Brasil lança Aliança contra Fome no G20 com adesão de 82 países; Argentina entra de última hora

0
image (2)

Presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) discursa na cúpula do G20, no Rio de Janeiro - Ludovic Marin /AFP

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) lançou oficialmente a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza na segunda-feira (18), no evento de abertura da cúpula de chefes de Estado do G20, no Rio de Janeiro.

Ao todo, foram anunciados 148 membros fundadores, sendo 82 países, a União Africana, a União Europeia, 24 organizações internacionais, 9 instituições financeiras internacionais e 31 organizações filantrópicas e não governamentais.

A Argentina, que trava uma ofensiva contra as agendas da presidência brasileira no G20, não estava inicialmente na lista. No entanto, o governo brasileiro confirmou, já com a cúpula em andamento, que o país presidido pelo ultraliberal Javier Milei decidiu se juntar aos membros fundadores.

Questionado por jornalistas sobre o anúncio tardio da Argentina, o ministro Wellington Dias (Desenvolvimento Social) afirmou nesta segunda que Milei, em um primeiro momento, estava em um “processo de entendimento e de diálogo”.

O titular da pasta disse que o líder argentino manifestou, em sua fala na cúpula do G20, uma posição na defesa do neoliberalismo e de solução pelo mercado. “Propostas que a Argentina defende estão nos termos da Aliança, propostas como o caminho da qualificação, do emprego, do apoio ao empreendedorismo”, disse.

Dias afirmou também que o próprio Milei reconheceu o empobrecimento do país. A taxa de pobreza na Argentina disparou para 52,9% no atual governo, que impôs um programa de austeridade e anunciou milhares de demissões no setor público.

O governo Lula tem como meta que a Aliança articule programas sociais com potencial de alcançar 500 milhões de pessoas em países de baixa e média baixa renda até 2030. Internamente, a iniciativa é considerada o principal legado do mandato brasileiro ao fórum.

O processo de adesão dos países foi aberto em julho, quando a proposta foi apresentada pelo governo Lula na força-tarefa dedicada ao tema. Brasil e Bangladesh puxaram a fila de adesões, seguidos por diversas outras nações. Até a véspera da cúpula, a Aliança contava com a participação pública de 41 países, entre eles Canadá, Estados Unidos, Egito, Chile, Somália e Zâmbia.

Além de governos, também integram a lista de participantes organizações internacionais, bancos multilaterais e outras entidades. Também está aberta a possibilidade de um país endossar a iniciativa, sem necessariamente aderir a ela.

O objetivo do projeto idealizado pela presidência brasileira no G20 é dar uma dimensão internacional ao combate às desigualdades sociais –uma das três principais agendas de Lula no fórum que reúne as principais economias do mundo.

Um dos pilares da proposta é uma espécie de repositório de políticas de assistência social consideradas exitosas, ao qual países interessados poderão recorrer para desenvolver medidas semelhantes em seus territórios.

O Brasil se coloca em uma posição de liderança nesse processo, aproveitando a imagem internacional de Lula como líder comprometido com a redução das desigualdades e o histórico de políticas sociais em larga escala no país. O Bolsa Família, marca das administrações petistas, serve de vitrine para ações globais.

Além de ações de transferência de renda, a Aliança inclui planos como expansão de merendas escolares em países com fome e pobreza infantil endêmica, iniciativas em saúde materna e de primeira infância e programas de inclusão socioeconômica, com foco em mulheres.

Só no Brasil, 8,4 milhões de pessoas passaram fome entre 2021 e 2023, segundo estudo da FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura) e de outras agências da ONU.

De acordo com o Mapa da Fome da FAO, o Brasil possui 18,4% da população vivendo com insegurança alimentar severa ou moderada, na média de 2021 a 2023, em queda na comparação com a média trienal anterior, de 2020 a 2022. Nessa mesma métrica, a Argentina registra 36,1% da população em insegurança alimentar severa ou moderada, acima da média da América Latina e do Caribe, que marca 28,2% em 2023.

A Aliança Global Contra a Fome e Pobreza terá ainda uma governança própria, vinculada ao G20. Durante as negociações, o governo Lula se comprometeu a repassar R$ 50 milhões para o secretariado da iniciativa. O Brasil contará com contribuições adicionais de países como Noruega, Portugal e Espanha.

Para a estruturação de projetos, o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) se comprometeu a fornecer até US$ 25 bilhões (R$ 140 bilhões) em financiamento para apoiar políticas e programas conduzidos pelos países para acabar com a pobreza e a fome.

A Aliança realizará cúpulas regulares contra a fome e a pobreza e estabelecerá um conselho de campeões de alto nível para supervisionar seu trabalho. De acordo com a presidência brasileira do G20, a estrutura completa de governança deverá estar em operação até meados de 2025.

Segundo o chefe da assessoria especial de Assuntos Internacionais do Ministério de Desenvolvimento Especial, Renato Godinho, o plano contará com apoio de instâncias técnicas com escritórios em Brasília, Washington (EUA), Roma (Itália), Adis Abeba (Etiópia) e, possivelmente, Bangcoc (Tailândia).

LISTA DE MEMBROS FUNDADORES DA ALIANÇA CONTRA FOME

  1. Alemanha
  2. Angola
  3. Antígua e Barbuda
  4. África do Sul
  5. Arábia Saudita
  6. Argentina
  7. Armênia
  8. Austrália
  9. Bangladesh
  10. Benin
  11. Bolívia
  12. Brasil
  13. Burkina Fasso
  14. Burundi
  15. Camboja
  16. Chade
  17. Canadá
  18. Chile
  19. China
  20. Chipre
  21. Colômbia
  22. Dinamarca
  23. Egito
  24. Emirados Árabes Unidos
  25. Eslováquia
  26. Estados Unidos
  27. Espanha
  28. Etiópia
  29. Filipinas
  30. Finlândia
  31. França
  32. Guatemala
  33. Guiné
  34. Guiné-Bissau
  35. Guiné Equatorial
  36. Haiti
  37. Honduras
  38. Índia
  39. Indonésia
  40. Irlanda
  41. Itália
  42. Japão
  43. Jordânia
  44. Líbano
  45. Libéria
  46. Malta
  47. Malásia
  48. Mauritânia
  49. México
  50. Moçambique
  51. Mianmar
  52. Nigéria
  53. Noruega
  54. Países Baixos
  55. Palestina
  56. Paraguai
  57. Peru
  58. Polônia
  59. Portugal
  60. Quênia
  61. Reino Unido
  62. República da Coreia
  63. República Dominicana
  64. Ruanda
  65. Rússia
  66. São Tomé e Príncipe
  67. São Vicente e Granadinas
  68. Serra Leoa
  69. Singapura
  70. Somália
  71. Sudão
  72. Suíça
  73. Tadjiquistão
  74. Tanzânia
  75. Timor-Leste
  76. Togo
  77. Tunísia
  78. Turquia
  79. Ucrânia
  80. Uruguai
  81. Vietnã
  82. Zâmbia
  83. União Africana
  84. União Europeia

About Author

Compartilhar

Deixe um comentário...