Caso Alph: por estarem foragidos, acusados são impedidos de participar de audiência virtual

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Alph foi encontrado morto em 8 de fevereiro de 2020, em João Pessoa — Foto: Genoveva Souza/Arquivo pessoal

Selena Samara Gomes da Silva e Abraão Avelino da Fonseca, acusados de matar o estudante da UFPB Clayton Tomaz Souza, conhecido como Alph, foram impedidos de serem ouvidos na audiência de instrução que aconteceu nesta segunda-feira (30) de forma virtual. A decisão foi tomada a partir de uma manifestação do Ministério Público da Paraíba (MPPB), alegando que os dois estão foragidos e que é incabível que o interrogatório seja realizado, conforme posicionamento do Superior Tribunal de Justiça (STJ).

Foram ouvidas testemunhas de defesa e de acusação, e apresentadas as alegações finais da defesa e do MPPB. Agora, o caso aguarda a decisão se os acusados serão encaminhados para júri popular. Esta foi a continuação da audiência, promovida pela 1ª Vara do Tribunal de Júri da Capital. A primeira parte foi realizada em 17 de novembro de 2021, e na ocasião os acusados, que também estavam foragidos na época, marcaram presença de forma virtual.

A defesa de Selena pediu a absolvição dela. De acordo com a advogada Sarah Maciel, “a única coisa que tem em seu desfavor é a estação rádio-base, que deu que o celular dela estava nas proximidades de onde o corpo da vítima foi encontrado, mas que no momento oportuno vai ficar claro”.

Já a defesa de Abraão, feita pelo advogado Roberto Paiva de Mesquita Neto, diz que, a partir das testemunhas ouvidas, não há provas que liguem o acusado ao crime. Afirma também que a defesa vai recorrer sobre ele ter sido impedido de passar por interrogatório online. “A defesa entende como cerceamento de defesa e vai recorrer para que seu depoimento seja colhido”.

Por outro lado, o MPPB, representado pela promotora Artemise Leal, acredita que as evidências presentes no processo mostram a participação de Selena e Abraão no assassinato de Alph, incluindo sinais de celular próximos ao local onde o corpo da vítima foi encontrado, testemunhas que alegaram terem visto vítima e acusados nos dias que precederam o crime, dentre outras informações.

“Tanto as oitivas testemunhais como também a prova técnica pericial existentes nos autos dão conta da participação dos dois”, disse a promotora ao g1.

Relembre o caso

Painel 'Alph Presente' no Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes (CCHLA) da UFPB — Foto: Topázio Grabriel/Arquivo pessoal
Painel ‘Alph Presente’ no Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes (CCHLA) da UFPB — Foto: Topázio Grabriel/Arquivo pessoal

O estudante Clayton Tomaz Souza, conhecido com Alph, foi encontrado com marcas de tiros, em uma mata às margens de uma estrada em Gramame, em João Pessoa, no dia 8 de fevereiro de 2020.

Alph era pernambucano, da cidade de Arcoverde, e morava em João Pessoa desde 2014, onde estudava Filosofia na Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Estudante ativo, integrou o Centro Acadêmico do curso por três anos, assim como o Diretório Central dos Estudantes (DCE), o Conselho Superior Universitário (Consuni) e a comissão da revisão estatutária da UFPB (Estatuinte) pelo CCHLA (Centro de Ciências Humanas Letras e Artes).

Alph falava sobre perseguições constantes dentro da universidade e chegou a publicar nas redes sociais denúncias sobre a equipe de segurança da UFPB.

A investigação da polícia acerca da morte do estudante colheu depoimentos e fez a quebra do sigilo telefônico de um dos servidores da guarda da universidade que Alph alegava ter atritos.

A partir de um estudo com relação aos eventos de conexão gerados pelo aparelho celular do vigilante foi visto que, justamente no último dia que a vítima foi vista com vida pelas testemunhas, saindo de sua casa, na companhia de Selena e Abraão, entre 18h e 19h, o segurança se encontrava no Bairro das Indústrias, onde reside. Assim, foi concluído que ele não esteve na região onde a vítima foi vista pela última vez.

Dessa forma, a polícia concluiu que não foi encontrado nenhum indício de conexão que justificasse a continuidade do inquérito nessa linha. A partir de depoimentos, quebra de sigilos telefônicos e exames periciais, as investigações chegaram em Selena Samara Gomes da Silva e em Abraão Avelino da Fonseca.

Conforme a denúncia do Ministério Público, Selena e Abrão levaram a vítima até a comunidade do Aratú, em Mangabeira, local onde Abraão residia, efetuaram um disparo de arma de fogo em Clayton, ocasionando sua morte. Consumado o homicídio, colocaram o cadáver no porta-malas do carro de Selena e o abandonaram em um terreno, próximo à praia de Gramame.

Os dois acusados estão foragidos desde então. Segundo a defesa de ambos, a motivação da fuga é medo de ameaças.

 

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