de Cuba (70% de inflação, segundo dados recentes do próprio governo), Argentina (51%) e Venezuela, que tem um problema crônico de hiperinflação.

A maioria dos países tem enfrentado a alta inflacionária com elevações nas taxas de juros (como fez o Banco Central brasileiro, que subiu a taxa Selic), o que por sua vez tende a inibir o crédito para empresas e consumidores.

A inflação tem sido impulsionada, em parte, pela alta no preço dos alimentos, escreveu Maximiliano Appendino, economista da Divisão de Estudos Regionais do Departamento de Hemisfério Ocidental do FMI, Fundo Monetário Internacional.

Há muita incerteza com relação ao preço de matérias-primas, aos gargalos internacionais nas cadeias de abastecimento e à alta nos custos de transporte marítimo, além do temor de que a ômicron ou outras variantes continuem a atrasar o fim da pandemia.

Por outro lado, acrescentou Appendino, a região precisa equilibrar uma perspectiva de inflação incerta com a geração de empregos, “ainda substancialmente abaixo dos níveis anteriores à pandemia”>

No Brasil, o desemprego atinge patamares de 12,1%, segundo o IBGE – são 12,9 milhões de pessoas desocupadas.

Classificação de risco

Agências de classificação de risco como Moody’s, Standard & Poor’s e Fitch avaliam a solvência de um país — sua capacidade de cumprir com suas obrigações financeiras.

É um indicador por vezes contestado, mas que serve para analisar a saúde de uma economia.

A Venezuela mantém a pior avaliação de risco creditício na América Latina
A Venezuela mantém a pior avaliação de risco creditício na América Latina

Em uma escala decrescente, a melhor classificação é Aaa e a mais baixa é C.

A lista abaixo ordena os países latino-americanos de mais bem avaliados para os de desempenho pior, segundo a agência Moody’s.

Baixo risco creditício

  • Chile (A1)

Risco de crédito moderado

  • México (Baa1)
  • Peru (Baa1)
  • Colômbia (Baa2)
  • Panamá (Baa2)
  • Uruguai (Baa2)

Qualidade de crédito questionável

  • Paraguai (Ba1)
  • Guatemala (Ba1)
  • Brasil (Ba2)
  • Rep. Dom. (Ba3)
  • Honduras (B1)
  • Costa Rica (B2)
  • Bolívia (B2)
  • Nicarágua (B3)
  • El Salvador (Caa1)
  • Equador (Caa3)
  • Argentina (Ca)
  • Cuba (Ca)
  • Venezuela (C)

Fonte: Moody’s (Dezembro de 2021).

Um difícil 2022

De modo geral, “as perspectivas de crescimento da América Latina para 2022 são sombrias”, comenta Gedan.

Não só pelos efeitos econômicos deixados pela covid-19, mas também porque a região já estava em mau estado quando entrou na pandemia.

Colômbia e Brasil vão às urnas em 2022
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O próximo ano vem com “uma preocupante ressaca de dívida e uma inflação em alta”, argumenta o pesquisador.

No âmbito político, os cortes em gastos públicos podem desencadear novos episódios de insatisfação social, como ocorreu, por exemplo, na Colômbia em abril de 2021 em resposta às propostas de reformas econômicas, argumenta Gedan.Nesse sentido, a incerteza política nas principais economias da América Latina “tem limitado os investimentos que a região precisa para se recuperar”, ele opina.

Essa incerteza vem dada por governos novos, como os de Pedro Castillo no Peru e Gabriel Boric no Chile, e pelas eleições presidenciais do ano que vem no Brasil e na Colômbia.

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