Com eleição e Constituição, Chile flerta com uma esquerda radical
O candidato à frente nas pesquisas para a presidência do país defende acabar com os planos de previdência privados e revisar acordos de livre comércio
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Foto: Reprodução
O Chile terá eventos políticos importantes nos próximos meses. O país realizará mudanças presidenciais em novembro, com um provável segundo turno em dezembro. Além disso, no primeiro semestre de 2022 haverá um referendo para que a população aprove ou não o texto de uma nova Constituição.
Nessas duas oportunidades, o Chile tende a se inclinar para um radical esquerdo. O candidato que está à frente nas pesquisas é Gabriel Boric (foto), que venceu as primárias da esquerda. Boric aparece com 25% das intenções de voto, oito pontos percentuais à frente do segundo colocado, Sebastián Sichel, de centro-direita.
“Boric propostas mudanças profundas em vários sentidos, com uma ideia de refundar o Chile. Se ele for eleito, faz um governo muito mais radical do que foi o de Michelle Bachelet, do Partido Socialista“, diz o sociólogo Aldo Mascareño, pesquisador do Centro de Estudos Públicos, do Chile, em referência à ex-presidente que governo por dois mandatos (2006-2010 e 2014-2018).
Boric quer acabar com os planos de previdência privados e revisar os acordos de livre comércio . Fala ainda em fixar o preço dos remédios e em proibir o lucro nos centros de formação técnica e profissional.
Para reduzir a desigualdade, propõe criar um imposto permanente e progressivo para as pessoas com mais patrimônio, além de fixar uma taxa que seria cobrada uma única vez dos mais ricos .
Se eleito, Boric assumirá o posto em março do ano que vem, às portas da discussão sobre a nova Constituição, que terá de estabelecer os parâmetros para a ação do Poder Executivo.
“O risco maior é o de que, caso Boric se torne o próximo presidente, a Convenção Constituinte, majoritariamente da esquerda, assuma que chegou a hora de propor mudanças nessa mesma linha, uma vez que o governo será de esquerda radical“, diz Mascareño .
Entre os temas que já foram propostos no desempenho da Convenção Constituinte está o fim da autonomia do Banco Central, que pode ter uma ação mais politizada.
Nos debates para definir o regulamento da Constituição, já apareceram ideias típicas da esquerda, como o estado plurinacional ou de poder originário. No quesito ética, os constituintes incluíram punições para o “negacionismo” , termo que inclui uma negação do genocídio cultural contra indígenas e afrodescendentes e das violações de direitos humanos nos protestos de 2019.
O que pode frear essas mudanças é o voto obrigatório para aprovar a nova Constituição. Com mais pessoas votando, uma população chilena deve ser melhor representada nessa consulta popular e pode buscar mais moderação. No plebiscito que aprovou a convocação de uma convenção para reescrever a Constituição, em 2020, o voto foi facultativo. O comparecimento foi de 49,2%.