Entenda por que viagem de Nancy Pelosi a Taiwan eleva tensão entre EUA e China

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Nancy Pelosi. Foto: Reprodução

A visita de Nancy Pelosi, uma importante representante política americana, a Taiwan aumenta a tensão entre os EUA e a China: o governo de Pequim promete reagir e marcar posição para evitar qualquer avanço no contato entre Taiwan e outros países.

Os chineses não reconhecem a ilha de 24 milhões de habitantes como um Estado, e buscam meios de ampliar sua influência e até mesmo tomar o controle do território.

O governo chinês já tinha dito, antes mesmo de a viagem começar, que a ida de Nancy Pelosi, que é a presidente da Câmara dos Deputados dos Estados Unidos, era considerada uma “provocação” e prometeu “ações militares seletivas” de represália contra a ilha.

Abaixo, veja resumo em 5 tópicos dos impactos da visita e seu contexto:

  1. A China não reconhece Taiwan como um país independente. Pelo contrário, vê a ilha com 24 milhões de pessoas como parte do seu terrítório e afirma que a visita é um “sinal severamente errado às forças separatistas a favor da independência de Taiwan” .
  2. O governo chinês se opõe a qualquer contato das principais autoridades de Taiwan com outros países. Hoje, somente 13 países e o Vaticano reconhecem Taiwan como um país soberano.
  3. Os EUA têm uma política de “ambiguidade estratégica” quando o assunto é Taiwan: não reconhecem Taiwan como um Estado, mas mantêm relações com a ilha.
  4. Nancy Pelosi, do Partido Democrata, apresenta-se como crítica ao governo chinês, especialmente com relação aos direitos humanos. Ao chegar nesta terça na ilha disse que a visita da delegação do Congresso honrava o compromisso independente dos EUA em apoiar a “democracia vibrante”.
  5. Nancy é a principal autoridade americana a visitar Taiwan desde 1997. Mas a visita não é aprovada sem restrições entre os americanos. Em 21 de julho, Biden – que é do mesmo partido da presidente da Câmara dos Deputados – afirmou que os militares avaliavam que a visita não era “uma boa ideia”.

China não reconhece o Estado de Taiwan

China e Taiwan estão separados desde 1949, quando as tropas comunistas de Mao Tsé-Tung derrotaram os nacionalistas, que se refugiaram na ilha.

Os chineses consideram a ilha, que tem uma população de 24 milhões de habitantes, uma de suas províncias históricas, mas não controlam o território.

Um dia antes de iniciar a guerra na Ucrânia, o Ministério das Relações Exteriores da China disse que “Taiwan não é a Ucrânia e sempre foi uma parte inalienável da China”.

O governo chinês se opõe a qualquer contato entre os representantes de Taiwan e os de outros países. O governo da China aumentou a pressão militar e diplomática contra a ilha desde a eleição, em 2016, da presidente taiwanesa, Tsai Ing-wen, que é uma política a favor da independência de Taiwan.

Onde fica Taiwan?

Taiwan é um estado insular localizado próximo a costa leste da China. A ilha Formosa é a principal camada de terra do Estado.

O país tem um sistema eleitoral próprio com foco na democracia e em um poder dividido entre os representantes do Estado (presidente e Assembleia Nacional).

Taiwan é considerado um dos quatro tigres asiáticos.

Relação com os Estados Unidos

Os EUA têm uma política de ambiguidade estratégica para lidar com a situação. Há razões históricas para isso.

Após a revolução chinesa, no fim da década de 1940 os EUA reconheceram Taiwan como o governo chinês legítimo. Isso seguiu assim até o governo de Richard Nixon.

Em 1972, Nixon reatou as relações entre os EUA e os chineses. Oficialmente, os americanos passaram a reconhecer a soberania do governo da China no território (não há embaixada dos EUA em Taiwan, por exemplo), mas ao mesmo tempo mantêm relações com o governo de Taiwan — por exemplo, os americanos vendem armas para a ilha.

O governo dos EUA apoia amplamente a ilha e muitas vezes elogia seu status democrático.

Atualmente, Taiwan conta com amplo apoio do Congresso dos EUA, tanto que as ameaças de Pequim apenas levaram a pedidos para que Pelosi continuasse sua jornada.

Pelosi é a segunda pessoa na linha de sucessão de Joe Biden. Se ela visitar a ilha, será a figura mais importante da politica dos EUA no território desde 1997, quando Newt Gingrich visitou a região.

O que diz a China

Na segunda-feira, a China disse que está pronta para responder à visita da dignitária americana.

“O Exército de Libertação do Povo Chinês (EPL) está em alerta máximo e lançará uma série de ações militares seletivas para (…) defender a soberania nacional e a integridade territorial e frustrar a interferência externa e as tentativas separatistas de ‘independência de Taiwan'”, afirmou o porta-voz do Ministério da Defesa, em um comunicado.

Nesta terça-feira, após Pelosi desembarcar, o Ministério dos Negócios Estrangeiros da China disse que a vista é “uma violação severa do princípio de Uma Só China, infringe severamente a soberania e a integridade territorial da China, prejudica severamente a paz e a estabilidade no Estreito de Taiwan, e emite um sinal severamente errado às forças separatistas a favor da ‘independência de Taiwan'”.

O Ministério dos Negócios Estrangeiros da China afirmou ainda que a visita terá um “impacto severo” na base política das relações China-EUA.

O que disse Biden

O próprio Biden afirmou no mês passado que os militares dos EUA consideram que o deslocamento da presidente da Câmara dos Representantes “não foi uma boa ideia”.

A polêmica chega em um momento ruim, pois Biden planejava conversar com seu colega chinês, Xi Jinping, neste mês de agosto.

O presidente dos EUA, que já lidava com a invasão russa da Ucrânia e muitos problemas internos, não pretendia abrir uma nova frente de desgaste justamente quando as tensões em torno de Taiwan já estão extremamente altas.

Biden já havia irritado Pequim no final de maio, ao afirmar que os Estados Unidos interviriam militarmente para apoiar Taiwan, no caso de uma invasão da China comunista. Mais tarde, voltou atrás e usou o termo “ambiguidade estratégica”.

China se prepara para aumentar mandato de Xi Jinping

Xi Jinping, o presidente da China, se prepara para consolidar sua liderança em uma reunião do Partido Comunista prevista para o final do ano.

Segundo o jornal “New York Times”, o atual líder da China, Xi Jinping, já deixou claro que tem planos para incorporar Taiwan e que esse é o principal objetivo de seu regime.

Em junho, o ministro de Defesa, o general Wei Fenghe, disse que a China não iria vacilar em uma luta por Taiwan. “Se alguém quiser separar Taiwan, nós não vamos hesitar em lutar, não vamos titubear por causa do custo e vamos lutar até o fim”, disse Wei, em uma palestra em Singapura.

Os pontos de tensão entre Pequim e Washington se multiplicaram nos últimos anos: o Mar da China Meridional, influência crescente da China na região de Ásia-Pacífico, guerra na Ucrânia e também Taiwan.

Nesta terça, a Rússia expressou sua “solidariedade absoluta” com seu aliado chinês, em um gesto de convergência com a recusa de Pequim em condenar a invasão russa da Ucrânia.

A China se absteve este ano de condenar a invasão russa da Ucrânia, que enfrenta uma dura resistência apoiada pelas potências ocidentais.

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