Caso de Aline Giamogeschi, stalkeada e morta por desejo não correspondido, alerta para sinais de agressores

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Aline Cristina Giamogeschi, de 31 anos, foi encontrada morta dentro da própria casa em Registro, SP — Foto: Redes sociais

O caso de Aline Cristina Giamogeschi, a bancária de 31 anos estuprada e assassinada por um vizinho em Registro (SP), traz à tona a questão da violência contra as mulheres. Ao portal g1, duas delegadas e uma advogada especializada no tema oferecem orientações sobre como buscar ajuda e identificar sinais de alerta em situações de abuso.

Segundo as profissionais, em muitos casos, o agressor é uma pessoa próxima que não aceita a rejeição e reage de forma violenta.

Aline foi encontrada morta e sem roupas dentro da própria casa. Identificado apenas como William, o vizinho dela, de 22 anos, foi preso e indiciado por homicídio triplamente qualificado e estupro. O delegado Seccional da cidade, Marcelo Freitas, afirmou que ele estrangulou e estuprou a vítima, que não teria correspondido ao interesse dele.

William, de 22 anos, (à dir.) foi preso por matar e violentar a bancária Aline Cristina Giamogeschi, de 31 (à esq.) — Foto: Redes Sociais e Rinaldo Rori/TV Tribuna
William, de 22 anos, (à dir.) foi preso por matar e violentar a bancária Aline Cristina Giamogeschi, de 31 (à esq.) — Foto: Redes Sociais e Rinaldo Rori/TV Tribuna

delegada Deborah Lázaro, da Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) de Santos, explicou que investidas repetidas sem o consentimento da vítima podem configurar o crime de perseguição. Isso ocorre, por exemplo, quando o agressor insiste em perseguir a mulher, fazendo ligações constantes ou rondando a residência.

“Quando as mulheres perceberem que isso está se tornando um ciclo vicioso, o cara querendo investir mesmo sabendo que a mulher não está dando uma abertura, não deseja contato íntimo, ela deve se dirigir à delegacia da mulher para que a gente possa registrar uma ocorrência”, afirmou.

advogada e pesquisadora em direitos das mulheres, Isabela Laragnoit, destacou que o crime de perseguição está previsto no Código Penal, com pena de 6 meses a 2 anos de reclusão, além de multa. A pena pode ser aumentada em casos específicos, como quando o crime é praticado contra a mulher em razão de ser do sexo feminino.

Ideia de posse

Também delegada em Santos, Liliane Doretto explicou que a maioria dos casos de feminicídio acontece dentro de relações afetivas, mas há assassinatos contra a mulher, como o crime envolvendo a bancária, em que o agressor é um conhecido que não aceita a rejeição.

“O que esses casos têm em comum é a ideia de posse sobre a mulher e a recusa em respeitar sua autonomia”, afirmou.

Assim, mesmo fora de um relacionamento, segundo Liliane, se um homem insiste em uma aproximação, após a mulher deixar claro que não tem interesse, isso também pode ser configurado assédio ou importunação.

“Casos como o da bancária mostram que o feminicídio não acontece apenas dentro de relacionamentos, mas a raiz do problema é a mesma: um agressor que se sente no direito de controlar a mulher. Identificar os sinais e denunciar são medidas essenciais para prevenir a violência”, afirmou.

Dicas

A advogada Liliane destacou que o primeiro passo é registrar um boletim de ocorrência e reunir provas, como mensagens e testemunhas.

“Com base na Lei Maria da Penha, é possível solicitar uma medida protetiva mesmo sem provas físicas, já que o depoimento da vítima pode ser suficiente para que a Justiça determine o afastamento do agressor”, afirmou.

Isabel destacou que a concessão de medida protetiva independe do registro de BO. Então, mesmo que a vítima não o faça, ela pode requerer a aplicação das medidas protetivas em seu favor.

Confira as dicas:

  • Redobre a cautela, especialmente se morar sozinha
  • Reúna provas e o máximo de testemunhas possíveis
  • Vá até a delegacia caso se sinta perseguida pelo autor
  • Peça uma medida protetiva contra o autor caso necessário

Prisão

Identificado pela Polícia Civil apenas como William, o vizinho de Aline foi preso pelo crime no dia 25 de fevereiro de 2025, após os agentes analisarem as imagens de câmeras de monitoramento.

No vídeo, é possível ver o vizinho de bermuda e sem camisa observando a casa da vítima por volta das 5h do dia 22 de fevereiro. Às 5h12, ele caminhou até um terreno baldio para pular o muro dos fundos e entrar na residência de Aline.

O delegado explicou que o homem esperou no quintal da casa por aproximadamente uma hora até a vítima acordar. Quase três horas depois de ser visto observando o imóvel, as imagens mostram o homem saindo pelos fundos da residência após cometer o crime.

“[A espera dentro do imóvel] demonstra a frieza dele, que estava realmente determinado a praticar esse crime grave. Quando a vítima abriu a janela balcão [um tipo de porta de correr] do seu quarto, ele rapidamente adentrou, a surpreendeu, já a derrubou no solo e rapidamente a estrangulou e iniciou a prática da violência sexual”, afirmou Marcelo.

O delegado explicou que William é usuário de drogas e tem um perfil agressivo, sendo bastante conhecido no bairro. Ainda segundo Marcelo, o indiciado acompanhava o dia a dia de Aline e nutria um interesse não correspondido por ela.

Corpo encontrado

Ainda segundo o boletim de ocorrência, a morte de Aline foi descoberta após ela faltar na manicure. Em depoimento à Polícia Civil, uma amiga disse ter combinado de fazer as unhas junto com a vítima, mas ela não apareceu no horário agendado. Preocupada, a colega acionou a família.

Aline estava nua, com um vestido enrolado na cintura e uma roupa íntima na perna esquerda. Ainda de acordo com o documento, havia manchas no chão próximas ao corpo da bancária que sugerem que ela tenha sido estuprada.

Apesar da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo ter informado que a vítima estava em cima da própria cama, o BO apontou que Aline estava no chão e que a cama estava desalinhada e afastada da parede. Os policiais não constataram sinais evidentes de luta corporal.

Quem era a vítima?

A fisioterapeuta Tamara Lourenço, de 34 anos, que era uma amiga próxima da vítima, contou ter conhecido Aline em um programa que tem como objetivo proporcionar educação gratuita e de qualidade para crianças, jovens e adultos em regiões de vulnerabilidade socioeconômica.

De acordo com Tamara, elas também chegaram a trabalhar juntas em uma clínica oftalmológica da cidade. A fisioterapeuta ressaltou que Aline era extremamente inteligente e esforçada, então logo começou como estagiária em uma instituição bancária até se tornar gerente da unidade.

“Aline sempre foi extremamente inteligente, educada, simpática e esforçada”, afirmou a amiga. “Ela amava viajar, curtia a vida. Estava em uma fase muito boa da vida”, garantiu a fisioterapeuta.

Conforme relatado no boletim de ocorrência, Aline era querida por todos os amigos e funcionários da agência onde trabalhava. Os familiares não souberam informar aos policiais se a vítima mantinha algum relacionamento amoroso.

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