Deputado torturado terá anistia negada por Bolsonaro revista por Lula

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ivan-valente1 PSOL SP

Por Evandro Éboli

Onze meses depois de a Comissão de Anistia do governo Jair Bolsonaro negar a condição de anistiado político ao hoje deputado federal Ivan Valente (PSol-SP) – preso e torturado pela ditadura militar – esse mesmo colegiado, com nova formação na gestão de Lula, irá rever a decisão e aprovar os direitos que cabem a esse antigo militante do Movimento pela Emancipação do Proletariado (MEP). Será no próximo dia 30, no Ministério de Direitos Humanos e Cidadania.

Durante a fase mais dura do regime militar, no início até os meados dos anos de 1970, Valente viveu na clandestinidade, ficou preso durante um ano e foi submetido à torturas como pau de arara, cadeira do dragão, espancamento e choque elétrico.

Nesse período, o deputado passou pelos piores centros de repressão, como o Doi-Codi e o Dops, no Rio. Ele se formou em engenharia em 1972, em São Paulo, mas não pôde ir à colação de grau e nem ao baile de formatura. Os agentes do regime foram lá atrás dele. Valente só pegou em 1978. Teve sua carreira de engenheiro toda comprometida pela perseguição política.

Além da prisão, foram cinco anos e meio de clandestinidade, sem ver a família, cujos pais tiveram a casa invadida várias vezes pelos repressores. Na prisão, fez greve de fome. Atuou junto aos movimentos estudantil e operário. Foi contra a luta armada e as guerrilhas para derrubar os militares.

Mesmo com todo esse histórico, a Comissão de Anistia negou existência de perseguição contra Ivan Valente. Seu caso foi julgado na mesma sessão que também rejeitou o pedido da ex-presidente Dilma Rousseff. Ambos por unanimidade.

Há sensíveis diferenças entre as formações da Comissão de Anistia de Bolsonaro para o de Lula. Na anterior, havia pelo menos quatro militares, entre os quais um general – Rocha Paiva – amigo e autor do prefácio de um livro do torturador Carlos Brilhante Ustra.

A nova composição é formada por juristas, familiares e também vítimas da ditadura. O caso de Valente não foi escolhido à toa. É simbólico que essa reparação seja feita logo. Na pauta, terá outros casos de perseguidos, cuja condição de saúde é delicada. Dilma estaria nesse grupo, mas a ex-presidente pediu para não ser incluída nesse momento.

Ivan Valente terá direito a dez minutos para se pronunciar no julgamento. Já sabe o que vai dizer. Não irá poupar seu detratores e nem integrantes do governo Bolsonaro, disse o deputado ao Blog do Noblat.

“Primeiro, vou falar do resultado daquele julgamento no governo Bolsonaro, cuja comissão era formada por pessoas ignóbeis, pulhas e delinquentes. Eu e a presidenta Dilam fomos escolhidos a dedo para aquela sessão. Eles montaram uma farsa. E vou defender o meu direito ao reconhecimento histórico de quem lutou contra a ditadura. No dia seguinte ao julgamento, Bolsonaro fez uma live atacando a mim e a Dilma. Foi o resultado que ele queria, mas o tempo dele acabou” – disse Ivan Valente.

Bolsonaro comemorou numa live a decisão da comissão. Sobre Dilma, disse que ela “perdeu” e “quem sabe lá na frente, quando algum esquerdista voltar ao poder, espero que não aconteça, você receba”.

A comissão deverá conceder ao deputado do PSol a condição de anistiado político, fazer um pedido formal de desculpas do Estado pela perseguição contra ele e também conceder uma reparação financeira pelo prejuízo que lhe causou por ter sido impedido de exercer sua profissão por conta da perseguição.

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